quarta-feira, 28 de setembro de 2022

UM LIVRO ESPECIAL PARA O PRESIDENTE DOS TRABALHADORES

                                                                                      


Barros Alves

Há não muito tempo em um país em que a população entediou-se com o modo de governar de um rei filósofo e poeta, que não dava bolas para a crítica e prezava tanto a liberdade de expressão quanto a literatura e a ciência, em detrimento de burocracias administrativas e querelas políticas, eis que esse povo “assistiu bestializado” (créditos para José Murilo de Carvalho) a substituição do reinado pela forma republicana de governo, resultado de um golpe de Estado liderado por militares e intelectuais positivistas. O rei não reagiu e a nação ruiu. Daquele tempo a esta parte a ré pública instalada nesse país só se prostituiu a cada ano. Mudou de trajes várias vezes, mas continuou ultrajada, o corpo naturalmente se depauperando, carcomido pelas mazelas econômicas e sociais, sem que nenhuma plástica lhe imprima o efeito desejado. Até porque as intervenções só consertam os danos superficialmente; a carcaça adoentada de males crônicos ou circunstanciais continua a mesma.

            Quero lhes contar uma história de um entre os muitos governantes desse “país caracterizado pela mestiçagem (Darcy Ribeiro), cuja promiscuidade racial dá o tom da formação cultural do seu povo. Mais uma vez o cansaço em face de governantes metidos a sabichões, bateu à porta dessa gente e eles resolveram inovar elegendo para tomar as rédeas do poder um dos seus pretensos assemelhados. O dito cujo, ladino e malaca, houvera há muito saído do chão de fábrica e galgara postos de representação no sindicato de sua categoria laborativa. Acenou para todos com a esperança de tão almejados dias melhores. Acabar com a pobreza foi promessa reiterada. Enfim, prometeu mundos e fundos. No final roubou até os fundos de pensão. Mas aí são outros quinhentos. O certo é que o homem sagrou-se vitorioso, um anjo caído do céu, um mágico da governabilidade, um mito! Minto. O mito é o outro.

            Vejamos, pois, como agia essa personagem que se tornou um ícone do sistema político e administrativo brasileiro, um exemplar melhorado de muitos dos seus antecessores. Menos discreto, é bem verdade. Mas, um exemplo de governante tão presente ao longo da história do Brasil. Conto-lhes um episódio do “modus faciendi” desse gestor endeusado por grande parte da “intelequitualidade” e da plebe do país. Esta história não é de ouvir dizer. Todos a conhecem, porque foi reafirmada em várias oportunidades por gente da intimidade do protagonista, o incensado governante.

Vamos aos fatos. Certa feita, dirigentes de uma poderosa empresa multinacional, sabedores de que o tal governante era homem preocupado com o povo pobre de sua nação, resolveu procurá-lo com vistas a contribuir na solução de moradias populares e outras obras de infra-estrutura necessárias ao desenvolvimento, a serem construídas principalmente em áreas subdesenvolvidas do país que, apesar de riquíssimo em recursos naturais e grande exportador de comodities, permanecia social e economicamente muito aquém de outras nações da mesma idade, como os Estados Unidos, por exemplo.

            Os CEOs da multinacional sabiam que o governante era iletrado, porém perspicaz, astucioso e esperto no sentido mais amplo que o termo possa comportar. Determinados a concluir o negócio, procuraram saber dos assessores próximos do governante qual o principal gosto dele. Foram informados que apesar de analfabeto, não dado, portanto, a leituras, o líder político gostava de demonstrar apreço pelos livros, atendendo orientação dos doutores universiOtários que haviam contribuído decisivamente para a ascensão dele ao poder e lhe prestavam permanente orientação. Souberam também, por intermédio dos assessores, que o chefe da nação tinha dois outros gostos, verdadeiros vícios. Um, a danada da cachaça. Por uma dose da branquinha seria capaz de atravessar o oceano a nado; o outro vício, de trato mais delicado, foi sussurrado muito cuidadosamente ao ouvido do chefe da delegação empresarial, com a recomendação de que, sem dúvida, era o gosto mais agradável ao paladar político do presidente amado pelos trabalhadores.  

Os dirigentes da grande empresa alegraram-se com as informações e marcaram audiência com o governante, para encetar as devidas negociações. Seria de bom alvitre oferecer um valioso presente a um homem tão especial, que saiu das classes menos favorecidas do seu país e alcançou o comando do Estado. Tiveram uma ideia levando em consideração a informação lhes foi sussurrada ao ouvido. Receando que uma oferta direta de algo vantajoso pudesse ferir a suscetibilidade de homem tão honesto às vistas do povo, e já sabedores de sua vaidade de pseudo-leitor, resolveram os líderes da multinacional mandar encadernar uma quantidade bastante expressiva de notas de dólares, dando-lhes um formato de volumoso livro em cuja capa lia-se em letras douradas: HISTÓRIA SINCERA DO BRASIL.  Durante a audiência concedida pelo presidente, os portadores do livro, depois de muitos salamaleques e melosidades verbais, dirigiram-se ao “homem mais honesto do mundo”:

- “Senhor presidente, sabedores de o quanto amais o vosso país e o vosso povo e o quanto adorais uma boa leitura, de logo, gratos pela atenção que ides dar à nossa empresa, queremos de bom grado presentear-vos com este livro que trata de fatos inéditos protagonizados por heróis de vossa pátria, assim como vós o sois”.

O presidente não demonstrou nenhuma emoção. Pegou o livro e começou a folheá-lo impassivelmente. Naquele momento os visitantes observaram que o presidente só tinha quatro dedos em uma das mãos e os seus olhos brilhavam como uma estrela matutina diante de obra tão rara. Então, sem demonstrar a mínima surpresa diante de livro com tão insólito recheio, o homem de nove dedos nas mãos respondeu:

- “Muito vos agradeço, mas urge que se faça um reparo. Como leitor e conhecedor da bibliografia da nossa história pátria, tenho certeza de que essa História Sincera do Brasil foi publicada em mais de um volume. E eu detesto obras incompletas”.

O chefe da embaixada de empresários junto ao presidente foi rápido na resposta:

- “Senhor presidente, não descuidamos desse detalhe. Os outros volumes estão no prelo e chegarão oportunamente às mãos de V. Exa.”

O presidente coçou a barba com a mão de quatro dedos, sorriu agradecido e encerrou a audiência:

- “Certamente uma nova edição de obra basilar para nossa historiografia, merece apêndices e adições relevantes.”

Ao saírem da audiência, um dos empresários comentou para seus companheiros:

- “Eis o que nos vai custar uma informação incompleta. Deveríamos ter nos assenhoreado com os assessores do espertalhão, o grau de sua bibliomania nesses assuntos que precedem negociações tão importantes para o povo.” Todos riram à bandeiras despregadas.

OBS: Texto foi adaptado de anedota cujo protagonista é o sultão Abdul-Hamid (1842/1917), o qual reinou na Turquia de 1876 a 1909, ano em que foi deposto.

  

 

A BATINA, UM SÍMBOLO ABANDONADO

                                                                                         

Barros Alves 

A história da humanidade é a história da imaginação, da metáfora, do símbolo.  Os símbolos contêm inexoravelmente um substrato espiritual. O “Penso, logo existo” de Descartes, está para além dos estados da razão e reside na imaginação criadora do ser humano, que ao longo do tempo alcançou a forma de ciência, no sentido iluminista do termo. Como lembra o teólogo e mitologista Jean Chevalier, os símbolos estão no centro, constituem o cerne da vida imaginativa. Revelam os segredos do inconsciente, conduzem às mais recônditas molas da ação, abrem o espírito para o desconhecido e o infinito. Não deve, destarte, ser confundido com a metáfora.  Todas as ciências do homem e todas as artes, bem como as técnicas que delas procedem, deparam-se com os símbolos em seu caminho, os quais interessam – observa Chevalier – às mais diversas disciplinas, tais como a História das Civilizações e das Religiões, a Lingüística, a Antropologia Cultural, a Crítica de Arte, a Psicologia, a Medicina etc. Entre as manifestações culturais intrinsecamente inerentes ao ser humano, assoma como a mais alta, larga e profunda, a religiosidade. Esta comporta, naturalmente e essencialmente, todos os símbolos que intentam representar o sagrado e o divino na imanência do cotidiano das pessoas.

Valem-se as religiões de uma infinidade de símbolos com o objetivo de banhar a humanidade com os eflúvios do espírito, das dimensões transcendentais. Basta abrir qualquer livro sagrado de qualquer religião para dele espargir-se sobre o leitor uma profusão de símbolos. A Bíblia, Livro Sagrado dos cristãos, está grávida de simbolismos a confirmar que “a expressão simbólica traduz o esforço do homem para decifrar e subjugar um destino que lhe escapa através das obscuridades que o rodeiam.” Afora a simbologia que se espraia a cada palavra de livros sagrados, a realidade religiosa do ser humano exige o símbolo como instrumento de diferenciação entre o profano e o sagrado. Daí que, entre tantos símbolos das religiões, a vestimenta sacerdotal constitui, de certa forma, condição sine qua non para o diferenciamento.

A Igreja Católica estabeleceu ao longo do tempo, com seguros fundamentos bíblicos, a batina como identificadora daqueles que foram escolhidos por Deus para o sagrado sacerdócio. A batina expressa as qualidades e virtudes daquele que a envergam. Significa amor, solidariedade, paz, firmeza na fé, confiança, piedade cristã. Todavia, após o malfadado Concílio Vaticano II, o             que se viu foi o abandono desse símbolo que representava também a Igreja Católica, pois onde estava um padre vestido de batina ali estava a Igreja. Nos dias hodiernos, ao que parece, os novos padres têm vergonha de vestir a batina e só o fazem no púlpito porque, enfim, é o jeito...

Os padres formados antes do Concílio Vaticano II tinham a batina em grande conta. Eu me lembro que jamais vi em mangas de camisa o Monsenhor Antônio Vieira Costa, vigário da cidade de Cedro durante mais de quarenta anos. A minha mãe, Tereza Maria Alves, uma Nossa Senhora do Sertão, era quem consertava as pesadas batinas de linho preto, que o prelado vestia permanentemente, a suar às bicas sob um calor de até trinta e cinco graus. Eram padres que tinham compromisso com a simbólica batina, porque era como se fosse uma extensão física do compromisso para com a sacralidade da vocação sacerdotal.

Na década dos anos 1980 conheci outro padre que também tinha grande apreço pela batina. O Monsenhor Luís Ximenes, padre e poeta, cuidou do rebanho católico em Santa Quitéria, também durante cerca de quarenta anos. Aficcionado por trens, a maioria dos poemas e sonetos que escreveu trata do tema dos caminhos de ferro e das máquinas ferroviárias. Monsenhor Ximenes escreveu inspirado soneto enaltecendo a vestimenta sacerdotal. Subordinado ao título “Minha Batina”, ei-lo:

 

Deus me proteja para que jamais

Eu tenha a atroz visão, desventurada,

De trocar por outros ideais

Minha batina santa e imaculada.

 

A devoção que te consagro é tanta,

Por ti o meu amor é tão profundo,

Que só por ti abandonei o mundo,

Minha batina imaculada e santa.

 

E peço a Jesus Cristo todo dia

E a minha Mãe do Céu, Virgem Maria,

Que me conserve sempre a vocação.

 

Para que seja pela vida inteira

A minha esposa e minha companheira,

Minha batina do meu coração!

           

            Afirma com propriedade o Monsenhor Deusdedit de Araújo que “a batina denuncia a crentes e a incrédulos os discípulos do Mestre.” Ao não usar mais a batina, os “discípulos do Mestre” estão misturados à promiscuidade profana da sociedade moderna com seus modismos “fashions”. Padrecos cantores de música profana, “showmen” de calcinha apertada é o que se tem visto a pregarem uma teologia vesga nos meios de comunicação de massa. Esses desaprenderam de usar a batina, a qual como dizia o Papa João XXIII, deveria ser usada com dignidade por toda a parte, porque “o hábito talar, nobre e distinto, é a imagem da túnica de Cristo e sinal resplandecente da veste interior da graça.”

            Por final, brindo os leitores com um belo soneto da lavra do bispo Dom Francisco de Aquino Correa, que foi membro da Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, versos igualmente intitulados “Minha Batina”:

           

Minha pobre batina, mal cerzida,

Tu vales mais que todos os amores,

Pois, negra embora, enches-me de flores

E de esperanças imortais da vida.

 

Com seus sorrisos escarnecedores

Zomba o mundo de ti, de ti duvida,

Porque não sabe a força que na lida

Tu me dás, do teu beijo aos resplendores.

 

Tu serenas do orgulho as brutas vagas,

E a mostrar-me do mundo a triste sina,

Toda a volúpia das paixões apagas.

 

Oh! Como o bravo envolto na bandeira,

Contigo hei de morrer, minha batina!

Ó minha heróica e santa companheira!

 

A DECADÊNCIA DO CATOLICISMO

                                                                                     

Barros Alves

Nestes tempos bicudos para a fé cristã, que se nos apresentam como um corolário de mazelas iniciadas, grosso modo, na Revolução Francesa, cuja mais eficiente invenção foi a guilhotina para cortar pescoços de cristãos e religiosos de outros credos; nestes tempos, pois, os símbolos que publicizam a fé católica estão sendo cada vez mais relegados a plano terciário, quando não jogados na lata de lixo. Porém, paradoxalmente, os hereges, circunstancial e oportunisticamente, continuam a se esconder atrás desses símbolos para, passando-se por anjos de luz, pregarem as doutrinas satânicas que estão a carcomer as entranhas da Igreja de Cristo. É nosso dever denunciá-los aos quatro ventos, conscientes de que apesar de todos os contratempos por que estamos a passar, as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja fundada por Jesus Cristo. Quem tiver ouvidos que ouça!

            O Concílio Vaticano II deu uma enorme contribuição para a hermenêutica desviante da trajetória do Cristianismo, abrindo brechas para interpretações e leituras que não se coadunam com a doutrina e o magistério da Igreja Católica e muito menos com o Evangelho. Eminentemente pastoral, já no seu desenvolvimento, em busca de um tal “aggiornamento”, como se a Igreja tivesse que se adaptar ao mundo e não ao contrário, o Concílio foi infestado por doutrinas estranhas que se apoderaram de mentes de altos prelados da Igreja, claramente desviados, os quais, posteriormente, cavalgando um processo deletério  do pensamento católico, têm procurado desconstruir,  tijolo por tijolo,  um edifício construído ao longo dos séculos por homens e mulheres que buscam o Reino de Deus. (“O meu Reino não é deste mundo”). Felizmente, o construtor-mor desse edifício pertence à Transcendência e não habita construção humana. O tal “aggiornamento” proposto por João XXIII esqueceu a admoestação do Apóstolo Paulo à Igreja de Cristo em Roma, inscrita na Carta que escreveu àquela comunidade: “Não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” (Rm. 12.2).

O resultado dessa postura conciliar foi o abandono da rígida e necessária formação eclesial e, consequentemente, da boa educação catequética dos cristãos, uma vez que padres mal formados deseducam. “Se um cego guia outro cego, ambos cairão no buraco” (Mateus 15.14). Abandono da cultura religiosa que nos legou gestuais respeitosos para com o sagrado, orações, riquíssimo hinário, prosa e poesia sacra da melhor qualidade; grandes catedrais e templos de arquitetura maravilhosa cujas torres apontavam o infinito e eram símbolo do sagrado em qualquer lugar do mundo; abandono dos seminários que guardavam segredos profundos do Amor de Deus pelos homens e hoje não passam de pousadas para qualquer um ou para qualquer tipo de evento; abandono do simbolismo pessoal de um daqueles que se decidiam pelo trabalho na seara da Igreja como religiosos ordenados. Ou seja, abandono de um imenso, grandioso, inestimável patrimônio material e imaterial que constitui um monumento extraordinário na História da humanidade. Enfim, esses padrecos que atuam impunemente dentro da Igreja, beneficiados por uma distorção do conceito de misericórdia, lideram um processo de deterioração completa que constitui de fato a “fumaça de Satanás” que entrou pelas frestas da Igreja, para lembrar palavras proféticas do Papa Paulo VI. Esse processo de ação demoníaca dentro da Igreja conta hoje com agentes de periculosidade extrema para a implosão dos valores cristãos. Chama-se Teologia da Libertação, a qual desde a década de 1950, sobretudo na América Latina, se apresenta com uma opção preferencial pelos pobres, como se Cristo tivesse derramado o seu precioso sangue apenas por uma parte da humanidade e não por todo aquele que nEle crê.

Essa ação distorcida e nefasta de uma teologia já considerada herética pela Igreja, mas que ainda age livremente devorando as entranhas do povo cristão, confunde com inexplicável ignorância ou propositadamente, a ação evangélica com a ação social de grupos que atuam na política e/ou na área econômica. Esquece ou mistura promiscuamente o Transcendente com o meramente temporal e, muitas vezes, com interesses escusos como aqueles que são caudatários de processos revolucionários, cujo exemplo mais visível e presente é o caso da Nicarágua sob ditadura comunista cruel, instalada naquele País com o apoio decisivo de setores da Igreja liderados pelo Padre Ernesto Cardenal, líder da Teologia da Libertação, e de membros da Igreja Batista. A desgraça se instalou naquele País ainda na década de 1980 e persiste até os dias de hoje com tolhimento de liberdades públicas, cassação de direitos civis e religiosos, assassinatos de padres e de pastores que optam por servir a Deus em vez de servir a homens, como manda o Evangelho.

Leigos desinformados, jornalistas mal formados, católicos desavisados, cartoriais, domingueiros, vão na onda de padres desviados como esse Júlio Lancelloti ou de um herege como Leonardo Boff, comunistas travestidos de religiosos cristãos. Colocam para debaixo do tapete toda a doutrina social da Igreja. De calça jeans e bandeira vermelha vão às manifestações sindicais e de partidos políticos que odeiam o Cristianismo, e logo depois vestem a batina para no púlpito pregar um falso “amor ao próximo” que passa pela violência da revolução marxista. No púlpito, com efeito, pregam mais com base nos ensinamentos do comunista light Antônio Gramsci do que nos valores evangélicos. Fazem a base da ação revolucionária conquistando a mente dos “fiéis” católicos nos púlpitos das Igrejas, cheias de pessoas que não sabem recitar a “Salve Rainha.”

Chamemos a atenção dessa leva de católicos sem discernimento, muitos dos quais nunca leram a Bíblia ou mesmo uma Encíclica Papal, as palavras de São João Paulo II, proferidas em homilia de ordenação sacerdotal, e, 2 de julho de 1980, quando de sua primeira visita ao Brasil, em 1980: “Fique bem claro que o serviço sacerdotal, se quer permanecer fiel a si mesmo, é um serviço excelente e essencialmente espiritual. Que isto seja hoje acentuado, contra as multiformes tendências a secularizar o serviço do padre, reduzindo-o a uma função meramente filantrópica. O seu serviço não é o do médico, do assistente social, do político ou do sindicalista. Em certos casos, talvez, o padre poderá prestar, em borá de maneira supletiva, estes serviços e, no passado, os prestou de forma egrégia. Mas, hoje eles são realizados adequadamente por outros membros da sociedade, enquanto que o nosso serviço se especifica sempre mais claramente como um serviço espiritual. É na área das almas, das suas relações com Deus, e de seu relacionamento interior com os seus semelhantes, que o sacerdote tem uma função essencial a desempenhar. É aqui que se deve realizar sua assistência aos homens do nosso tempo. Certamente, sempre que as circunstâncias o exijam, ele nãp se eximirá de prestar também uma assistência material, mediante as obras de caridade e a defesa da justiça. Mas, como tenho dito, isto é, em definitivo, um serviço secundário, que não deve jamais fazer perder de vista o serviço principal, que é o de ajudar as almas a descobrir o Pai, a abrirem-se para Ele e amá-Lo sobre todas as coisas.” (Cf. “A Palavra de João Paulo II no Brasil – discursos e homilias”, 2ª edição, Edições Paulinas, 1980, pág. 101).

Como dizia o advogado, historiador e pensador cristão Arruda Furtado, do alto de sua convicção de católico fiel à Igreja, mesmo discordando dos rumos adotados pelos hermeneutas do Concílio Vaticano II: “É no altar, no púlpito e no confessionário, que os sacerdotes poderão, implantando o Reino de Deus nas consciências, contribuir decisivamente para a solução dos problemas sociais e políticos da Nação.”  

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O ERRO DO HISTORIADOR TOYNBEE

                                                                                     

Barros Alves

A cada dia determina a experiência que o crítico tenha muito cuidado com os argumentos de autoridade, como se autoridades vez por outra não errassem o passo.  Arnold Joseph Toynbee foi um historiador britânico incensado pela Academia no século passado. Escreveu uma centena de livros, sendo sua obra principal contida em mais de uma dezena de volumes em que analisa o nascimento, ascensão e queda das civilizações. Em 1966 Toynbee esteve no Brasil e deu o ar da graça em Fortaleza, onde foi paparicado pela inteligentsia local e agraciado com o título de “Doutor Honoris Causa” pela Universidade Federal do Ceará, em solenidade presidida pelo fundador e primeiro reitor da UFC, Professor Antônio Martins Filho, com direito a regabofes com iguarias da culinária local.

Porém, o renomado mestre da historiografia não se deu ao trabalho de consultar boas fontes de informação. Se as consultou de duas uma: a informação lhe foi dada propositalmente equivocada ou ele não compreendeu a tradução. Isto digo apenas para argumentar, porque o registro errado que Toynbee faz em livro de sua autoria sobre a inauguração de Brasília é fruto de um desleixo digno da crítica mais acerba, posto que qualquer estudante de primeiro grau sabe o dado correto. Ademais, duvido que o próprio então ex-presidente Juscelino Kubitschek se negasse a dar a informação precisa ao historiador se ele se houvesse dignado entrar em contato com o criador de Brasília.

Vejamos: na obra “A Sociedade do Futuro”, primeira edição em inglês publicada em 1971, o historiador escreve o seguinte: “Visitei Brasília, a nova capital do Brasil. Seu planejamento foi feito por volta de 1960 e a construção iniciada um ou dois anos depois. Ela foi deliberadamente construída em um descampado etc...” (3ª edição brasileira, Zahar Editores, 1976, pág. 47). Como se vê, Toynbee errou feio na informação e o revisor/editor não se deu ao trabalho de corrigi-lo.  Com a palavra o construtor-mor de Brasília, o presidente Juscelino Kubitschek: “No início de 1957, o deserto do Planalto Central já estava convertido num imenso canteiro de obras.” (Cf. “Porque Construí Brasília”, de Juscelino Kubitschek, 2ª edição, Senado Federal, 2009, pág. 66). O autor conta o passo da construção da “cidade do futuro”, cujo traçado foi pensado pela equipe dos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, os quais no final das contas, receberam todos os louros do empreendimento, e mais este do que aquele.

Importante lembrar que a construção da nova capital que substituiria o Rio de Janeiro como sede do poder político e administrativo da República, foi iniciada em 1956. E de logo foi providenciado um pequeno edifício para servir de sede do governo quando das visitas do presidente Kubitscheck ao canteiro de obras. O Catetinho, numa referência ao Palácio do Catete, sede do governo no Rio, foi construído rapidamente. O presidente registra: “Esta casa, a primeira construção de Brasília, executada em 10 dias, de 22 a 31 de outubro de 1956, foi a residência provisória do presidente da República. Participaram desta obra pioneira: João Milton Prates, Oscar Niemeyer, César Prates, José Ferreira Chaves, Roberto Pena, Dilermando Reis, Emídio Rocha, Vivaldo Lírio, Osório Reis e Agostinho Montandon.” (Op. cit.  pág. 59). Brasília foi festivamente inaugurada em 21 de abril de 1960. Diante desse erro, pequeno é bem verdade, o que pensar das informações contidas na monumental obra de Toynbee. Confesso que doravante vou lê-lo com um pé atrás.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

JORGE AMADO, O ESQUERDISMO E O PT

                                                                              

Barros Alves

 

            Jorge Amado sempre foi um homem ligado à esquerda. Militou nas lides intelectuais e políticas como renhido stalinista. Ao recuperar a razão, lamentou os anos em que serviu de propagandista de um dos regimes mais espúrios que o mundo conheceu em todos os tempos, o comunismo soviético. Registremos, por pertinente, o que disse Jorge Amado, em entrevista concedida a Sandra Popovic, atualmente reprisada à saciedade nas mídias: “Eu fui um militante político durante muitos anos. Naquele tempo eu pensava pela cabeça dos outros. Eu achava, por exemplo, que esse papel era branco. Mas havia uma reunião de partido e, então, eles diziam: - ‘Esse papel não é branco, é amarelo.’ Eu, com um sentimento de disciplina partidária, saía pelo mundo afora dizendo que esse papel era amarelo, apesar de que eu achava que esse papel era branco. Hoje não... De há muito tempo para agora, - e por isso mesmo é que eu estou sendo tão patrulhado -,  eu digo sempre o que penso, não o que os outros pensam.”

Em outro momento, o grande romancista brasileiro faz uma espécie de “mea culpa” por ter embarcado na canoa furada do socialismo soviético, sob a liderança do ditador Joseph Stalin, um dos maiores assassinos de Estado da História da humanidade. “Éramos stalinistas. Para mim Stalin era meu pai. Era meu pai e minha mãe. Pra Zélia a mesma coisa. Levamos uma trajetória de anos, cruéis, para compreender que o pai dela era o mecânico Ernesto Gattai e que o meu pai era o coronel do cacau, João Amado. Quer dizer o partido (Comunista Brasileiro) me utilizou. A partir desse momento, o que o partido fez foi a tentativa de acabar com o escritor Jorge Amado para ter um militante Jorge Amado.” O romancista continua seu depoimento na referida entrevista que está no Youtube para quem quiser acessar: “No fim do ano de (19)55 eu soube que a polícia socialista torturava os presos políticos tão miseravelmente quanto a polícia de Hitler. O mundo caiu sobre minha cabeça. Já sem escrever há longo tempo, já descrente por inteiro das ideologias, do fundamental das ideologias – Stalin era vivo ainda – eu deixei o Partido Comunista.” O resultado dessa decisão acarretou-lhe uma tempestade de ataques por parte daqueles que o endeusavam enquanto ele agia como um cãozinho amestrado. “Fui atacado por muitos dos comunistas de uma forma muito violenta. O principal dirigente comunista da época, depois de Prestes, que era Arruda Câmara, disse que daí a seis meses eu não existiria como escritor e como intelectual. Felizmente ele se enganou.” E Jorge Amado encerra a entrevista no seu estilo mais puro: “A ideologia, você quer saber? É uma merda!”

Apesar de toda a experiência política, Jorge Amado ainda foi fisgado pela ingenuidade de acreditar na formação de um partido popular com DNA esquerdista, o PT. Sua decepção, porém, aflorou logo no início da formação do Partido dos Trabalhadores. Ele conta sua decepção no livro com notas autobiográficas publicado sob o título “Navegação de Cabotagem”, cuja primeira edição é um calhamaço de 638 páginas. Na página 32 aparece o velho espírito socialista do escritor (que desgraça!!!) e, felizmente, a decepção: “Ah! O bode perde o pêlo, mas não perde o ranço. Ao saber da fundação do PT bati palmas, veemente, tomado de entusiasmo, rasguei elogios nas colunas dos jornais, congratulei-me com Eduardo Suplici. A ilusão durou pouco, logo o PT virou frente de grupelhos e de siglas radicais, os mesmos subintelectuais dos pecês (acrescidos dos padres corajosos e sectários da teologia da libertação), sob o comando de ex-dirigentes stalinistas e maoístas que perderam toda e qualquer perspectiva política, já não acreditam em nada: são apenas aproveitadores. O PT ficou igual a qualquer dos antigos partidos operários, a qualquer dos partidos brasileiros, um saco de gatos.”

Ao se referir à campanha eleitoral de 1989, quando o metalúrgico então futuro maior ladrão dos cofres públicos foi candidato pela primeira vez à presidência da República, já escaldado, Jorge Amado faz um comentário que – pasmem! - continua extremamente atual (pág. 10 do citado livro): “O alarmante sectarismo do seu discurso eleitoral, ao que tudo indica, não é inerente à sua personalidade, decorre da própria campanha, influência talvez dos ideólogos do PCdoB, que a dirigem e orientam. Discurso de um atraso pasmoso. Como é possível imaginá-lo diante dos acontecimentos do Leste europeu, ao fim de uma época, quando ruem teorias e Estados, se desmorona o socialismo real, se assiste ao funeral da ditadura do proletariado? Discurso classista, aponta exatamente para a ditadura do proletariado, tão antigo e superado. Dá pena!” A diferença de 1989 para a campanha atual, o que torna o candidato Lula mais salafrário em face da História, é que, atualmente, esse discurso de dar pena sai da própria cabeça do candidato, o qual detém experiência suficiente na seara da político-partidária. Quer dizer, Lula continua um mau caráter em forma centuplicada. Que Deus, pela sua eterna misericórdia, possa livrar o povo brasileiro dessa desgraça fatal.

BREVE CRÔNICA MEMORIAL PARA XAVIER

                                                                             

Barros Alves

Eu não o conheci. Ele se chamava Xavier, disse-me um seu amigo. Poderia se chamar Pedro, João, Barnabé ou mesmo Jesus. Acho que seria um nome apropriado para esse Xavier, que tinha um sentido pleno de solidariedade e amor ao próximo.  Ao ouvir um breve relato sobre suas atitudes diante de um semelhante que passava por  dificuldades em determinada quadra da vida, me lembrei daquele Barnabé bíblico que é exaltado no hino sacro: “Era seu nome Barnabé, natural de Chipre,/ Também chamado de José das Consolações,/ Homem bom e piedoso, cheio de ternura é fé,/ Homem de Deus!”. Não sei se Xavier tinha essa fé evangélica que muitos cristãos pregam, mas não exercitam. Porque “esse povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”, como bem disse o Senhor.

Todavia, ao que me foi dado saber por intermédio de uma breve história contada com muita emoção por um dos beneficiários da ação verdadeiramente repleta de solidariedade cristã, protagonizada por Xavier, é que ele era um homem diferente daqueles que perambulam por esse mundo de meu Deus nessa sociedade pós-moderna e neopagã. Um ser humano fora da curva do lugar comum da convivência em sociedade.  Diferente, inclusive, daqueles que militam no mundo em que ele vivia e agia, o mundo dos negócios. Em vez do axioma “negócio é negócio, amizade à parte”, imagino que Xavier, que devia ter prenome de Francisco, pensava bondosamente às avessas: “Amizade é amizade, negócios à parte.” Como São Francisco Xavier, o missionário que evangelizou o povo chinês, povo frio, pragmático, negocista.  Xavier prezava as amizades antes do lucro fácil. Sendo ele um “self made man” – trabalhara até como flanelinha – com certeza não teve tempo para estudos ou veleidades poéticas. Mas, carregava na alma e no coração a moral da fábula de Esopo versificada por La Fontaine: “Amigo, palavra cara,/ Feliz quem pode achar um./ O nome é o mais comum,/  Porém, a coisa é a mais rara.”

Esse Xavier não era um homem, era um anjo. Pelo menos para a pessoa que me contou o breve relato que inspirou essa crônica memorial, também um preito de gratidão. E, sobretudo, de admiração por esse anjo da guarda, que passou por este vale de lágrimas deixando um rastro de luz a iluminar todos aqueles que com ele conviveram. Para nós, infelizmente o vírus Covid-19 pôs um final à vida de Xavier. Porém, não tenho a menor dúvida que ele bateu asas para junto do Pai Celestial. O lugar de sua morada é o Paraíso. Não entre pobres de espírito, egoístas e ingratos iguais a nós.

DÁ DÓ - Trovas para um ex-presidiário

                                                                                      

Quando vejo um professor
Em samba de nota só
A defender malfeitor
É coisa que me dá dó.

Eu, quando vejo um artista,
Desses que gostam do pó,
A defender esquerdista,
É coisa que me dá dó.

Eu, quando vejo uns aedos,
Com a cara de bocó
Defendendo o 9 dedos,
É coisa que me dá dó.

Quando vejo um esculápio
Do tempo da minha avó
Defendendo o Lularápio
É coisa que me dá dó.

Pior é ver um prelado
Que reza missa de "có"
Defender um "cãodenado".
É coisa que me dá dó.

Quando vejo um literato
Dizendo ser o melhor
E que vai votar no RATO,
É coisa que me dá dó.

Quando vejo um figurão
Com jeito de faraó,
Defendendo LULADRÃO,
É coisa que me dá dó.

Essa esquerdalha nula
Vive a dar o fiofó.
Eles que votem no Lula!
É coisa que me dá dó.

Disse com convicção
Um cabra do Cabrobó:
- Lula é o maior ladrão!!!
Eis coisa pra me dá dó.

Em campanha de eleição
Lula foi a um forró.
Gritaram: LULA LADRÃO!!!
Ô coisa que me dá dó!

Ver ladrão engravatado
Vestido de paletó
Defender um condenado
É coisa que me dá dó.

Há muita gente no mundo
Que faz tudo no mocó...
Esses votam em vagabundo.
É coisa que me dá dó.

Lularápio, um estrupício,

Anda ao léu, falando só,

Ninguém vai ao seu comício.

É coisa que me dá dó

Quem tem bom caráter nato
Na cabeça dá um nó.
Ver um ladrão candidato
É coisa que me dá dó.