sexta-feira, 16 de setembro de 2022

JORGE AMADO, O ESQUERDISMO E O PT

                                                                              

Barros Alves

 

            Jorge Amado sempre foi um homem ligado à esquerda. Militou nas lides intelectuais e políticas como renhido stalinista. Ao recuperar a razão, lamentou os anos em que serviu de propagandista de um dos regimes mais espúrios que o mundo conheceu em todos os tempos, o comunismo soviético. Registremos, por pertinente, o que disse Jorge Amado, em entrevista concedida a Sandra Popovic, atualmente reprisada à saciedade nas mídias: “Eu fui um militante político durante muitos anos. Naquele tempo eu pensava pela cabeça dos outros. Eu achava, por exemplo, que esse papel era branco. Mas havia uma reunião de partido e, então, eles diziam: - ‘Esse papel não é branco, é amarelo.’ Eu, com um sentimento de disciplina partidária, saía pelo mundo afora dizendo que esse papel era amarelo, apesar de que eu achava que esse papel era branco. Hoje não... De há muito tempo para agora, - e por isso mesmo é que eu estou sendo tão patrulhado -,  eu digo sempre o que penso, não o que os outros pensam.”

Em outro momento, o grande romancista brasileiro faz uma espécie de “mea culpa” por ter embarcado na canoa furada do socialismo soviético, sob a liderança do ditador Joseph Stalin, um dos maiores assassinos de Estado da História da humanidade. “Éramos stalinistas. Para mim Stalin era meu pai. Era meu pai e minha mãe. Pra Zélia a mesma coisa. Levamos uma trajetória de anos, cruéis, para compreender que o pai dela era o mecânico Ernesto Gattai e que o meu pai era o coronel do cacau, João Amado. Quer dizer o partido (Comunista Brasileiro) me utilizou. A partir desse momento, o que o partido fez foi a tentativa de acabar com o escritor Jorge Amado para ter um militante Jorge Amado.” O romancista continua seu depoimento na referida entrevista que está no Youtube para quem quiser acessar: “No fim do ano de (19)55 eu soube que a polícia socialista torturava os presos políticos tão miseravelmente quanto a polícia de Hitler. O mundo caiu sobre minha cabeça. Já sem escrever há longo tempo, já descrente por inteiro das ideologias, do fundamental das ideologias – Stalin era vivo ainda – eu deixei o Partido Comunista.” O resultado dessa decisão acarretou-lhe uma tempestade de ataques por parte daqueles que o endeusavam enquanto ele agia como um cãozinho amestrado. “Fui atacado por muitos dos comunistas de uma forma muito violenta. O principal dirigente comunista da época, depois de Prestes, que era Arruda Câmara, disse que daí a seis meses eu não existiria como escritor e como intelectual. Felizmente ele se enganou.” E Jorge Amado encerra a entrevista no seu estilo mais puro: “A ideologia, você quer saber? É uma merda!”

Apesar de toda a experiência política, Jorge Amado ainda foi fisgado pela ingenuidade de acreditar na formação de um partido popular com DNA esquerdista, o PT. Sua decepção, porém, aflorou logo no início da formação do Partido dos Trabalhadores. Ele conta sua decepção no livro com notas autobiográficas publicado sob o título “Navegação de Cabotagem”, cuja primeira edição é um calhamaço de 638 páginas. Na página 32 aparece o velho espírito socialista do escritor (que desgraça!!!) e, felizmente, a decepção: “Ah! O bode perde o pêlo, mas não perde o ranço. Ao saber da fundação do PT bati palmas, veemente, tomado de entusiasmo, rasguei elogios nas colunas dos jornais, congratulei-me com Eduardo Suplici. A ilusão durou pouco, logo o PT virou frente de grupelhos e de siglas radicais, os mesmos subintelectuais dos pecês (acrescidos dos padres corajosos e sectários da teologia da libertação), sob o comando de ex-dirigentes stalinistas e maoístas que perderam toda e qualquer perspectiva política, já não acreditam em nada: são apenas aproveitadores. O PT ficou igual a qualquer dos antigos partidos operários, a qualquer dos partidos brasileiros, um saco de gatos.”

Ao se referir à campanha eleitoral de 1989, quando o metalúrgico então futuro maior ladrão dos cofres públicos foi candidato pela primeira vez à presidência da República, já escaldado, Jorge Amado faz um comentário que – pasmem! - continua extremamente atual (pág. 10 do citado livro): “O alarmante sectarismo do seu discurso eleitoral, ao que tudo indica, não é inerente à sua personalidade, decorre da própria campanha, influência talvez dos ideólogos do PCdoB, que a dirigem e orientam. Discurso de um atraso pasmoso. Como é possível imaginá-lo diante dos acontecimentos do Leste europeu, ao fim de uma época, quando ruem teorias e Estados, se desmorona o socialismo real, se assiste ao funeral da ditadura do proletariado? Discurso classista, aponta exatamente para a ditadura do proletariado, tão antigo e superado. Dá pena!” A diferença de 1989 para a campanha atual, o que torna o candidato Lula mais salafrário em face da História, é que, atualmente, esse discurso de dar pena sai da própria cabeça do candidato, o qual detém experiência suficiente na seara da político-partidária. Quer dizer, Lula continua um mau caráter em forma centuplicada. Que Deus, pela sua eterna misericórdia, possa livrar o povo brasileiro dessa desgraça fatal.

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