sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

UM LIVRO, UMA EMOÇÃO E MUITOS ENSINAMENTOS

Tenho uma amiga chamada Cleonir Alexandre. Sou testemunha do desvelo que sempre dedicou à formação das filhas. Tive oportunidade de por algum tempo acompanhar a sua luta intimorata,  arrostando obstáculos para proporcionar o estudo das jovens. O tempo passa e o destino nos leva a trilhar sendas diversas. Um dia desses, porém, por artes do Divino, eis que Cleonir, sabedora de que sou um aficionado pela leitura, me presenteia um livro. Não um livro qualquer. Um livro que, ao recebê-lo, me deixou verdadeiramente emocionado. Trata-se de uma produção intelectual de uma das filhas da Cleonir, a Lidiany, que conheci pequenina e frágil, hoje uma bela psicóloga, que fez publicar seu primeiro livro: EDUCAÇÃO PARA TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO, uma aproximação da perspectiva dos gerentes de Unidades Básicas de Saúde de Fortaleza  acerca da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Trata-se de um alentado estudo, contribuição avançada para a compreensão dos mecanismos que determinam uma boa formação como o melhor caminho para a prática profissional dentro do Sistema de Saúde. O trabalho de Lidiany Alexandre Azevedo constitui uma tentativa bem sucedida de apontar caminhos para uma profícua integração entre a teoria e a práxis na área de saúde, que possibilita a quantos lerem não apenas uma ideia das necessidades dessa área, mas, sobretudo, aponta caminhos para transformar situações. Com este livro, Lidiany Azevedo não apenas me emocionou pelo afeto que lhe tenho, mas também me proporcionou muitos ensinamentos. Certamente outros livros da lavra do talento e da inteligência de Lidiany virão para nos deliciar com sua leitura e nos ensinar muito mais.

O NORDESTE DO DR. PEDRO SISNANDO

Hoje à tarde tive oportunidade de assistir a uma brilhante palestra do Dr. Pedro Sisnando Leite, sócio efetivo do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), entidade presidida com proficiência e descortino pelo Dr. Ednilo Gomes de Soárez. Reconhecidamente um dos maiores estudiosos das questões nordestinas, Dr. Pedro Sisnando, ocupou elevados cargos no Banco do Nordeste do Brasil e no governo do Ceará, notabilizando-se como pesquisador dedicado às causas da nossa Região. Foi sobre o Nordeste que ele discorreu com maestria, fazendo um resgate memorial dos trabalhos que realizou juntamente com outros colegas em prol do crescimento sócio-econômico e cultural da terra e povo nordestinos. Após o momentoso evento dos mais elucidativos, o conferencista distribuiu aos presentes duas obras de sua lavra, as quais traçam um registro histórico da luta travada em favor do Nordeste nas décadas de 1960 e 1970, quando plantaram o embrião de um processo desenvolvimentista para a Região, o qual esvaiu-se na irresponsabilidade político-administrativa de governos posteriores. Essa trajetória de estudos e pesquisas, de dedicação e empenho de uma equipe que resolveu pensar o Nordeste com grande desvelo e cientificidade, está contida nas obras ECONOMIA DO NORDESTE - PROPOSTAS DE POLÍTICAS NA DÉCADA DE SETENTA (em parceria com o Dr. José Nicácio de Oliveira) e DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA, INDUSTRIALIZAÇÃO E POBREZA RURAL NO NORDESTE - RESGATANDO A HISTÓRIA.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

OPOSIÇÃO NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO CEARÁ VOA EM CÉU DE BRIGADEIRO

A oposição hoje bateu forte no governo, sobretudo na megalomaníaca ideia de se construir um Aquário oceânico pra inglês ver no Ceará. O deputado Heitor Férrer puxou o bloco da pancadaria, que teve como mote a decisão da Secretaria de Turismo de suspender a obra durante 60 dias. Na verdade, a "Mansão pra Peixe", como apelidou o Heitor, não está sob hipótese nenhuma no rol de prioridades do povo cearense, que ainda por cima sofre mais uma vez as agruras de longa estiagem. Interessante é que a oposição está voando em céu de brigadeiro, porque o líder do governo, deputado Evandro Leitão, não tem aparecido em Plenário. Se não fosse a atuação decidida do vice-líder governista, deputado Júlio César Filho, tudo seria um passeio da oposição na crítica aos
desacertos que o governo atual herdou do anterior.

MENSAGEM DO GOVERNADOR BENEFICIA IRMÃO DO EX

O governador Camilo Santana enviou à Assembleia Legislativa do Ceará, Mensagem de número 7.719, de 6 de fevereiro, acompanhada de projeto que altera a lei 13.875, de 7 de fevereiro de 2007, a qual define da estrutura administrativa do Estado. A matéria introdutória da Mensagem é um arrazoado que não passa de explicar o óbvio ululante, qual seja o de que todo governo em seu começo trata logo de ajeitar-se a seu modo.
No caso em questão fica tudo como dantes no quartel de Abrantes, até porque o governo que se inicia é uma continuação do que saiu. Com um detalhezinho importante: a mensagem engorda sobremodo a Secretaria das Cidades, cujo titular é ninguém menos do que o senhor Ivo Gomes, irmão do ex-governador Cid Gomes. Entre outras alterações, a Secretaria das Cidades vai receber em sua estrutura o DETRAN, um dos órgão que mais arrecada no Estado. Mais atribuições, mais dinheiro e, consequentemente, mais poder. Confira:
http://www2.al.ce.gov.br/legislativo/tramit2015/7719.htm

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SEM OS DIREITOS HUMANOS, MAS COM O MEIO AMBIENTE

Em razão de preconceitos manifestamente religiosos que deram sustentação a uma campanha estúpida promovida por setores da esquerda, a deputada Dra. Silvana (PMDB), não assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Ceará. Todavia, foi-lhe confiada com justeza a presidência da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Semiárido. Ao assumir o cargo, deixou claro que não é especialista no assunto, mas que vai trabalhar com uma equipe das mais qualificadas, que entende bem do traçado. Ademais, a vice-presidência da Comissão coube ao deputado Roberto Mesquita, do Partido Verde, agremiação cuja filosofia de atuação assenta-se na defesa do meio ambiente sustentável.

CULTURA PARA O GOVERNO É BANDA DE FORRÓ

A Assembleia Legislativa continua sem compreender seu elevado desiderato de legislar para o povo. A Comissão de Orçamento derrubou emenda de autoria do deputado Heitor Férrer, apresentada a Mensagem do governo que destinava 34 milhões de recursos para o setor cultural. A propositura do deputado pedetista redistribuía de forma equilibrada estes recursos, inclusive beneficiando mais os órgãos que cuidam da memória cultural e da leitura e do livro. Heitor recorreu ao Plenário da Casa, mas foi derrotado. Prevaleceu a vontade do governo que quer os dinheiros públicos destinados a bandas de forró. E pior: bandas de forró de péssima qualidade.

CADÊ O LÍDER?

Os próprios colegas de Parlamento estão a estranhar a decisão do governo Camilo Santana de designar para líder do governo na Assembleia Legislativa do Ceará, o deputado pedetista Evandro Leitão, marinheiro de primeira viagem. Evandro tem sido absenteísta na Casa. A cadeira dele está sempre vazia. Para alguns deputados, Evandro seria uma trava na ação oposicionista do seu colega de partido, Heitor Férrer. Mas esta versão não se sustenta porque Heitor já pregou aviso: "Cumprirei rigorosamente meu mandato com a retilineidade com que tenho atuado na Casa. Mina cartilha é a Constituição e as reivindicações da sociedade". Outros há que entendem a nomeação de Evandro simplesmente como um ato de segurança e tranquilidade do governo em relação à bancada situacionista. Porém, nem tudo são flores. A oposição cresceu em quantidade e em qualidade e vai dar muitas dores de cabeça ao governo. Até porque este que aí está é uma continuação do outro. Nas virtudes e nas mazelas. E estas são em maior número do que aquelas. Pelo menos é assim que pensa a oposição. há ainda aqueles mais ferinos que dizem estar o deputado Evandro Leitão muito preocupado com o Ceará. Mas é o Ceará time de futebol.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

NEM JIHAD ISLÂMICA NEM CHARLIE HEBDO



Barros Alves
Poeta e jornalista

Os trágicos acontecimentos que têm ocorrido nos últimos dias em vários países do mundo, sobretudo o massacre contra jornalistas do Charlie Hebdo, na França, impõem uma reflexão profunda sobre as históricas relações entre Ocidente e Oriente, especialmente entre o Cristianismo e o Islamismo. A primeira constatação é que essas relações sempre foram marcadas por tensões, menos no respeitante ao diálogo interreligioso do que nos aspectos culturais dos povos envolvidos. Mas, entendemos que constitui grave erro de alguns analistas olvidarem a questão religiosa dos conflitos referidos, jungindo-os a apenas ambições políticas e de poder. Uma coisa, em definitivo, não exclui a outra. Ao contrário, imbricam-se indelevelmente. Começa-se pelo fato de que não há compartimentalizações no pensamento islâmico. O Islamismo, como nos lembra o professor Peter Demant,  é a um só tempo uma religião (din), com suas crenças, rituais, normas, consolações etc.; como também tem um profundo sentido comunitário (umma), cujo ‘modus vivendi’ está assentado firmemente nas tradições iniciadas com os ensinamentos do Profeta Maomé (sunna – daí, sunitas). Estes aspectos regularizam toda a vida do muçulmano: educação, comércio, governo, sistemas jurídicos e filosóficos, relações de gênero.
Em face das inúmeras agressões físicas e morais –sobretudo estas – ocorridas contra o mundo islâmico desde o seu nascimento no século VII d.C., persiste no Islã um arraigado senso de autodefesa. Para alguns, mania de perseguição. Isto faz com que os ensinamentos corânicos sejam interpretados de maneira absoluta, sem os relativismos que comandam a hermenêutica do livro sagrado dos cristãos. É mister lembrar que enquanto para o cristão Jesus Cristo é o Deus encarnado, guardadas as devidas proporções, para o muçulmano o Alcorão é uma espécie de “Deus enlivrado”. Na cabeça do muçulmano o Alcorão é a “ipsissima verba” de Deus, ou seja, é a própria palavra de Deus que revelou o longo Poema Corânico ao Profeta Maomé pela boca do Anjo Gabriel. De modo que essa mentalidade permeia toda a cultura do mundo islâmico, tanto fundamentalistas quanto outros ramos do Islã, os quais, aliás, são muitos.
Esta problemática sócio-histórico-teológica está limpidamente exposada no Alcorão: “Combatei nas sendas de Deus os que vos combatem; mas não sejais agressores ou transgressores. Deus não ama os agressores ou os transgressores. Matai-os em toda a parte onde os encontrardes e expulsai-os donde vos expulsaram. A subversão é pior do que o homicídio” (Alcorão, Sura 2. Versículos 186,187,190, 191). Considere-se que a “expulsão” e a “subversão” de que fala o texto corânico é de natureza não apenas física, mas sobretudo moral. A revelação do texto ocorreu quando o Profeta e seus seguidores foram expulsos de Meca e fugiram para Medina no ano 622, exatamente em face das visões extraordinárias do líder. Ao episódio deu-se o nome de Hégira.
O intelectual J.-M.  Abd el-Jalil, autor de uma História da Literatura Árabe, escreveu um ensaio sociológico intitulado “L’Islam et nous” (“O Islã e nós”), cuja leitura nos dá uma ideia concreta dessa tensão permanente entre o mundo islâmico e os infiéis, ou seja, todos aqueles que não professam a fé do Profeta: “O Islã continua dominado por uma atitude de luta...defensiva. Primeiro perseguido porque reclamava a exclusividade do culto (‘ibadah) para Allah, Deus ‘sem sócio’, ‘sem rival’, nem filhos, nem ‘filhas’, nem ‘esposas’, acabou constituindo-se em coletividade agressiva por ficar na defensiva: internamente, contra os ‘hipócritas’ e os judeus; externamente, contra os ‘associonistas’ - politeístas de Meca(...) O Islã não será unicamente uma religião: será também uma organização política e um mundo cultural, à parte; e tudo isso ao mesmo tempo. Esta concepção do papel do Islã deve estar sempre presente no espírito, para se evitar o equívoco por demais corrente de julgá-lo a partir de um ponto de vista ocidental, do Cristianismo. Também, por causa disso, o Islamismo permanece ainda a religião da massa, da coletividade, mais do que simplesmente coisa do indivíduo face a seu Deus.”
Se artistas como os do Charlie Hebdo achincalham e vilipendiam os símbolos cristãos e de outras religiões sem que lhes sejam impostas quaisquer normas, o mesmo não ocorre quando se trata do fundamentalismo islâmico. Disto eles sabiam e correram o risco propositadamente. Impõe-se lembrar que a sociedade que abriga o Charlie Hebdo e similares é, também ela, em certa medida, paradoxalmente, pelo menos em tese, uma sociedade fundamentalista na ilimitada valorização da liberdade. A liberdade não pode ser um valor absoluto, porque se assim admitirmos, os assassinos dos cartunistas teriam a liberdade de matar. Por outro lado, o discurso de liberdade de Imprensa se tornou falacioso  no momento em que o governo francês ordenou a prisão de um cartunista que fez humor com os mortos pelos terroristas islâmicos. Ademais disto, não se pode confundir gozação execrável e antirreligiosa com humor. O riso, uma das mais belas manifestações do espírito humano, não deve jamais descambar para a agressão aos sentimentos do outro, notadamente quando se trata do sentimento religioso que assoma do mais profundo da alma humana.