domingo, 14 de dezembro de 2025

"Soneto místico para honrar São João da Cruz" - Por Barros Alves

                                                                             

Na noite escura a alma, em sede ardente,
Busca o Amado e assim  silenciosa
Nada possui, na solidão, silente...
Pois só no Nada a Luz se faz ditosa.

Por ásperos caminhos, mansamente,
Vai-se despindo a carne desejosa.
Morre o querer e nasce, incandescente,
O fogo puro em união gloriosa.

Ó verbo em dor, cantado no deserto!
Tua poesia é Cruz, é Claridade,
Sombra que guia ao Céu sempre mais perto.

Místico amor, de humana eternidade,
Ensina-nos que o Tudo está encoberto
No seio nu da  Obscuridade.


sábado, 13 de dezembro de 2025

"Em louvor de Santa Luzia" - Barros Alves

                                                                              

Na aurora antiga da fé que não vacila,
Luzia ergue o olhar, puro e constante,
Que guarda em si a chama fulgurante,
Onde a divina Luz mais rejubila.

Entre a história e a lenda o Amor cintila!
Sua fidelidade, firme e ardente,
Vence o tormento, o açoite, a dor pungente
E afirma a forte fé terna e tranqüila.

Diz a crença ancestral, a doce herança,
Que seus olhos, na oferta do martírio,
Tornaram-se luzeiros de esperança.

Luzia, Lúcia, Luz em sacrifício,
Protege nossa vista e a confiança,
E nos defende de todo malefício.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

"Sonetos para honrar Nossa Senhora de Guadalupe"

                                                                                 

Para o amigo e confrade hagiólogo José Luís Lira

"No Tepeyac"

Barros Alves

No Tepeyac, a luz do céu descia,
E o índio Diego a tanger a  lhama
Viu descendo do céu a Eterna Dama,
Mãe que consola a dor,  traz calmaria.

Seu manto, aurora azul que reluzia,
A ternura no olhar o amor inflama,
E o índio, humilde, em êxtase a proclama
A Mãe do Belo Amor, Mãe da Alegria!

“Filhinho meu”, diz Ela, em voz tão terna,
“Eu sou a Mãe que acolhe e que governa,
Porto de paz no chão da tua gente.”

No Tepeyac, em flor, a Luz que guia,
Surge na tilma a imagem que vigia
Da nossa América todo o continente.
 
 
"O Maltrapilho"

Barros Alves

No humilde manto azul todo  estrelado
Surge a Virgem da Luz, suave e pura.
A Rosa agreste, em divinal ternura,
Faz-se jardim por Ela iluminado.

Na colina sagrada, ajoelhado,
Juan Diego, semblante de candura,
A dor imensa do seu povo atura,
Povo sofrido e vilipendiado.

Mas, eis que ouve a vera voz da Amada,
Da Virgem Mãe de Deus, Imaculada,
Viva Esperança que consola o filho.

Ó Mãe que escuta o dolente clamor!
Dá-nos a fé e aquele  imenso Amor
Que deste a Juan Diego, o Maltrapilho.
 
 
OBS: Tepeyac é nome do monte, que atualmente pertence ao território da Cidade do México, onde, segundo a tradição, Nossa Senhora de Guadalupe apareceu ao índio Juan Diego, em 12 de dezembro de 1531. São Pio X declarou N. S. de Guadalupe Padroeira da América Latina em 1910. O índio Juan Diego foi elevado à glória dos altares em 31 de julho de 2002 pelo Papa São João Paulo II, durante cerimônia celebrada na Basílica de N. S. de Guadalupe, na Cidade do México.


 


segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

"Maria Imaculada, Aurora da Salvação" - Por Barros Alves

                                                                               

 
I
Ó Virgem santa, luz da redenção,
Que sobre as sombras ergues teu clarão,
Em ti cintila a graça mais sincera;
Desde o princípio foste a primavera
Que o Céu guardou com santa devoção.
Teu ser é lírio em pura elevação,
Olhar de paz que nunca desespera
E a humanidade toda a regenera.
Aurora imensa de eterna compaixão,
Mãe escolhida para a Encarnação.
 
II
Ó doce Esposa do divino Amor,
Em ti não vibra mágoa nem torpor,
Pois desde o seio foste iluminada.
Cheia de graça, rosa imaculada,
Em quem descansa o Altíssimo Senhor.
Do Céu colheste o etéreo resplendor
Que ao mundo oferta a aurora desejada.
E a tua voz, tão meiga e moderada,
Ecoa firme em pura obediência,
Selando o “fiat” da divina Essência.
 
III
Humilde Serva em santa retidão,
Que ao mensageiro abriste o coração
Sem hesitar na escolha soberana,
Tua doçura, alvíssima e humana
Firmou no mundo a luz da Salvação.
E o Filho Eterno, na concepção,
Tomou em ti morada não profana,
No teu silêncio a graça se engalana,
E o Verbo, eterno e pleno de ternura,
Veio encarnar-se na tua alma pura.
 
IV
Ó Mãe bendita, estrela da manhã,
Que à fé conduz na senda mais cristã.
Em ti começa o brilho redentor,
Pois Cristo nasce envolto em teu amor,
Que ao mundo entrega a paz que nunca engana.
Toda a bondade do teu ser emana,
E luz que vence a morte e o temor.
E quem te invoca com total teu fervor
Encontra abrigo em tua proteção,
Aurora excelsa da humana redenção!
 
V
Ó Mãe Imaculada, Mãe de Deus,
Igual ao Cristo somos filhos Teus,
Rogamos tua santa intercessão
Junto ao Teu Filho, pela salvação
De toda a humanidade pecadora,
Porque és, sim, a Mãe Co-redentora.
Maria Imaculada, a Escolhida,
Ó santa sem pecado concebida!
Rogai por mim, um pobre pecador,
Ó Mãe querida, Mãe do Belo Amor!

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

MOMBAÇA, HOMÉRICO POEMA - Por Barros Alves

                                                                                  

(Para Fernando Cruz, historiador)


No ardor do sol que abraça o chão crestado,
Se ergue Mombaça, a  altiva sertaneja.
A fronte erguida em face da peleja,
Berço de um povo forte e abençoado.

O filho desta terra é renovado
Pela bravura antiga que viceja
Na fé, na luta ingente e na dureza,
E molda firme um caráter  bem forjado.

Velha cidade! És canto de ternura,
Refúgio de coragem e esperança,
Chama que arde e que jamais se apaga.

A tua história de bravos me assegura
Que és tempestade e és também bonança,
Homérico poema é tua saga!
 
 
Fortaleza, 27 de novembro de 2025, nos 174 anos de fundação de Mombaça, meu berço natal. 


domingo, 23 de novembro de 2025

"A Igrejinha do Monte" - Por Barros Alves

                                                                                 


No alto monte vê-se a singela ermida,
Tranquila, esguia, em luz transfigurada,
Como uma prece ao céu a torre erguida,
Guardando a fé do povo, iluminada!
 
A única torre, graciosa, erguida,
Beija o infinito, Luz imaculada
A apontar Deus, que acolhe a alma ferida,
Na paz sutil da noite abençoada.
 
O vento entoa um canto em tom bendito,
Ecoa o sino em místico convite
Ao coração cansado e desvalido.
 
E a Igrejinha, farol do céu que eu fito,
Ao Canindé implora que recite
Um chamamento ao povo combalido.


"Um novo ciclo para as Letras, as Artes e a Memória de Canindé" - Por Barros Alves

                                                                              

Canindé, terra marcada pela fé, pela cultura popular e pela força simbólica de São Francisco das Chagas, assiste, neste momento, ao renascer de uma de suas mais significativas instituições culturais: a Academia Canindeense de Letras, Artes e Memória – ACLAME. Depois de um período de previdente pausa, motivada pela pandemia e agravada pela perda irreparável de alguns de seus líderes e fundadores, a entidade retorna vigorosa, renovada em seus quadros e em seu propósito. É mais do que uma retomada: é um ato de resistência cultural, de compromisso com a cidade e de afirmação do valor da memória. Também uma homenagem ao idealizador e um dos fundadores da Arcádia e primeiro presidente, o jornalista, radialista e escritor Tonico Marreiro.

Os "aclamados" passaram cerca de 7 anos inativos, mas agora novamente a postos, darão prosseguimento aos trabalhos em defesa da cultura da terra de São Francisco das Chagas; terra de nomes exponenciais da nossa literatura, como é o caso de Cruz Filho, segundo Príncipe dos Poetas Cearenses; e de Jósa Magalhães, médico, folclorista e escritor de nomeada. À reunião compareceram importantes nomes do cenário cultural de Canindé: Chico Walter, Ana Célia Gomes, Xico Luiz, Ana Claudia Crisóstomo, Chico Carloto, Sargento Freitas, Pedro Paulo Paulino, Jota Batista, Itami de Moraes, Augusto Cesar Magalhães, Graça Secundino, Vera Secundino, Celso Góis Almeida, Arlando Marques e Marlúcia Freitas. Sinto-me deveras honrado em integrar esse seleto grupo e de ter sido convidado para a reabertura do sodalício, que será dirigido pela professora, pesquisadora e escritora Ana Célia Gomes.

                                                                                 


 

A ACLAME sempre se destacou pela amplitude de seu ideal. Ela nasceu para celebrar as letras, acolher as artes em suas múltiplas expressões e preservar o vasto patrimônio histórico-cultural de um município singular. Canindé não é apenas uma cidade do interior cearense; é um dos grandes centros espirituais do Brasil, reconhecido internacionalmente como o segundo mais importante santuário franciscano, só atrás de Assis, na Itália. Aqui, a devoção a São Francisco das Chagas molda a identidade local, inspira a religiosidade nordestina e atrai, todos os anos, milhares de romeiros que carregam consigo histórias, esperanças e tradições.

Nesse contexto, a presença ativa de uma academia como a ACLAME é fundamental. Ela funciona como guardiã da memória e promotora da criação; como ponte entre o passado e o futuro; como espaço de circulação de saberes e valorização dos talentos locais. Sua atuação contribui para que a cultura não se torne apenas um ornamento, mas continue a ser um fundamento vivo da sociedade canindeense.

O retorno da ACLAME, agora com novos membros, amplia horizontes. O ingresso de novas vozes, novas sensibilidades e novas energias permite que a instituição se fortaleça e se adapte aos desafios contemporâneos sem perder o vínculo com seus princípios originais. É símbolo de continuidade, mas também de reinvenção. Cada cadeira ocupada representa a responsabilidade de manter acesa a chama da intelectualidade e da memória coletiva, tão necessárias num tempo em que o efêmero ameaça obscurecer o que é perene.

Saudar o ressurgimento da ACLAME é, portanto, saudar Canindé em sua totalidade: sua história, sua arte, sua religiosidade, sua vocação para acolher e preservar. É celebrar o retorno de um espaço que faz da palavra instrumento de construção, da arte veículo de identidade e da memória um patrimônio que pertence a todos.

Que este novo ciclo seja fecundo.

Que a ACLAME continue a honrar seus mestres e a inspirar seus novos membros.

E que Canindé, sob o olhar fraterno e  as bênçãos de São Francisco das Chagas, veja florescer, mais uma vez, a força criadora de seu povo.