terça-feira, 6 de dezembro de 2022

DEPUTADO FERNANDO SANTANA E O PADRE CÍCERO

                                                                                   

Barros Alves 

            No limiar deste século, salvo engano em 2004, tive oportunidade de entrevistar o professor Ralph Della Cava, autor do clássico “Milagre em Joaseiro”, obra fruto de meticulosa pesquisa realizada nos anos 1960, pelo mestre norte-americano, para ser apresentada ao Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade de Columbia, EUA. Della Cava disse que por esses acasos da vida tomou conhecimento da oligarquia aciolina que dominou o Ceará por um quarto de século, sob o comando do velho cacique Antônio Pinto Nogueira Acioly, o Babaquara. Conseguida bolsa de estudos rumou para o Brasil, mais especificamente para o Ceará. Logo no início da pesquisa tomou conhecimento de uma personagem que aparentemente secundária em termos políticos, assomava a cada momento, diante do olhar do pesquisador perspicaz, como um protagonista de primeira grandeza no cenário sócio-político e cultural dos sertões nordestinos, alteando-se bem acima de Nogueira Acioly, sobretudo pelo aspecto imaterial de sua obra religiosa e mais ainda em face do famoso “milagre da beata”, que causou a maior polêmica já vista no seio da Igreja Católica brasileira no final do século XIX. Della Cava não titubeou. Mudou o objeto da pesquisa para o Padre Cícero Romão Batista, em detrimento de Acioly, este definitivamente uma figura menor em face do taumaturgo de Juazeiro. Tal decisão rendeu-lhe a feitura de uma obra que se tornou um “best seller”.

            O jovem Padre Cícero, modesto pároco de aldeia, que chegou à pequena Vila de Juazeiro, em 1871, um ano depois de ter sido ordenado, viu-se anos depois no centro de uma polêmica religiosa que transcendeu os limites do Ceará e do Brasil, pois foi ter desdobramentos na Cidade Eterna. Incompreendido pela Igreja local, punido pelo seu bispo, agredido pela imprensa, desacatado por seus adversários, Padre Cícero é ele próprio um daqueles milagres inexplicáveis para a maioria das pessoas. Já em vida foi reabilitado pelas multidões de romeiros que visitavam Juazeiro apenas para receber as bênçãos e os conselhos do Padim Ciço. Na posteridade, ou seja, nos dias atuais caminha a passos largos para ascender à glória dos altares.

            O deputado Fernando Santana, figura de fino trato e de elogiável lhaneza, ocupou a tribuna da Assembleia Legislativa do Ceará na manhã de ontem (1º/12) para fazer o mais do que justo elogio do Padre Cícero neste momento em que Roma, mais precisamente o dicastério Congregação para a Causa dos Santos, recebe toda a documentação que assegura ao santo do povo nordestino a formalidade de se tornar um Servo de Deus e posteriormente, após a beatificação, Venerável. O passo seguinte é a canonização segundo os parâmetros da Igreja Católica. De fato, Meu Padim Pade Ciço, já está há muito santificado no imaginário dos milhões de brasileiros de todas as classes sociais, em especial sertanejos nordestinos, os quais igualmente ao deputado Fernando Santana, veneram o Padre Cícero como legítimo intercessor que, pela fé e pela caridade, atende seus pedidos. Padre Cícero, com efeito, também fez milagres no exercício da atividade política, para o bem do seu povo. O deputado Fernando Santana está bem guardado sob o pálio do santo de Juazeiro. Juazeiro do Meu Padim.

Lembre-se, por oportuno, que o Padre Cícero somente adentrou na política partidária depois que foi afastado das funções sacerdotais, uma injustiça que lhe causou imensa tristeza, mas jamais o fez abandonar o seio da Igreja ou detratá-la, tendo-lhe permanecido fiel e obediente até o último dia de sua vida nonagenária. Seu prestígio contou imensamente para a emancipação político-administrativa de Juazeiro do Norte, da qual foi interventor durante vários anos. Sobre essa situação ele declarou: “Nunca desejei ser político, mas em 1911, quando elevado o Juazeiro, então povoado, à categoria de Vila,* para atender aos insistentes pedidos  do então presidente do Estado,  o meu saudoso amigo Comendador Antônio Pinto Nogueira Acioly, e para evitar, ao mesmo tempo, que outro cidadão, na direção deste povo, por não saber ou por não poder manter o equilíbrio de ordem, até esse tempo mantido por mim; para evitar que se  comprometesse a boa marcha desta terra, vi-me forçado a colaborar na política.” O cidadão de que fala o Padre Cícero era o ambicioso Padre Alencar Peixoto, que depois escreveu violenta catilinária contra o desafeto.

Importante lembrar também a ação pacificadora do Padre Cícero, que realizou o famoso “Pacto dos Coronéis”, tão mal visto pelos seus críticos. Essas críticas são fruto de desinformação, ignorância da história ou má fé. O presidente Hermes da Fonseca e o poderoso Senador Pinheiro Machado tentaram por intermédio de figuras importantes da política cearense, pacificar as relações entre os “coronéis” do interior do nosso Estado, chefes políticos que só entendiam a linguagem do bacamarte e do trabuco. O poder entre eles era exercido normalmente pela violência e pela força bruta. O Padre Cícero conseguiu reunir os mais poderosos em torno de uma mesa de onde saiu um pacto de não-agressão que perdurou por muito tempo.

De outro lado, a ação política do Padre Cícero não se desvestiu jamais da ação pastoral, sobretudo quando condenou o comunismo que se espalhava pelo mundo e nos países da América Latina, em especial no Brasil, Stalin usava sua máquina de propaganda, sobretudo usando intelectuais de renome para divulgar as teorias marxistas de instalação de um paraíso na terra. Padre Cícero denunciou a armadilha do socialismo/comunismo em diversas oportunidades. Em maio de 1920, por exemplo, ele fez divulgar uma carta aberta de feição profética e escatológica, intitulada “Aviso do Padre Cícero Romão a propósito dos acontecimentos que virão sobre a Terra.” Ali, entre previsões e admoestações para os fiéis romeiros, lê-se a condenação do “Bolchevismo, Ditadura como está hoje convertida a Rússia, em um governo anticristão, forma de governo esta que brevemente se espalhará por toda a face da terra(...) A Rússia continuará com a perseguição religiosa até que se apague o nome de Deus. O Anticristo sairá da Rússia. Ele perseguirá o Catolicismo.” É certo que isto ocorreu durante mais de oitenta anos e, no presente, os cristãos estamos a sofrer problemas semelhantes em vários países governados por comunistas; mesmo no Brasil a situação não está nada alvissareira. Padre Cícero continua com a razão. 

           

 

             



EM LOUVOR DA MINHA FILHA NATACHA, NO DIA DO SEU ANIVERSÁRIO

                                                                                              

Barros Alves

 
NATACHA, ó minha amada filha,
És, entre todas, a estrela que mais brilha!
 
És melodia de uma doce canção,
Faz-me pulsar mais forte o coração.
 
És a sonoridade de um poema
Que guardo vida afora como tema.
 
O teu sorriso largo me conduz
Por caminhos de paz, amor e luz.
 
O teu olhar de fé e fortaleza
Esparge no teu rosto mais beleza.
 
Neste mundo de sonho e de quimera,
Tua vida seja longa primavera!
 
Não te esqueças que DEUS te fez tão bela!
No teu caráter ELE se revela.
 
Igual à Mãe de JESUS DE NAZARÉ
Sejas mãe cheia de fervor e fé!
 
Tenhas uma vida plena de bonança,
Nunca te falte a fé e a esperança.
 
Bendita sois, ó filha, entre as mulheres!
Que o bom SENHOR te dê sempre o que queres!
 
Fortaleza, 4 de dezembro de 2022.

A PRAÇA É DO POVO!

                                                                                   

Barros Alves

Neste momento inglório por que passa nossa Pátria, enxovalhada pela hipocrisia extremada e pelo palavreado estéril, expressos em pomposos discursos cheios de rebuscamentos frásicos, pronunciados por quem deveria defender a Constituição e a ordem pública; neste momento em que a bússola da política aponta para dias tenebrosos em futuro não muito distante, nos quais não veremos o sol da liberdade como hoje; neste momento em que as massas ainda podem clamar por respeito às leis e justiça, ainda que impotentes para fazerem cumpri-las segundo as exigências das consciências mais lúcidas e verdadeiramente comprometidas com os elevados valores da democracia; neste momento verdadeiramente aziago, mais uma vez a literatura é bálsamo que nos ajuda a permanecermos na trincheira da luta, a nos insurgirmos contra a tirania e as injustiças que são protagonizadas pelos protagonistas do caos que detêm o mando. Porém, nem sempre detêm o poder, porque este emana do povo.

            Por agora, vem-me à mente o cântico de liberdade entoado por um poeta imenso, grandioso, extraordinário. Aquele que dizia “eu sou pequeno, mas só fito os Andes.” Antônio de Castro Alves, o baiano que em apenas vinte e quatro anos de vida deixou obra insuperável e cantou a liberdade como poucos, deve ser declamado nas praças como um símbolo de militância contra a opressão dos poderosos. Castro Alves, aquele que morreu apenas saído da adolescência, mas que encantou platéias, levantou mentes e corações contra a escravidão; que com o seu verso quebrou grilhões e permitiu que a liberdade batesse as asas sobre nós, faz jus ao conceito que dele fez o rigoroso crítico Agripino Grieco: “Castro Alves não foi um homem; foi uma convulsão da natureza.”

            Por oportuno, urge lembrar o poema O POVO AO PODER, um grito de liberdade tão necessário neste momento em que meia dúzia de iluministros togados, mais sinistros do que iluminados, ousam surrupiar os direitos que foram assegurados ao  povo brasileiro pela Constituição de 1988, sobretudo aqueles direitos fundamentais que expressam a cidadania, numa Carta Magna dita cidadã.   Devemos, pois, cantar como Castro Alves em 1864, arrostando as forças opressoras e recebendo as merecidas ovações no Teatro São João, de Recife:

 

Quando nas praças s’eleva

Do Povo a sublime voz,

Um raio ilumina a treva,

O Cristo assombra o algoz…

(...)

A praça! A praça é do povo

Como o céu é do condor

É o antro onde a liberdade

Cria águias em seu calor!  

 

            Nesse maravilhoso grito poético, Castro Alves, exclama “que o direito não é pasto de punhal/ Nem das patas de cavalo/ Se faz um crime legal.” No Brasil de hoje é hora de atentarmos para situação crítica em que uns poucos insistem em usurpar o Estado de direito e roubar a luz aos caminhos da liberdade. “Dizei, quando a voz dos Gracos/ Tapou a destra da lei?/ Onde a toga tribunícia/ Foi calcada aos pés do rei?” Ora, a toga tribunícia deste País está há algum tempo calcada sob os pés do reinado da insensatez, da arrogância, da empáfia, da suprema hipocrisia.

Urge que levantemos nossa voz antes que seja tarde. “Dos teus tribunos que é feito?” Como o poeta em 1864, os brasileiros de hoje estão abandonados à pusilanimidade de um Parlamento silente, porque amedrontado diante da tribuna togada. A Câmara dos Deputados se ajoelha; o Senado compõe-se de larga maioria assemelhada a Incitatus, o cavalo que o imperador Calígula fez senador de Roma. Porém, como em outros tempos tenebrosos, não será diante de tempos vermelhos que o povo sucumbirá sem reação. Vamos à luta com o mesmo espírito do poeta:

 

Da plebe doem os membros

No chicote do poder,

E o momento é malfadado

Quando o povo ensangüentado

Diz: já não posso sofrer.

Pois bem! Nós que caminhamos

Do futuro para a luz,

Nós que o Calvário escalamos

Levando nos ombros a cruz,

Que do presente no escuro

Só temos fé no futuro,

Como alvorada do bem,

(...)

Irmão da terra da América,

Filhos do solo da cruz,

Erguei as frontes altivas,

Bebei torrentes de luz…

Ai! Soberba populaça!!!

 

 

  

 

 

UM COMUNISTA SANTO?

                                                                           

Barros Alves

Ao final da celebração do décimo oitavo Congresso Eucarístico Nacional, no dia 15 do mês em curso, dom Fernando Saburido, Arcebispo de Olinda e Recife, anunciou que o Vaticano emitiu decreto de Validade Jurídica reconhecendo os atos e a documentação feitos pela Arquidiocese em relação ao processo de postulação para uma possível beatificação de Dom Hélder Câmara, que foi arcebispo naquela mesma arquidiocese e um aguerrido militante da Teologia da Libertação, tendo sido por de  mais atuante durante o Concílio Vaticano II, sendo um dos signatários do tenebroso “Pacto das Catacumbas”, documento que visa transformar a face da Igreja segundo a visão da militância eclesial libertária.  Documentação aprovada pelo dicastério Congregação da Causa dos Santos, o próximo passo é a nomeação de um relator e a elaboração de um “Positio”, uma postulação que será analisada por uma comissão de historiadores, teólogos, bispos e cardeais, os quais darão pareceres e diante dos quais o Papa poderá declarar Dom Hélder “Venerável”.  Depois, se for o caso, o processo seguirá até uma possível canonização. Este processo de canonização de um comunista declarado a mim me parece algo fora de propósito da verdadeira Igreja Católica Apostólica Romana.

Após a hecatombe que varreu a Europa, na primeira metade do século passado, muitos intelectuais que combateram denodadamente o nazifascismo bandearam-se inopinadamente para as hostes comunistas. Tal fato espantou, sobretudo, intelectuais cristãos como o cardeal e teólogo francês Henry de Lubac, que expressou suas preocupações em obras basilares para o entendimento da sutilidade do mal causado pelo humanismo travestido de cristianismo, pregado por altos dignitários da própria Igreja. Já em 1949, numa carta que escreveu aos “cristãos progressistas”, Henry de Lubac chamava a atenção para o fato de que eles não deveriam “fazer o jogo do pior  dos totalitarismos, porque depois de haverem lutado contra o nazismo, não se dão conta de estarem lutando em prol de outro totalitarismo, o do Partido Comunista.”

Entre nós também vários intelectuais, levados pelo vento da ilusória propaganda comunista de paz e igualdade disseminada em todo o planeta no pós-guerra, optaram equivocadamente pela defesa de postulados que se coadunam perfeitamente com os interesses mesquinhos e anticristãos do marxismo-leninismo. E isto bem antes do boom denominado Teologia da Libertação, “a fumaça de satanás que entrou pelas frestas da Igreja”, consoante a observação do Papa Paulo VI em contexto posterior. Todavia, a ideologia da desgraça do homem continua sua ação deletéria na Igreja e no mundo, arrimada em um discurso presidido pela desfaçatez e pela hipocrisia.

A Teologia da Libertação é um desses males que adentram sorrateiramente – às vezes nem tanto – no Corpo Místico de Cristo, a Igreja, e como um câncer intelectual e espiritual vai minando os caminhos do divino na tentativa, felizmente vã, de destruir o sagrado colocando em seu lugar um humanismo ateu torpe e inconseqüente. Assim é que nomes respeitáveis do pensamento  teológico da contemporaneidade, expõem com tanta competência quanto com poder sofista, um discurso que mistura o político com o religioso, e é a um tempo populista, demagógico e herético. Esses teólogos, - alertava Lubac -, “querem uma libertação social, mas o que ocorre de fato é dão clara contribuição para o estrangulamento do homem, para uma organização tirânica, policialesca, que regula e manieta o pensamento e as consciências, com o entusiasmo enorme de destruir o princípio da liberdade espiritual que o Cristianismo tem introduzido no mundo.”

Com efeito, esses teólogos que esteiam suas argumentações na dialética demoníaca de Marx, nada mais querem do que “descristianizar as almas.” O discurso é piedoso, mas hipócrita; sereno, mas pregam a revolução e a violência para a consecução de seus objetivos; adoçam as palavras com a mensagem sagrada do santo Evangelho de Cristo, mas cooperam com o mal ao apoiarem regimes políticos que odeiam a religião e, em especial, o Cristianismo. Esses teólogos e pregadores da “libertação” têm, de fato, um discurso angelical. Porém, se olharmos a sua essência veremos, sem muito esforço,  que é um discurso enganador, tergiversante, contraditório, anticristão. E nos faz lembrar a admoestação do Apóstolo Paulo quando escreve aos Gálatas: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.” (Gálatas 1. 6-8).

Um dos nomes exponenciais na Igreja Católica da América Latina, sobretudo na seara eclesial brasileira, foi um desses equivocados que se deixaram levar pela falsidade de um humanismo que insiste em equiparar-se ao Cristianismo. O cearense Dom Hélder Câmara, apropriadamente cognominado “Bispo Vermelho” exatamente em razão de suas ideias consentâneas com as doutrinas marxistas, fez o jogo da ideologia totalitária comunista de forma entusiasmada.  Era um homem bom, não resta dúvida. Mas, seqüestrado por ideias totalmente em descompasso com a doutrina bissecular da Igreja, assentada em inúmeros documentos conciliares e pontifícios, mercê de ingentes estudos, debates, disputas teológicas, orações e penitência. Dom Hélder Câmara chegou ao ponto de dizer que o Brasil deveria adotar o mesmo sistema econômico da então Tchecoslováquia comunista. Ele era entusiasta dos regimes que ainda hoje governam a China e de Cuba, cruéis e tirânicos onde a democracia é uma ficção política e a morte de Deus é pauta oficial. Quando arcebispo de Olinda e Recife, a título de combater a ditadura militar, correu mundo pregando ideias marxistas sob a capa do Evangelho de Jesus Cristo. É este bispo defensor de uma “doutrina intrinsecamente má” (Pio XI sobre o marxismo) que eminentes prelados e muitos católicos desejam elevar à glória dos altares.

Quando vejo a procissão de incensadores da beatificação, e posterior canonização de Dom Hélder Câmara, sinto-me abatido pela mesma angústia que acometeu Henri de Lubac em face das investidas do comunismo, tantas vezes travestido de anjo bom, com fito de conquistar os cristãos por um lado e, paradoxalmente, por outro, decidido a destruir o Cristianismo. Há meio século, o Cardeal Lubac proferiu sentida indagação dirigida aos irmãos cristãos, que permanece grávida de imensa atualidade: “Como conseguir que se dêem conta de que o que se tem vivido e o que está em jogo é o desprezo pelo espiritual?” É mister, pois, não esquecermos que milhões de marxistas em todo o mundo, esses mesmos que odeiam o espiritual, estão exultantes com a possível beatificação de Dom Hélder Câmara, porque o “Bispo Vermelho” alcançar a glória dos altares é o mesmo que transformar a Igreja visível em máquina de propaganda do comunismo internacional. Essa iniciativa esdrúxula demonstra também o tamanho da crise espiritual por que passa a Igreja Católica. E traz à memória a figura da beata Anna Maria Taigi, mística, visionária e profetisa, beatificada pelo Papa Bento XV. Segundo se afirma, ela ouviu de Cristo que em momentos carentes de fé “os falsos serão erguidos como santos no Reino do Anticristo.” Vade retro!!!

sábado, 19 de novembro de 2022

BANDEIRA BRASILEIRA, SÍMBOLO SAGRADO DA PÁTRIA

                                                                                     

Barros Alves

            Lembremos, por primeiro, que todo brasileiro patriota, todo o que ama o nosso grandioso País, deve repudiar qualquer ato que possa ferir os seus símbolos nacionais, em especial a bandeira, “auriverde pendão da minha terra/ que a brisa do Brasil beija e balança.” Ao contrário de uma idiota ideologicamente imbecilizada, que a pisoteou publicamente, em passado recente, os que somos defensores dos sagrados valores do nosso povo, devemos dedicar cívica veneração à bandeira nacional, levando em consideração sua história desde os tempos coloniais, passando pelo período imperial até à República, com suas mudanças estéticas e suas adaptações simbólicas. Observemos “en passant” que o verde e amarelo que a República ensina como símbolos das nossas matas e das nossas riquezas minerais (ouro) são, de fato, as cores das Casas de Bragança, de cuja dinastia veio os monarcas brasileiros; e dos Habsburgos, dinastia a qual pertencia Dona Leopoldina, primeira esposa do Imperador Dom Pedro I.

            Clovis Ribeiro, em “Brasões e Bandeiras do Brasil”, segue o convencimento republicano sobre as feições do simbolismo estético da bandeira nacional: “Nas bandeiras de outras nações, as cores correspondem, geralmente, a uma simbologia especial, criada com o pavilhão. Na do Brasil, há uma simbologia em verdade falante, preexistente à composição do estandarte e de curso universal. As cores nacionais são o verde e o amarelo. Essas cores podem significar esperança e riqueza. Mas, antes de tudo, dizem vegetação e ouro, um país revestido de matas e campos, com entranhas onde o metal precioso sobressai entre outros depósitos refulgentes.”

            Constitui bom alvitre registrar o que escreveu Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927) em breve contradita aos que não aprovaram a primeira bandeira criada pelo Decreto nº 4, de 19 de novembro de 1889, a definitiva, pois entre 15 e 19 de novembro a República hasteou uma bandeira que se assemelhava à norte-americana, menos nas cores. O trabalho de Teixeira Mendes veio à lume no dia 24 do mesmo mês, subordinado ao título “Apreciação Filosófica”, no qual tenta justificar o simbolismo do pavilhão nacional. O positivista Teixeira Mendes, sob a orientação de Miguel Lemos (1854-1917), foi o idealizador da primeira bandeira da República, insígnia desenhada pelo pintor Décio Vilares (1851-1931). O astrônomo e engenheiro Manuel Pereira Reis, forneceu a posição das estrelas, o que causou várias divergências nos anos subsequentes, sobretudo por parte de astrônomos. Porém, Teixeira Mendes, nq defesa de sua criação, escreve com propriedade: “A bandeira recorda o passado donde proviemos, a posteridade por quem trabalhamos, e o presente que forma o elo movediço dessas massas indefinidas das gerações humanas. Este símbolo corresponde a tudo quanto o outro (a antiga bandeira de 1822, feita por José Bonifácio e Pedro I) tinha de essencial. Ela lembra, naturalmente, a fase do Brasil-Colônia nas cores azul e branca, que matizam a esfera, ao mesmo tempo em que esta recorda o período do Brasil-Reino por trazer à memória a esfera armilar. Desperta a lembra da fé gloriosa dos nossos antepassados e o descobrimento desta parte da América, não mais por meio de um sinal, que é atualmente um símbolo de divergência (a Cruz de Cristo que constava da bandeira imperial), mas por meio de uma constelação, cuja imagem só pode fomentar a mais vasta fraternidade (o Cruzeiro do Sul), porque nela o mais fervoroso católico contemplará os mistérios insondáveis da crença medieva, e o pensador mais livre recordará o caráter subjetivo da mesma crença e a poética imaginação dos nossos avós. Finalmente, foi mantida a ideia de representar a independência e o concurso cívico por um conjunto de estrelas...”

            De logo, convém reafirmar que a bandeira, enquanto símbolo nacional, não é propriedade exclusiva de grupos e nem deve ser objeto de disputas. O que se requer é que não se olvide a importância desse símbolo sagrado da Pátria e em detrimento dele se supervalorize outros tipos de bandeiras que não passam de instrumentos de proselitismo político-ideológico. Proibir o uso da bandeira nacional em manifestações públicas e solenidades quaisquer que seja configura desrespeito à lei e ao sentimento patriótico das pessoas. Eduardo Prado, que teceu críticas à primeira bandeira republicana, em face do açodado sentimento militar que movia a nação no limiar da República, escreve em “A Bandeira Nacional” (1903), que a veneração cívica pela bandeira não é uma exclusividade dos compatriotas do Exército nem Armada, mas uma disposição natural de todo brasileiro. “Nós, porém, como todos os brasileiros, temos pela insígnia gloriosa de nossa nacionalidade o mais ardente amor. O culto que lhe consagramos, embora chamado hoje de fetichismo no órgão oficial, é um culto comum a todos os filhos do Brasil.”

            A Lei 5.700, de 1º de setembro de 1971, que trata da bandeira nacional, assim  define: “A bandeira nacional pode ser usada em todas as manifestações do sentimento patriótico dos brasileiros, tanto em caráter oficial, quanto particular. Ela pode ser: 1. Hasteada em mastros ou adriças, em prédios, templos, campos de esporte, escritórios, salas de aula, auditórios, embarcações, ruas e praças, desde que se lhe assegure o devido respeito; 2. Distendida e sem mastro, desfraldada, aplicada sobre paredes ou presa a um cabo ligando edifícios, árvores, postes ou mastros (quando distendida e sem mastro, a bandeira deve ser colocada de modo que o lado maior fique na horizontal e a estrela isolada em cima, não podendo ser ocultada, mesmo parcialmente, por pessoas sentadas em suas imediações); Reproduzida sobre paredes, tetos, vidraças, veículos e aeronaves; 4. Composta com outras bandeiras, panóplias, escudos ou peças semelhantes; 5. Conduzida em formaturas, desfiles ou mesmo individualmente; 6. Distendida sobre ataúdes, até a ocasião do sepultamento; 7. Usada em saudações militares.”

            O artigo 31 da lei acima referida estabelece: “Art. 31 – São consideradas manifestações de desrespeito à bandeira nacional e, portanto, proibidas: I. Apresentá-la em mau estado de conservação; II. Mudar-lhe a forma, as cores, as proporções, o dístico ou acrescentar-lhe outras inscrições; III. Usá-la como roupagem, reposteiro, pano de boca, guarnição de mesa, revestimento de tribuna, ou como cobertura de placas, retratos, painéis ou monumentos a inaugurar; IV. Reproduzi-la em rótulos ou invólucros de produtos expostos à venda.” Também no manifesto desejo de determinar o respeito à bandeira, o legislador foi incisivo na redação do artigo 32: “As bandeiras em mau estado de conservação devem ser entregues a qualquer unidade militar, para que sejam incineradas no Dia da Bandeira, segundo o cerimonial peculiar.”

            Apesar das discussões ocorridas nos albores da República, com críticas à nossa bandeira, arrimadas em filigranas técnicas, por parte de preeminentes intelectuais da época, entre os quais Araripe Júnior, Clóvis Beviláqua, Coelho Neto, Afonso Celso, há de se concordar que o pavilhão nacional brasileiro é um dos mais belos entre os demais em todo o mundo. Rubem Azevedo, intelectual cearense versado em astronomia, escreveu “A Bandeira Nacional” (1988), onde se lê na página 20: “Já nos acostumamos com a nossa bandeira, nós que vimos a luz do dia sob ela. Não acreditamos que haja, em todo o território nacional, quem deseja vê-la modificada ou substituída(...) Já adquiriu completa maioridade e caráter de verdadeiro símbolo nacional e patrimônio intocável. Às modernas gerações não podem nem devem interessar as estéreis discussões do alvorecer da República. Amemos a nossa bandeira. Orgulhemo-nos dela, pois ela é nossa. À sua sombra protetora nasceram nossos pais e sob ela terão abrigo e proteção os nossos filhos.”

            Entoemos, portanto, em coro: NOSSA BANDEIRA JAMAIS SERÁ VERMELHA!!!  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

             

terça-feira, 15 de novembro de 2022

BEM-VINDES À BIENAL!

                                                                                 

Patativa do Passaré

 

No pórtico da Bienal

SEJA BEM-VINDES, se lê. 

BEM-VINDES ao quenguembal

Que dá certo com você.

 

BEM-VINDES, seu idiota!

Seu nome já está na lista

Da obtusa patota

Da cretinice esquerdista.

 

BEM-VINDES à Bienal!

Nunca vi coisa mais tola!

Coisa de gente anormal

Ou, por outra, de baitola.

 

BEM-VINDES à Bienal!

Quem tal inventou bem sei...

É norma gramatical

Ferida junto com a lei.

 

BEM-VINDES!!! BEM-VINDO não?!

Que neologismo chula!

Façam o “L” de LADRÃO

Que é sinônimo de LULA.

 

Essa tal neutra linguagem

Você sabe... Você viu...

É coisa de viadagem

Ou da puta que os pariu.

 

À tribo da boiolagem

BEM-VINDES TODES. Que tal?

Se tu és da viadagem

Corra para a Bienal.

 

Corra! Saia do armário,

Vá lá gastar seu dinheiro,

Gaste bem seu numerário

Como se gasta em puteiro.

 

SEJA BEM-VINDES, sem zanga.

Você já passou no crivo,

Leve grana, compre livro

Que ensina a soltar a franga.

 

 

Com esses não me misturo,

Tenho tato, tino e siso.

Bienal, te desconjuro!!!

Garanto que lá não piso.

 

Prefiro um templo de Meca

Ou locais de romaria,

Ou minha biblioteca

Templo de sabedoria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

A REPÚBLICA QUE NUNCA FOI

                                                                                          

Barros Alves

Desde o limiar da década de 1880 os militares, que engrossaram o cangote depois da Guerra do Paraguai, faziam exigências ao poder civil e à proporção que não viam seus interesses atendidos na medida das reivindicações, criava-se um ambiente de insatisfação na tropa. Deodoro da Fonseca, velho general, era o líder dos militares. Dirigiu-se, por carta, várias vezes a Pedro II expressando suas lamúrias, mas o imperador, tranqüilo e discreto na sua posição de magistrado, não deu ouvidos ao comandante. O problema, institucionalmente, era do gabinete que governava o País. Enquanto o problema se arrastava, os políticos se arregimentavam para os embates parlamentares e políticos, em especial o pequeno núcleo republicano formado por uma elite intelectual que se arrimava no pensamento de Augusto Comte. Um grupo popularmente inexpressivo, mas atuante na Imprensa e que tinha a simpatia dos quartéis, alinhados com o positivismo das cabeças republicanas.

Pedro II não ia bem de saúde e vivia mais a respirar o ar serrano de Petrópolis do que a suportar o bulício e as fofocas da Corte. Enquanto isso lideranças republicanas conspiravam, estimulados pela questão militar e pelos fazendeiros insatisfeitos com a libertação dos escravos em 1888. No ano seguinte, cai o gabinete parlamentarista conservador do Ministro João Alfredo, que foi substituído pelo gabinete liberal liderado pelo Visconde de Ouro Preto. A conjuntura estava favorável à ação da propaganda republicana. Nos jornais e na seara da articulação política atuavam Rui Barbosa, Quintino Bocayuva, Aristides Lobo, Silveira Martins, entre outros; nos quartéis assomavam as figuras de Deodoro da Fonseca, Benjamim Constant, Eduardo Wandenkolk, Frederico Solon, Francisco Glicério. Uma personagem que se manteve por muito tempo discreta foi o ajudante-general do Exército Floriano Peixoto, aparentemente leal ao Imperador e à Monarquia, assim como o seu comandante Deodoro da Fonseca. “Floriano era não somente dedicado à pessoa do imperador, como um amigo grato da família do Visconde de Ouro Preto”, lembra Heitor Moniz. O chefe do gabinete governante possivelmente faria de Floriano Ministro da Guerra em substituição ao Visconde de Maracaju. Deodoro e Floriano sempre manifestação apreço e respeito pelo imperador Pedro II.

A crise política no governo de Ouro Preto avançou de tal forma que ele ficou totalmente desprestigiado. Os líderes militares, àquela altura decidiram que o governo não podia continuar. Mas, derrubar-se-ia o gabinete ou a monarquia? “Não havia unanimidade entre os participantes da frente em relação à derrubada do regime monárquico e tampouco em relação ao rompimento de seus compromissos internos e externos.” (Hélio Silva). Rui Barbosa defendia que a ação de deposição fosse realizada “com o imperador se possível, sem o imperador se necessário.” Deodoro foi convidado a liderar a aventura. Hesitou por dois motivos: primeiro porque estava bastante adoentado. Delegara, inclusive, ao tenente-coronel Benjamim Constant a tarefa de receber as lideranças republicanas. Em segundo lugar, Deodoro temia uma reação favorável ao imperador por parte de Floriano Peixoto. Quanto ao problema de saúde poderia ser superado com grande esforço, como fê-lo no momento aprazado. Mas, e quanto a Floriano? Falar-lhe sobre a conspiração que já estava nos momentos conclusos não seria um risco? Expor-lhe os planos não seria denunciar ao governo toda a articulação com o consequente fracasso da empreitada? Não havia outro nome para ir ter com Floriano a não ser Deodoro. Ele não se fez de rogado.

Heitor Moniz conta: “Deodoro tomou a si ainda uma vez a tarefa mais pesada. Pediu a Floriano Peixoto que lhe concedesse uma entrevista. A 13 de novembro os dois se encontram numa conferência decisiva. Deodoro expôs ao general tudo quanto havia. O movimento estava preparado. Ele contava com todos os triunfos asseguradores do mais completo êxito e estava pessoalmente decidido, arrastando quaisquer consequências que pudessem vir, a pôr-se à testa da insurreição. Floriano não era homem de arriscar num terreno sem segurança, os passos que ia dar. Observou. Sugeriu um entendimento. Fez reservas. Mas, ao despedir-se de Deodoro, tranqüilizava-o, afinal, quanto à sua solidariedade: - Enfim, se a coisa é contra os casacas, lá tenho a minha espingarda velha...”

Informado da gravidade da situação, D. Pedro II desce de Petrópolis sem atentar para o perigo que corria não o gabinete, mas a monarquia. Não se compreende que um homem com a experiência e a prudência de um estadista como o imperador, ainda tenha insistido na permanência de Ouro Preto à frente do governo, mesmo depois de Deodoro ter dado um ultimato ao gabinete. O próprio ministro da Guerra declarara que uma reação à insurreição seria inútil. Ouro Preto fora conferenciar com Pedro II. Ambos julgavam que a exigência dos revoltosos era a derrubada do gabinete ministerial. Ao ser solicitado pelo imperador que continuasse à frente do governo, formando um novo ministério, em acordo com os insurretos, Ouro Preto responde: - “É impossível, senhor. À vista do ocorrido, faltam-me os meios de bem servir ao País e a V. Majestade; o gabinete está desprestigiado; sem o concurso da força armada, ou antes, hostilizado por ela, não posso responder pela ordem pública. O único serviço que neste momento me é dado prestar a V. Majestade é aconselhar a organização do novo ministério.”

Até aí, ao que parece, cairia apenas o gabinete de Ouro Preto. Na verdade, na noite do dia 14 de novembro, Deodoro ainda não se decidira se aceitaria a República. Porém, surgiu um problema prosaico, de ordem pessoal, que decisivamente contribuiu para que o general decidisse aliar-se com os republicanos aguerridos para derrubar a monarquia. Ao saber que Pedro II entrara em negociações com Silveira Martins com vistas à formação de um novo ministério, Deodoro embarcou na canoa. Explica-se a decisão com o registro do historiador Hélio Silva: “Deodoro e Silveira Martins eram inimigos desde quando o general estivera no rio Grande. Há uma explicação pitoresca, senão picaresca, dessa inimizade (...) O tribuno gaúcho era um belo homem, apaixonado por mulheres bonitas. Em campanha eleitoral, foi ter ao reduto da Baronesa do Triunfo, considerada, com razão, uma das mais belas moças de sua época. Encerrada a excursão, retira-se da estância da bela anfitriã com um ‘bota fora’ de honra, acompanhado até à porteira da fazenda por um cortejo à frente do qual cavalgava, galhardamente, a própria baronesa.”

Segue o relato: “Silveira Martins era um peão, como bom gaúcho, mas em face da emoção, ao picar as ilhargas da montaria, para fazê-la empinar, em um cumprimento galante, o animal assustou-se, o ginete desequilibrou-se e caiu estatelando-se no chão poeirento. Acorreram todos, desmontando prestes, inclusive a baronesa. Ao levantarem Silveira Martins, verificaram que ele havia partido uma perna. Repouso forçado de quarenta dias na estância da baronesa. O resto Silveira Martins confidenciou a Tobias Monteiro, na evocação saudosa de um romance de amor. Pois foi então no rastro desse incidente que chegou ao Rio Grande o novo comandante das Forças de Terra e Mar da Província, general Deodoro da Fonseca, moço, vistoso em seu uniforme de gala e, também, interessado pela baronesa. Mas, não foi bem sucedido na competição. Daí a rivalidade que tornaria inimigos o tribuno liberal e o general conservador.” Essa rivalidade foi, possivelmente, a gota d´água para a queda da monarquia em vez de cair somente o gabinete.

De fato, decidido a apoiar o movimento para apear o imperador do poder, ainda assim somente na noite do dia 15 de novembro, depois de todas as manifestações de populares liderados por José do Patrocínio, nas ruas do Rio de Janeiro; dos inflamados discursos de Benjamim Constant e outros tribunos republicanos prometendo a convocação de uma Assembleia Constituinte; da própria proclamação feita pelo Marechal no Campo de Santana, depois de tudo isso, só na noite de 15 de novembro é que Deodoro se decidiu pela República. No dia 16, às 15 horas, o chefe do movimento, doente e constrangido, envia ao imperador um ofício por intermédio do qual dá o prazo de 24 horas para que a família imperial deixe o território brasileiro. Não houve qualquer reação por parte dos monarquistas, a pedido do próprio imperador, um filósofo enfastiado do poder, que não saiu ao pai, e não quis ver derramado sangue de brasileiros.

Implantou-se a República nesses termos desastrados e desastrada ela continua até os dias atuais. Aliás, isto que temos nunca foi República no sentido conceitual do termo. Logo depois de instalado o regime, veio o afastamento de Deodoro e a ditadura de Floriano Peixoto, que com mão de ferro cassou liberdades, exilou e encarcerou  adversários, muitos dos quais republicanos de primeira hora como Rui Barbosa e Prudente de Morais. Luís Viana Filho, melhor biógrafo de Rui, diz que ao ver distanciando-se da barra o navio que levava a família real para a Europa, o jurisconsulto republicano encheu os olhos de lágrimas. O arrependimento não tardou. Sofreu na República aquilo que jamais sofrera sob a monarquia. Decepcionado, em 1910 pronuncia discurso no Senado, verberando a República, do qual se transcreve excerto que ficou famoso: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” Interessante é que nunca é citada a última frase do período: “Eis em que se transformou a República que eu ajudei a implantar no meu País.”

Cf. Bibliografia:

1.      O PODER MILITAR, de Hélio Silva. L&PM Editora, Porto Alegre-RS, 1984.

2.      DEODORO DA FONSECA (Coleção Os Presidentes), idem, Editora Três, São Paulo, 1983.

3.      NO TEMPO DA MONARQUIA, de Heitor Moniz. Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1929.