Barros Alves
Para qualquer entidade, sobretudo no campo literário, constitui motivo de júbilo realizar a celebração de uma década de existência. E quando se trata de uma instituição que une dois universos aparentemente distintos, a medicina e a literatura, essa comemoração assume contornos ainda mais profundos. O lançamento da “Revista da ACEMES”, publicação literária da Academia Cearense de Médicos Escritores, em sua edição especial de 10 anos, é testemunho de que o saber humano não se limita às fronteiras do bisturi e da ciência, mas encontra na palavra escrita um espaço de reflexão e beleza; e até mesmo de cura, uma vez que desde os tempos aristotélicos já se falava na função catártica da tragédia, ou seja, a possibilidade de purgar emoções por intermédio da leitura ou do contato com a arte. Aliás, nos dias que correm esse conceito tem sido retomado na denominada biblioterapia, prática que utiliza a leitura como instrumento de autoconhecimento, apoio psicológico e cura simbólica.
Vejamos, portanto, a grande importância da nossa Academia Cearense de Médicos Escritores. Fundada com o propósito de valorizar a produção literária de médicos que, além de cuidar do corpo, dedicam-se à arte de compreender a alma humana, a Arcádia consolidou-se como um espaço de convivência entre ciência e cultura. Ao longo de sua trajetória, tornou-se guardiã de memórias, narrativas e reflexões que reafirmam a íntima ligação entre medicina e literatura. Nesta edição comemorativa, a revista presta homenagem aos patronos que inspiraram a criação da instituição. Cada biografia aqui publicada resgata não apenas a trajetória profissional desses nomes ilustres, mas também a sensibilidade humana que marcou sua atuação na medicina e nas letras. São vidas que continuam a iluminar o caminho dos atuais membros, lembrando-nos de que o médico, ao narrar, diagnostica a condição humana em sua essência.
A diversidade dos atuais membros da Academia é um reflexo da riqueza cultural que ela representa. Nesta edição, os leitores encontrarão perfis biográficos de cada acadêmico, revelando não apenas suas conquistas científicas e médicas, mas também a contribuição literária que acrescentam à coletividade. Esses homens e mulheres amantes da ciência médica, e que exercitam seu talento também na condição de poetas, romancistas, ensaístas e cronistas, enriquecem as páginas da Revista da ACEMES, em testemunho à pluralidade de estilos e vozes que compõem a identidade da instituição.
Os textos literários reunidos nesta edição são a prova viva de que a medicina e a literatura se completam. Enquanto uma busca a cura do corpo, a outra alcança o espírito. Escritos que traduzem a compaixão do médico diante da dor, textos que narram a luta contra o tempo, crônicas que revelam os bastidores da vida clínica, reflexões que questionam a condição humana. Cada página é um convite ao leitor para compreender a integralidade do ser.
Mais do que uma celebração do passado, esta edição é também um olhar para o futuro. O compromisso da Academia é continuar a incentivar médicos a escrever, registrar e compartilhar suas visões de mundo. Pois, se a ciência nos ensina a prolongar a vida, a literatura nos ensina a dar-lhe sentido. Assim, esta revista, vinda à lume no aniversário de dez anos da ACEMES, não é apenas um documento histórico, mas um monumento literário: a prova de que a palavra também cura.
Por final, em face do sentimento de afeto e admiração, mas sobretudo por um dever de justiça para com o presidente da ACEMES, presto homenagem ao ilustre médico cedrense, Dr. Luiz Gonzaga de Moura Júnior, meu conterrâneo por direito (sou cidadão honorário de Cedro-Ceará), escritor que por agora dirige o sodalício, confrade na Academia Cedrense de Letras, cuja trajetória se distingue não apenas pela excelência profissional, mas sobretudo pela nobreza de caráter. Seu espírito empreendedor tem sido a força propulsora que impulsiona a instituição rumo a novos horizontes, abrindo caminhos e consolidando projetos com visão e coragem. Sua gestão dinâmica revela um líder que alia sensibilidade à firmeza, conciliando a tradição com a inovação, e demonstrando que o verdadeiro guia é aquele que serve com generosidade e entusiasmo. Mas, acima de tudo, o que mais se destaca em sua atuação é o amor profundo à literatura; amor que inspira, que une e que transforma. É esse sentimento que o faz não apenas presidente, mas verdadeiro guardião e semeador de sonhos, cultivando, através das letras, a eternidade da palavra e a beleza da criação.
Sábias palavras.
ResponderExcluirA ciência é em essência a arte de entender a ciência como um todo no contexto a que ela se dedica. A arte literária só tem a ganhar quando mestres das ciências médicas dedicam, também, parte de seu tempo com o progresso das letras. Portanto motivo é de muito júbilo aliar a arte médica a arte literária com o objetivo de curar o corpo e a mente.