quarta-feira, 20 de março de 2013

POLÍTICA E CORRUPÇÃO NA LITERATURA DE CORDEL



Barros Alves

O que pensam e dizem os poetas populares sobre o cotidiano da Política e os rumos da sociedade? A maioria desses rapsodos do povo é de personagens sertanejas, iletrados, semialfabetizados, para quem a Academia ainda faz ouvidos de mercador, apesar de grandes nomes da Literatura nacional já terem se debruçado sobre o vasto mundo da Literatura de Cordel, como se convencionou chamar este tipo de escritura poética que aportou no Brasil com o elemento branco, provindo da Península Ibérica, não exclusivamente de Portugal. Na Espanha seiscentista este tipo de literatura era conhecida como pliegos sueltos, folhas soltas. Alguns estudiosos colocam a origem do cordel na França da época carolíngia. E o que diz o poeta sobre a origem daquilo que ele próprio cria? Com a palavra Zé Maria de Fortaleza, e os irmãos Arievaldo e Klévisson Viana. Esses três mosqueteiros da poesia popular escreveram um folheto de ensinamento intitulado “A Didática do Cordel”:

Não se sabe exatamente
O cordel de onde veio
Alguns afirmam que os mouros
Lhe serviram de correio
Até a Península Ibérica
E de lá pra o nosso meio.

O cordel viajou sempre
Nessa marcha cultural
Conduzindo a influência
Da cultura oriental
Embora seu nome seja
De origem provençal

A poesia cordeliana encontrou no Nordeste um ambiente onde surgiria forte, atraente e vasta, conforme escreve Manuel Diégues Júnior, autor erudito com vários trabalhos publicados sobre o tema. Para Diégues Júnior “as condições sociais de formação do Nordeste como que predispuseram para que aqui pudesse surgir, desenvolver-se e tomar característica própria esse tipo de manifestação cultural”. O nome Literatura de Cordel nos vem de Portugal em razão dos folhetos serem expostos pendurados em barbantes em feiras ou casas em que eram vendidos. O cronista português Teófilo Braga dá conta que no século XVII essa literatura já estava batizada pelo povo com tal nome. O Poeta Rodolfo Coelho Cavalcante, um Dom Quixote do cordel, publicou alguns milhares de folhetos. Em “Origem da Literatura de Cordel e a sua Expressão de Cultura nas Letras de Nosso País”, explica:


Cordel quer dizer barbante
Ou senão mesmo cordão,
Mas cordel-literatura
É a real expressão
Como fonte de cultura,
É a poesia pura
Dos poetas do sertão.

Na França e também Espanha
Era nas bancas vendida,
Que fosse em prosa ou em verso,
Por ser a mais preferida.
Com o seu preço popular
Poderia se encontrar
Em esquinas e avenidas.

De igual modo os irmãos Viana ensinam no folheto anteriormente citado:

Pois lá na Península Ibérica
Cordão se chama cordel
Onde eram penduradas
As folhinhas de papel
Nascendo daí o nome
Desta cultura fiel.


Atualmente, a moderna Literatura de Cordel mantém praticamente as mesmas características básicas dos tempos de antanho, quer no formato gráfico, quer na técnica do verso. Trata-se, portanto, de poesia popular escrita quase sempre em versos de sextilhas (estrofes de seis versos) ou septilhas (estrofes de sete versos) septissilábicos, ou seja, de sete sílabas métricas cada verso. As capas dos folhetos podem ser com figuras em preto e branco, feitas em xilogravuras, o que vem rareando, dado as muitas possibilidades que a informática permite aos artistas plásticos e gravuristas, os quais elaboram desenhos tão perfeitos como se xilogravuras fossem. Algumas editoras preferem capas com fotografias coloridas à moda das revistas de entretenimento. É ainda Rodolfo Coelho Cavalcante quem nos ensina:

No Brasil é diferente
O cordel-literatura,
Tem que ser todo rimado
Com sua própria estrutura
Versificado em sextilhas
Ou senão em septilhas
Com a métrica mais pura.

Arievaldo Viana historia a adaptação ao nosso meio da poesia de cordel que nos legaram os ibéricos:

O Nordeste brasileiro
Recebeu a tradição
Do trovadoresco ibérico
E lhe deu nova feição
Diversas modalidades
Nasceram em pleno sertão

E consoante a modernidade tecnológica dos tempos atuais, o poeta demonstra a capacidade de se inserir nas vanguardas do pensar e do agir:

Se o cordel está vivendo
A era da informática
Tem que usar o modernismo
Dentro da sua temática
Para não contrariar
Os conceitos da didática.

Sua legitimidade
Não está no seu formato
Nem depende do papel
Xilogravura ou retrato
Está na forma dos versos
O resto tudo é boato.



Os desavisados muitas vezes confundem o poeta cordelista com o cantador repentista que improvisa ao ponteio da viola. Todo cantador é em tese um poeta de cordel, mas nem todo o poeta de cordel é um menestrel improvisador. Daí serem os poetas de cordel também chamados “poetas de bancada”. Porque eles escrevem suas produções poéticas e presumivelmente se sentam à mesa para elaborá-las. Antes eram as histórias tradicionais, narrativas de guerras, viagens, conquistas marítimas, fatos grandiosos ocorridos em épocas distantes no tempo e conservadas pela memória popular, romances ou novelas de cavalaria, histórias de amor. Os nossos antepassados, certamente por isto, nomearam também os folhetos de Literatura de Cordel como “romanços”, romances.


Mas, a LC sempre teve um viés jornalístico, pois desde os seus primórdios surgem folhetos dando notícias de fatos recentes, descrição de acontecimentos sociais ou críticas aos (des)caminhos da sociedade e aos governantes de plantão. É como diz o poeta José Antônio dos Santos no folheto “História da Literatura de Cordel”:

O bom poeta andarilho
Do povo seguia a pista
E funcionava como
Verdadeiro jornalista
Seus poemas de aventura
Cantava como um artista.

Esse desiderato  jornalístico da LC foi observado por Teófilo Braga já no século XIX, pois o autor observa que com o surgimento do jornal inicia-se uma certa decadência da LC. No Brasil, talvez por ter sido um país predominantemente agrário até a década de 60 do século passado, a LC continuou em pleno esplendor, sendo lida apreciada pelas classes menos favorecidas. Ainda agora, depois de um certo hiato, essa manifestação poética ganhou relevo até mesmo nos meios acadêmicos, sendo objeto de teses e dissertações. Há mesmo um projeto pensado pelo pesquisador e cordelista Arievaldo Viana, o “Cordel na Escola” que está sendo encampado pelo Ministério da Educação. Klévisson Viana, também poeta e artista plástico de renome internacional, abastece o mercado livreiro com cordéis da melhor qualidade literária, através da Editora Tupinanquim, onde trabalham nomes que pontificam na moderna LC, entre os quais destacam-se os poetas Rouxinol do Rinaré, Antônio Queiroz de França, Evaristo Geraldo da Silva, Gonzaga de Canindé, Pedro Paulo Paulino e Julye Anne da Silva.

Sobre o projeto Cordel na Escola, o Poeta Arievaldo Viana lembra que a LC não é uma poesia de linguagem matuta e escrita gramaticalmente incorreta. Os poetas de cordel, ainda que  iletrados, conservam o código lingüístico próprio da sua região, ao tempo em que primam pela correção da escrita. É isto dá uma beleza especial ao verso cordeliano. E o próprio Arievaldo chama a atenção:

Para quem ama o cordel
porém só vê poesia
nessa linguagem matuta
“pru quê”, “pru mode”, “pru via”,
tendo o sertão como tema
pode esquecer meu poema
bater noutra freguesia.

Como poeta utilizo
Métrica, rima e oração
Pois o cordel sendo usado
Para a alfabetização
Não pode ensinar errado
Nem pode ser embalado
Nas plumas da erudição.



A maioria dos poetas de cordel é, de fato, formada na escola da vida. Formada e doutorada. E, como o que não falta a esses poetas é sensibilidade, eles transformam seus versos em espada de Dâmocles que desce sem dó nem comiseração sobre a cabeça de quantos não cumprem com os seus deveres políticos ou sociais. A própria sociedade e “os desmantelos do mundo”, como gostam de dizer, são objetos de suas sátiras versificadas e de seus versos cômico-satíricos, que tantas vezes driblaram até mesmo a censura oficial, reafirmando o ditado latino ridendo castigat mores, é rindo que se castigam os costumes. Principalmente os costumes políticos. Assim é que existem inúmeros folhetos que tratam da chegada de figurões ao inferno. Para exemplo cito Paulo de Tarso, poeta popular tauaense, em A Chegada de PC no Inferno. O poeta registra, segundo sua fértil imaginação, a chegada de Paulo César Farias, ícone da corrupção no governo do ex-presidente Fernando Collor de Melo. Vejam a crítica política subjacente à reação do Capeta ante a possibilidade de receber tão incômodo inquilino nas profundezas infernais:

Satanás apavorado
Levantou-se para ver
E o Cão Goteira gritou:
- Padrinho chegou PC!
Ele é bem perigoso
E vem bastante raivoso
Podemos lhe receber?

Satanás disse: - Demore!
A coisa não é assim
O meu inferno ta cheio,
Mais um sujeito ruim?!
Já não agüento mais
Com tanta gente incapaz
Com isso terei meu fim.

Depois de um arranca-rabo dos diabos com PC, o Façanhudo das Profundas, já conhecedor do caráter corruptor e corruptível de PC, usou a linguagem que ele melhor entendia:

Satanás muito ligeiro
Começou logo a pensar
E disse: - Seu PCzinho
Pois vamos negociar
Eu pago até cem por cento
Mas aqui no meu assento
O senhor não vai sentar.

O cordel de Paulo de Tarso transcorre todo ele como uma crítica aos costumes políticos, citando personagens conhecidos da história política do Brasil contemporâneo. Diante do realismo digno de qualquer matéria jornalística o cordel em tela nem parece uma peça de ficção.

A política tem sido um manancial de inspiração para os poetas populares em todas as suas nuances.  O Poeta Patativa do Assaré, tido merecidamente como um dos grandes nomes da poesia popular de feição social escreveu poucos folhetos de cordel. Com efeito, ele não é um cordelista no sentido lato do termo, mas um poeta com características próprias que vão do erudito, com sonetos petrarquianos da melhor lavra, à poesia matuta de prosódia cheia de plebeísmos e cacoepias. Entre os seus folhetos melhor elaborados está um que é pouco divulgado, intitulado “Glosas Contra o Comunismo”, escrito nos anos 40 do século passado.  Trata-se de uma amostra da visão política de um homem do povo em um dado momento da história. Patativa critica os comunistas que depois o incensaram em razão de sua poesia marcadamente de crítica social. Os versos que seguem, aliás, desmentem o discurso ideologizado de alguns críticos  que durante muito tempo impingiram à opinião pública a idéia de que Patativa era analfabeto.

Como popular versista
Provo com os versos meus
Ser inimigo de Deus
O regime comunista.
Ali não há quem assista
Um ato de adoração,
Nesta lei de confusão
Criada pelo demônio
Não existe patrimônio
E é contra a religião.

Pratica um grande cinismo,
É burro três vezes burro,
Tolo, idiota e casmurro
Quem apóia o comunismo.
Entra dentro de um abismo
Onde não se vive bem,
É um teatro onde só tem
Corrupção, miséria e crime,
Quem aceita este regime
Gosta do diabo também.

Leitor, seja corajoso
Para romper o embaraço
E não vá cair no laço,
Pois comunista é manhoso,
Mui sagaz e astucioso,
Anda disfarçadamente
Com cara de boa gente
Para fazer sedição,
É um fino espertalhão
E falso como a serpente.

Especialmente as falcatruas protagonizadas por preeminentes personalidades da nossa vida pública nas mais diversas instâncias de poder são alvo dos nossos poetas populares. É tudo como diz o Poeta Horácio Custódio no folheto “Corrupção sem fronteiras”:

Algumas autoridades
Exercem mau seus deveres
Atropelam nossas leis
Prejudicam muitos seres
Este mal vem aumentando
E já está atacando
Até mesmo os três poderes

Já imaginou as verbas
Das cruéis corrupções
A quantia universal
Somaria alguns trilhões
Dividido em benefícios
Sanaria sacrifícios
Das mais diversas nações.


No Ceará, o então Deputado Sérgio Benevides viu-se envolvido em rumoroso caso de corrupção e desvio de recursos da merenda escolar em Fortaleza. Em um primeiro processo o parlamentar foi absolvido pelos seus colegas. O Deputado Heitor Férrer recorreu ao Judiciário para anular a sessão e, numa segunda oportunidade, os parlamentares cassaram o colega corrupto. A absolvição no primeiro momento revoltou a sociedade cearense, ganhou as manchetes de jornais e os folhetos de cordel. Entre eles destaco “O Caso da Merenda e a Ética do Deputado”, de autoria do Poeta Otávio Menezes, que não poupa o Parlamento:

Eu sei que a Assembleia
É uma casa de respeito
Inda tenho este conceito
Não vou mudar a idéia
Mas parece que a alcatéia
Ou manada primitiva
Lá juntou-se em comitiva
E de maneira patética
Aboliu o termo “ética”
Na Casa Legislativa

Há mesmo quem não entenda
Como um parlamentar
Fez esquema pra roubar
De aluno pobre a merenda
O eleitor com esta aprenda
Prestando mais atenção
Vem aí outra eleição
Por favor não vá errar
Cuidado pra não votar
Em parlamentar ladrão.

Com uma ponta de saudosismo, Otávio Menezes faz um exercício analógico entre o ladrão pé-de-chinelo e o de colarinho branco, este normalmente com aparência de pessoa de bem, de autoridade:

O ladrão de antigamente
Era apenas marginal
Que entrava num quintal
Se o dono tivesse ausente
Já o ladrão do presente
É um sujeito bem ativo
Corrupto e criativo
Não rouba, se apropria
Não assalta, só desvia
Recursos do Executivo.

O gatuno do passado
Só roubava no escuro
Pulando a cerca e o muro
Ligeiro, só e calado
Já o de hoje é letrado
Tem mansão e bom assento
Inda rouba e não se suja
E inda ganha de lambuja
Cadeira no Parlamento.

Um poeta que se assina com o pseudônimo de João Grilo escreveu um folheto de cordel com o quilométrico título de “Lula, culpado oou omisso nos crimes do mensalão e dos sanguessugas”. Trata-se de um dos famosos “sonhos” inventados pelos poetas populares onde normalmente eles vão ao céu ou ao inferno, dependendo do teor da crítica. Este João Grilo, que certamente não se trata daquela famosa personagem de um clássico folheto de cordel, foi à morada de Satã:

Sonhei que fui ao inferno
Numa rápida excursão,
Chegando vi um letreiro
Escrito na escuridão:
“Aqui sem risco de fugas
Vão viver os sanguessugas
E a máfia do mensalão”.

Dos fundos da galeria
Uma voz gritou: “Sou eu!
Aqui estou preparando
O meu futuro museu
Para apresentar com graça
Todo o filme da trapaça
Do ministro Zé Dirceu”.


O folheto constitui um longo arrazoado em versos a criticar os desmantelos do lulo-petismo ao tempo do escândalo do mensalão, protagonizado por personalidades da confiança do Presidente da República, o qual, por seu lado, reiterou em várias oportunidades que de nada sabia. Ao que o poeta indaga com pertinência:

Não tinha dono esta casa?
Nem chefe nem direção?
Como alguém que vive nela
Faz toda a corrupção
Formando enorme quadrilha
Que rouba, furta e humilha
Sem culpa e sem omissão?

Como é que um presidente
Alguém que é bem informado
Pelas agências secretas,
Tem agindo do seu lado
Um Valdomiro Diniz
E depois de tudo diz
Que nada foi comprovado?!

E por falar em Lula, o Poeta Crispiniano Neto, amigo do presidente, elaborou uma volumosa coletânea de poemas de cordel assinados por expressivos nomes do cenário cordelístico. Trata-se, evidentemente, de trabalho encomiástico, de loas ao companheiro chefe da nação. “Lula na Literatura de Cordel” apresenta textos de boa qualidade, mas que podem ser claramente identificados como um culto à personalidade do “nosso guia”, como diria o Jornalista Elio Gaspari.  Cito algumas estrofes:

De Rouxinol do Rinaré, poeta cearense:

Foi o povo quem votou
Pra Lula ser presidente
A nação bem consciente
O seu trabalho aprovou
Um tucano ameaçou
Que pretende atrapalhar
A decisão popular
Merece nosso respeito
Pelo bom que ele tem feito
- Deixe o homem trabalhar!

De Luiz Gonzaga da Silva, dito Luiz Antônio, poeta paraibano:

Discurso que Lula faz
Tem muito o que se ouvir
Não pode se corrigir
Porque erro ele não traz;
Os feitos deste rapaz
Faz anos que eu coleto
Por isso eu não interpreto
Porque é que alguém lhe inflama
Analfabeto é quem chama
Lula de analfabeto


De Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira da Literatura de Cordel-ABLC, logo depois da primeira eleição de Lula:

Com Lula o nosso país
Tem um presidente sério
Sem demagogia alguma
Sem mentira e sem mistério
E se fará respeitado
Querido e admirado
Pelas nações do hemisfério


De Antônio Queiroz de França, poeta cearense, operário anarquista:

Os brasileiros esperam
Justiça e dignidade
Pedem ao Lula presidente
Muita sensibilidade
Com a miséria crescente
Do campo até a cidade.

De Pedro Queiroz, poeta pernambucano:

Seu projeto “Fome zero”
Que é de grande valia
Ajudará muita gente
Sair dessa tirania
Não dá pra sobreviver...
Quem não tem o que comer
Morre um pouco todo dia.

Crispiniano Neto, o poeta autor da coletânea em homenagem ao presidente Lula, é antigo militante do PT e presidiu a Fundação Cultural José Augusto, Natal-RN. Há quase trinta anos o poeta petista, então na oposição acirrada ao regime militar que estava em seus estertores, fez publicar um livro intitulado “A Verdade é pra ser dita”. Na obra está inserto o poema “O Pobre que vota em rico”, do qual recolho as estrofes que seguem. O leitor reflita se daquele tempo a esta parte  a situação mudou conforme o almejado:

O pobre hoje só vive
Imprensado e oprimido
Por isso o pobre que vota
Pra ver um rico crescido
Apanha e não se desgosta
É como a mulher que gosta
De apanhar do marido.

Rico atrás de voto adula
Visita fora de hora
Eu comparo com um morcego
Que chia, abana e se escora
Se o bicho perde o sobroço
Ele fura no pescoço
Chupa o sangue e vai embora.

O status quo do cenário político brasileiro parece imutável, de modo que a poesia desses menestréis do povo permanece de ímpar atualidade. O estado de corrupção parece intrínseco ao tecido sócio-político nacional. Que o digam os escândalos que têm explodido nos últimos tempos e em que estão envolvidos dirigentes executivos e parlamentares das mais diversas siglas partidárias, da direita à esquerda do espectro político-ideológico e em todos os quadrantes e níveis de poder. Um dos mais rumorosos casos ocorridos no Senado da República envolveu altas personalidades do Congresso Nacional. Foi levado ao público pela mídia em geral e o cordelista Ricardo Coração de Poeta não perdeu a oportunidade para alfinetar:

O Senado reuniu-se
Pra discutir falcatruas,
Era um bando de peruas,
Foi isto mesmo que viu-se.
E a briga resumiu-se
Numa dupla porra-louca
Que quase ficava rouca
De se alcunharem ladrão,
Foi uma esculhambação
Esse público bate-boca.

Foi o Renan Canalheiros
Que começou a baderna
Queria passar a perna
Em todos os brasileiros.
Ô senadores fuleiros!!!
Esse povo do Senado
Deve ser preso e algemado
Todo esse Senado inteiro
Que é cheio de trapaceiro,
Ladrão, corrupto danado.

Até o coronel Tasso,
Dito “coronel de merda”...
Dizem: “quem não furta, herda”,
E ele herdou um dinheiraço,
Porém perdeu o compasso
E caiu na bandalheira,
E a gente queira ou não queira
É madame no puteiro
Junto com o cangaceiro
Que ele disse de terceira.

O nosso pobre Senado
Já virou um quenguenbal,
Não tem ética nem moral,
Está muito esculhambado,
Ninguém tá preocupado,
Parece um bando de gay.
Renan, Collor e Sarna Ney
É uma trindade chula
Que tem o apoio do Lula
Para descumprir a Lei.


O universo da Literatura de Cordel é algo tão fenomenal e extraordinário que um fragmento temático igual a este não cabe in totum numa matéria de feição jornalística. O leitor, por agora, há de se contentar com o que até aqui foi dito e esperar a boa vontade da editoria para se dar continuidade ao provocante tema.