sexta-feira, 16 de setembro de 2022

BREVE CRÔNICA MEMORIAL PARA XAVIER

                                                                             

Barros Alves

Eu não o conheci. Ele se chamava Xavier, disse-me um seu amigo. Poderia se chamar Pedro, João, Barnabé ou mesmo Jesus. Acho que seria um nome apropriado para esse Xavier, que tinha um sentido pleno de solidariedade e amor ao próximo.  Ao ouvir um breve relato sobre suas atitudes diante de um semelhante que passava por  dificuldades em determinada quadra da vida, me lembrei daquele Barnabé bíblico que é exaltado no hino sacro: “Era seu nome Barnabé, natural de Chipre,/ Também chamado de José das Consolações,/ Homem bom e piedoso, cheio de ternura é fé,/ Homem de Deus!”. Não sei se Xavier tinha essa fé evangélica que muitos cristãos pregam, mas não exercitam. Porque “esse povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”, como bem disse o Senhor.

Todavia, ao que me foi dado saber por intermédio de uma breve história contada com muita emoção por um dos beneficiários da ação verdadeiramente repleta de solidariedade cristã, protagonizada por Xavier, é que ele era um homem diferente daqueles que perambulam por esse mundo de meu Deus nessa sociedade pós-moderna e neopagã. Um ser humano fora da curva do lugar comum da convivência em sociedade.  Diferente, inclusive, daqueles que militam no mundo em que ele vivia e agia, o mundo dos negócios. Em vez do axioma “negócio é negócio, amizade à parte”, imagino que Xavier, que devia ter prenome de Francisco, pensava bondosamente às avessas: “Amizade é amizade, negócios à parte.” Como São Francisco Xavier, o missionário que evangelizou o povo chinês, povo frio, pragmático, negocista.  Xavier prezava as amizades antes do lucro fácil. Sendo ele um “self made man” – trabalhara até como flanelinha – com certeza não teve tempo para estudos ou veleidades poéticas. Mas, carregava na alma e no coração a moral da fábula de Esopo versificada por La Fontaine: “Amigo, palavra cara,/ Feliz quem pode achar um./ O nome é o mais comum,/  Porém, a coisa é a mais rara.”

Esse Xavier não era um homem, era um anjo. Pelo menos para a pessoa que me contou o breve relato que inspirou essa crônica memorial, também um preito de gratidão. E, sobretudo, de admiração por esse anjo da guarda, que passou por este vale de lágrimas deixando um rastro de luz a iluminar todos aqueles que com ele conviveram. Para nós, infelizmente o vírus Covid-19 pôs um final à vida de Xavier. Porém, não tenho a menor dúvida que ele bateu asas para junto do Pai Celestial. O lugar de sua morada é o Paraíso. Não entre pobres de espírito, egoístas e ingratos iguais a nós.

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