segunda-feira, 23 de junho de 2014

PATOLOGIA DIPLOMISTA




Barros Alves

O Brasil, em termos de conhecimentos acadêmicos, é ainda hoje um país que se caracteriza pelo bacharelismo. Todo o mundo almeja ser doutor, porque se o sujeito não sobraçar um “deproma” é um indivíduo de segunda categoria e olhe lá! Não importa se a pessoa é um especialista em determinada área de conhecimento; não importa se está apto a se submeter a qualquer teste naquilo que na prática é expert. A sabedoria empírica no Brasil é coisa sem mais valia e até os melhores teóricos, ainda que se desvelem para alcançar a Academia, poucos, pouquíssimos, se dão bem na empreitada. E quando se dão, é porque o mundo lá fora onde há mais discernimento, já identificou a capacidade desse alguém.
Em países ricos social e economicamente, como Japão, Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha etc, basta que o sujeito apresente grau de excelência naquilo que faz e o seu lugar está assegurado no cenário profissional e na Academia. Entre nós os bons, se não forem diplomados e chancelados por algum sindicato, são perseguidos, excluídos e, consequentemente, deixam de dar sua contribuição ao desenvolvimento do país na medida em que a nação tanto necessita.
O grande escritor e editor Monteiro Lobato, que não era diplomado em Literatura e nem em Administração de Empresas, ele próprio um desvelado amante dos livros, ao traduzir uma biografia de Henry Ford não perdeu a oportunidade de louvar-lhe a qualidade de self made man. Ao prefaciar “Minha Vida, Minha Obra”, 1926, autobiografia do extraordinário empreendedor norte-americano, Lobato exalta o autodidatismo do biografado e exagera: “Educou-se a si mesmo e vem disso grande parte de sua vitória. Quem entope a mioleira com a vida morta dos livros, torna-se inábil para bem compreender a vida viva das coisas humanas”. Tornado editor e escritor de fama, eis que Lobato reconsidera sua postura anterior. Felizmente é dele a assertiva irretorquível: “Um país se faz com homens e livros”. Leitura, muita leitura, não necessariamente feita na Academia.
Seria fastidioso enumerar os grandes nomes que no Brasil ascenderam em suas profissões, mas continuam a sofrer, se não perseguição, mas patrulhamento doentio com claro viés ideológico. Já pensou a contradição de muitos intelectuais da Academia que vivem a exigir diploma, ao olharem para um ex-presidente da República analfabeto, mas melhor do que todos eles no exercício da Política?! Terão eles coragem de pedir diploma de Ciência Política ao ex-chefe da nação? Dois bons exemplos de autodidatas em suas áreas são os jornalistas Alberto Dines e Augusto Nunes, dois ícones do jornalismo brasileiro, que lecionaram nos Estados Unidos a convite de universidades norte-americanas. No Brasil, passam ao largo da Academia. A propósito: apesar do Supremo Tribunal Federal ter acabado com esta idiotice da exigência de diploma para jornalistas, ainda há deputados e senadores que fazem o jogo da CUT, que deseja ver sempre mais um dinheirinho caindo na caixinha dos sindicatos.
A patologia sindicalista, uma doença que ataca o coração dos profissionais no Brasil, tem contribuído enormemente na criação de feudos que dão sustentação a um bando de parasitas incrustados no corpo canceroso de muitos sindicatos. Com raríssimas exceções, agora mais do que dantes, são os sindicatos um antro de preguiçosos sugando as tetas da legislação cada vez mais paternalista. Daí as pressões de várias categorias junto ao Congresso Nacional para a criação de mais guetos, mais currais profissionais, o que significa mais sinecuras sindicais. Em 2012 o Senador Paulo Paim apresentou um projeto de lei que previa a exigência do diploma de historiador para que alguém pudesse lecionar História. O Senador Cristóvam Buarque apressou-se em dar parecer favorável à matéria, mas diante do chiste que lhe fez o Senador José Sarney – “Você quer me impedir de aulas de História do Maranhão?” – Buarque voltou atrás. Há cerca de duas semanas a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou sorrateiramente projeto de lei da deputada Fátima Bezerra (PT-RN), o qual regulamenta a profissão de historiador. Ou seja, exigência de diploma para lecionar e publicar livros sobre o assunto.
No entender de gente obtusa como essa deputada petista – existe algo inteligente no mundo do petismo? – personalidades como Capistrano de Abreu, Octávio Tarquínio de Sousa, Alberto Rangel, Barbosa Lima Sobrinho, Boris Fausto, Laurentino Gomes, Lira Neto, entre muitos outros, jamais poderiam escrever uma linha sobre história do Brasil, pois seriam considerados fora da lei. É muita falta do que fazer de uma parlamentar que deveria, ao contrário, estimular o estudo e a pesquisa por parte de todos. Especialmente no tocante a nossa história ainda com tantas pérolas a serem garimpadas. Daqui a pouco vai ter parlamentar apresentando projeto de lei exigindo diploma para ser poeta. Ora, vão catar piolho em macaco!!! (barrosalvescoisaetal.blogspot.com – barrosalvespoeta@gmail.com)