quarta-feira, 28 de setembro de 2022

A DECADÊNCIA DO CATOLICISMO

                                                                                     

Barros Alves

Nestes tempos bicudos para a fé cristã, que se nos apresentam como um corolário de mazelas iniciadas, grosso modo, na Revolução Francesa, cuja mais eficiente invenção foi a guilhotina para cortar pescoços de cristãos e religiosos de outros credos; nestes tempos, pois, os símbolos que publicizam a fé católica estão sendo cada vez mais relegados a plano terciário, quando não jogados na lata de lixo. Porém, paradoxalmente, os hereges, circunstancial e oportunisticamente, continuam a se esconder atrás desses símbolos para, passando-se por anjos de luz, pregarem as doutrinas satânicas que estão a carcomer as entranhas da Igreja de Cristo. É nosso dever denunciá-los aos quatro ventos, conscientes de que apesar de todos os contratempos por que estamos a passar, as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja fundada por Jesus Cristo. Quem tiver ouvidos que ouça!

            O Concílio Vaticano II deu uma enorme contribuição para a hermenêutica desviante da trajetória do Cristianismo, abrindo brechas para interpretações e leituras que não se coadunam com a doutrina e o magistério da Igreja Católica e muito menos com o Evangelho. Eminentemente pastoral, já no seu desenvolvimento, em busca de um tal “aggiornamento”, como se a Igreja tivesse que se adaptar ao mundo e não ao contrário, o Concílio foi infestado por doutrinas estranhas que se apoderaram de mentes de altos prelados da Igreja, claramente desviados, os quais, posteriormente, cavalgando um processo deletério  do pensamento católico, têm procurado desconstruir,  tijolo por tijolo,  um edifício construído ao longo dos séculos por homens e mulheres que buscam o Reino de Deus. (“O meu Reino não é deste mundo”). Felizmente, o construtor-mor desse edifício pertence à Transcendência e não habita construção humana. O tal “aggiornamento” proposto por João XXIII esqueceu a admoestação do Apóstolo Paulo à Igreja de Cristo em Roma, inscrita na Carta que escreveu àquela comunidade: “Não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” (Rm. 12.2).

O resultado dessa postura conciliar foi o abandono da rígida e necessária formação eclesial e, consequentemente, da boa educação catequética dos cristãos, uma vez que padres mal formados deseducam. “Se um cego guia outro cego, ambos cairão no buraco” (Mateus 15.14). Abandono da cultura religiosa que nos legou gestuais respeitosos para com o sagrado, orações, riquíssimo hinário, prosa e poesia sacra da melhor qualidade; grandes catedrais e templos de arquitetura maravilhosa cujas torres apontavam o infinito e eram símbolo do sagrado em qualquer lugar do mundo; abandono dos seminários que guardavam segredos profundos do Amor de Deus pelos homens e hoje não passam de pousadas para qualquer um ou para qualquer tipo de evento; abandono do simbolismo pessoal de um daqueles que se decidiam pelo trabalho na seara da Igreja como religiosos ordenados. Ou seja, abandono de um imenso, grandioso, inestimável patrimônio material e imaterial que constitui um monumento extraordinário na História da humanidade. Enfim, esses padrecos que atuam impunemente dentro da Igreja, beneficiados por uma distorção do conceito de misericórdia, lideram um processo de deterioração completa que constitui de fato a “fumaça de Satanás” que entrou pelas frestas da Igreja, para lembrar palavras proféticas do Papa Paulo VI. Esse processo de ação demoníaca dentro da Igreja conta hoje com agentes de periculosidade extrema para a implosão dos valores cristãos. Chama-se Teologia da Libertação, a qual desde a década de 1950, sobretudo na América Latina, se apresenta com uma opção preferencial pelos pobres, como se Cristo tivesse derramado o seu precioso sangue apenas por uma parte da humanidade e não por todo aquele que nEle crê.

Essa ação distorcida e nefasta de uma teologia já considerada herética pela Igreja, mas que ainda age livremente devorando as entranhas do povo cristão, confunde com inexplicável ignorância ou propositadamente, a ação evangélica com a ação social de grupos que atuam na política e/ou na área econômica. Esquece ou mistura promiscuamente o Transcendente com o meramente temporal e, muitas vezes, com interesses escusos como aqueles que são caudatários de processos revolucionários, cujo exemplo mais visível e presente é o caso da Nicarágua sob ditadura comunista cruel, instalada naquele País com o apoio decisivo de setores da Igreja liderados pelo Padre Ernesto Cardenal, líder da Teologia da Libertação, e de membros da Igreja Batista. A desgraça se instalou naquele País ainda na década de 1980 e persiste até os dias de hoje com tolhimento de liberdades públicas, cassação de direitos civis e religiosos, assassinatos de padres e de pastores que optam por servir a Deus em vez de servir a homens, como manda o Evangelho.

Leigos desinformados, jornalistas mal formados, católicos desavisados, cartoriais, domingueiros, vão na onda de padres desviados como esse Júlio Lancelloti ou de um herege como Leonardo Boff, comunistas travestidos de religiosos cristãos. Colocam para debaixo do tapete toda a doutrina social da Igreja. De calça jeans e bandeira vermelha vão às manifestações sindicais e de partidos políticos que odeiam o Cristianismo, e logo depois vestem a batina para no púlpito pregar um falso “amor ao próximo” que passa pela violência da revolução marxista. No púlpito, com efeito, pregam mais com base nos ensinamentos do comunista light Antônio Gramsci do que nos valores evangélicos. Fazem a base da ação revolucionária conquistando a mente dos “fiéis” católicos nos púlpitos das Igrejas, cheias de pessoas que não sabem recitar a “Salve Rainha.”

Chamemos a atenção dessa leva de católicos sem discernimento, muitos dos quais nunca leram a Bíblia ou mesmo uma Encíclica Papal, as palavras de São João Paulo II, proferidas em homilia de ordenação sacerdotal, e, 2 de julho de 1980, quando de sua primeira visita ao Brasil, em 1980: “Fique bem claro que o serviço sacerdotal, se quer permanecer fiel a si mesmo, é um serviço excelente e essencialmente espiritual. Que isto seja hoje acentuado, contra as multiformes tendências a secularizar o serviço do padre, reduzindo-o a uma função meramente filantrópica. O seu serviço não é o do médico, do assistente social, do político ou do sindicalista. Em certos casos, talvez, o padre poderá prestar, em borá de maneira supletiva, estes serviços e, no passado, os prestou de forma egrégia. Mas, hoje eles são realizados adequadamente por outros membros da sociedade, enquanto que o nosso serviço se especifica sempre mais claramente como um serviço espiritual. É na área das almas, das suas relações com Deus, e de seu relacionamento interior com os seus semelhantes, que o sacerdote tem uma função essencial a desempenhar. É aqui que se deve realizar sua assistência aos homens do nosso tempo. Certamente, sempre que as circunstâncias o exijam, ele nãp se eximirá de prestar também uma assistência material, mediante as obras de caridade e a defesa da justiça. Mas, como tenho dito, isto é, em definitivo, um serviço secundário, que não deve jamais fazer perder de vista o serviço principal, que é o de ajudar as almas a descobrir o Pai, a abrirem-se para Ele e amá-Lo sobre todas as coisas.” (Cf. “A Palavra de João Paulo II no Brasil – discursos e homilias”, 2ª edição, Edições Paulinas, 1980, pág. 101).

Como dizia o advogado, historiador e pensador cristão Arruda Furtado, do alto de sua convicção de católico fiel à Igreja, mesmo discordando dos rumos adotados pelos hermeneutas do Concílio Vaticano II: “É no altar, no púlpito e no confessionário, que os sacerdotes poderão, implantando o Reino de Deus nas consciências, contribuir decisivamente para a solução dos problemas sociais e políticos da Nação.”  

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