quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O ERRO DO HISTORIADOR TOYNBEE

                                                                                     

Barros Alves

A cada dia determina a experiência que o crítico tenha muito cuidado com os argumentos de autoridade, como se autoridades vez por outra não errassem o passo.  Arnold Joseph Toynbee foi um historiador britânico incensado pela Academia no século passado. Escreveu uma centena de livros, sendo sua obra principal contida em mais de uma dezena de volumes em que analisa o nascimento, ascensão e queda das civilizações. Em 1966 Toynbee esteve no Brasil e deu o ar da graça em Fortaleza, onde foi paparicado pela inteligentsia local e agraciado com o título de “Doutor Honoris Causa” pela Universidade Federal do Ceará, em solenidade presidida pelo fundador e primeiro reitor da UFC, Professor Antônio Martins Filho, com direito a regabofes com iguarias da culinária local.

Porém, o renomado mestre da historiografia não se deu ao trabalho de consultar boas fontes de informação. Se as consultou de duas uma: a informação lhe foi dada propositalmente equivocada ou ele não compreendeu a tradução. Isto digo apenas para argumentar, porque o registro errado que Toynbee faz em livro de sua autoria sobre a inauguração de Brasília é fruto de um desleixo digno da crítica mais acerba, posto que qualquer estudante de primeiro grau sabe o dado correto. Ademais, duvido que o próprio então ex-presidente Juscelino Kubitschek se negasse a dar a informação precisa ao historiador se ele se houvesse dignado entrar em contato com o criador de Brasília.

Vejamos: na obra “A Sociedade do Futuro”, primeira edição em inglês publicada em 1971, o historiador escreve o seguinte: “Visitei Brasília, a nova capital do Brasil. Seu planejamento foi feito por volta de 1960 e a construção iniciada um ou dois anos depois. Ela foi deliberadamente construída em um descampado etc...” (3ª edição brasileira, Zahar Editores, 1976, pág. 47). Como se vê, Toynbee errou feio na informação e o revisor/editor não se deu ao trabalho de corrigi-lo.  Com a palavra o construtor-mor de Brasília, o presidente Juscelino Kubitschek: “No início de 1957, o deserto do Planalto Central já estava convertido num imenso canteiro de obras.” (Cf. “Porque Construí Brasília”, de Juscelino Kubitschek, 2ª edição, Senado Federal, 2009, pág. 66). O autor conta o passo da construção da “cidade do futuro”, cujo traçado foi pensado pela equipe dos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, os quais no final das contas, receberam todos os louros do empreendimento, e mais este do que aquele.

Importante lembrar que a construção da nova capital que substituiria o Rio de Janeiro como sede do poder político e administrativo da República, foi iniciada em 1956. E de logo foi providenciado um pequeno edifício para servir de sede do governo quando das visitas do presidente Kubitscheck ao canteiro de obras. O Catetinho, numa referência ao Palácio do Catete, sede do governo no Rio, foi construído rapidamente. O presidente registra: “Esta casa, a primeira construção de Brasília, executada em 10 dias, de 22 a 31 de outubro de 1956, foi a residência provisória do presidente da República. Participaram desta obra pioneira: João Milton Prates, Oscar Niemeyer, César Prates, José Ferreira Chaves, Roberto Pena, Dilermando Reis, Emídio Rocha, Vivaldo Lírio, Osório Reis e Agostinho Montandon.” (Op. cit.  pág. 59). Brasília foi festivamente inaugurada em 21 de abril de 1960. Diante desse erro, pequeno é bem verdade, o que pensar das informações contidas na monumental obra de Toynbee. Confesso que doravante vou lê-lo com um pé atrás.

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