O POETA JOSÉ MARIA BARROS DE PINHO
Pronunciamento do Deputado PAULO FACÓ
Senhor Presidente.
Senhores Deputados:
A política e a literatura do Ceará sofreram um grande golpe na fatídica manhã de 28 de abril, quando transpôs o portal do imponderável o poeta e homem público JOSÉ MARIA BARROS DE PINHO.
Fortaleza foi tomada de surpresa quando a lastimável notícia se espalhou como um sopro nefando pela cidade, dando conta do arrebatamento do querido e admirado homem de letras, provocando um agudo sentimento de dor entre seus amigos e admiradores, assim como na multidão inumerável dos que conheceram o seu desempenho tanto como intelectual quanto como gestor público e parlamentar, unidos todos na lamentação da grande perda num tempo tão carente de nobres valores humanos.
O professor BARROS PINHO foi um homem de grande envergadura moral e se conceituou no Ceará como portador de uma inteligência superior, produzindo para a literatura obras de alto esmero na poesia, no conto e na retórica.
Poeta ensolarado, vibrante e lucidamente preparado, fez de sua arte não só um instrumento de vitalismo estético, mas também uma ponte conceitual de análise da condição humana, defendendo a liberdade, o amor e as raízes da cultura popular, conseguindo no verso e na ficção obter magníficos resultados, sendo, pelo conjunto de sua obra, reconhecido e respeitado nacionalmente.
Filho de Teresina, veio do Piauí adolescente para o Ceará e aqui construiu esplêndida carreira como educador, escritor e político, exercendo em nossa terra sua privilegiada inteligência e aplicando na vida pública seu altruísmo, sua honestidade, seu altivo e destemido compromisso com a liberdade e a democracia.
Em Fortaleza, estudou no Colégio Lourenço Filho e na Faculdade de Administração do Ceará, por onde graduou-se. Ingressou no magistério como professor de Sociologia do Colégio Santa Lúcia. Vice- Diretor e Coordenador do Colégio Capistrano de Abreu, estava decidido a fundar o seu próprio colégio, conseguindo-o, em 1971, ao inaugurar o Colégio Oliveira Paiva, na Avenida Francisco Sá.
O Colégio Oliveira Paiva, dotado de amplo auditório, haveria de se transformar no cenário dos debates, reuniões e seminários de estudantes, professores e militantes políticos que, naquele espaço corajosamente cedido por Barros Pinho, praticavam a resistência democrática à ditadura militar.
Afoito ativista político, Barros Pinho já se envolvia com o Movimento Estudantil desde o Piauí, quando foi eleito Vice-Presidente da União Piauiense de Estudantes Secundaristas. No Ceará, foi Primeiro Secretário do Centro Estudantil Cearense e Presidente da UEE – União Estadual dos Estudantes.
Preso político em 1964, nunca renunciou aos seus ideais democráticos e, quando foi possível, voltou à militância, elegendo-se vereador à Câmara Municipal de Fortaleza, nos anos 70 do século passado, exercendo a liderança do Movimento Democrático Brasileiro, o partido de oposição ao Regime Militar.
Eleito Deputado Estadual em 1982, brilhou na tribuna e nas comissões, sendo escolhido seguidamente pelo Comitê de Imprensa como um dos melhores deputados em todos os anos de seu mandato.
Em momento memorável da Casa do Povo, saudou a presença do senador Teotônio Vilela nesta Assembléia Estadual, proferindo um discurso que comoveu profundamente o homenageado, ao ponto deste declarar que aquela fora a melhor oração que ouvira em toda a sua vida.
Secretário Estadual de Cultura e Presidente da Fundação Cultural de Fortaleza, desempenhou com clara e distinta competência a sua missão, com realizações marcantes em favor do folclore, da literatura, das artes plásticas, da pesquisa histórica, do teatro, da música regional e do carnaval. Estimulou especialmente os maracatus. E fundou o Teatro Antonieta Noronha.
Desenvolvia no município de Maracanaú, onde era Secretário de Cultura, excelente trabalho de recuperação das raízes culturais indígenas e africanas quando foi repentinamente atingido pela doença que o levaria à morte.
Probo, lídimo e conceituado homem público, Barros Pinho era, sobretudo, um intelectual.
Segundo os críticos, sua poesia e seus contos tem grandeza espiritual e densidade criadora, com profunda e especial capacidade no emprego da invenção, dos símbolos e das metáforas.
As marcas da infância nunca se apagaram na alma do menino ribeirinho e foram constantemente utilizadas como objetos recorrentes de sua produção literária.
Tinha uma verdadeira e tocante obsessão por alguns elementos consuetudinários e práticas culturais vivenciadas na família nordestina. O circo, as lendas matutas, os mistérios do rio Parnaíba e, sobretudo, o natal, eram seus temas preferenciais.
Bom boêmio, gostava da mesa de bar, onde bebia pouco e conversava muito. Foi fundador e assíduo freqüentador do Clube do Bode, uma das melhores rodas boêmias da cidade.
Enfim, Barros Pinho foi um homem que amou a vida e por seus caminhos transcendentes andou como personagem lírico, audaz e verdadeiro.
Puro e autêntico, incandescente de paixão, foi um cavaleiro afoito a empunhar o seu famoso “punhal dos Taiocas” contra a pusilanimidade, a ignorância, a covardia dos prepotentes e inimigos da liberdade.
O poeta Cinéas Santos o define como um cangaceiro romântico de alma incandescente, portador do sentimento do mundo e do compromisso altaneiro com a humanidade.
Concluo com estes versos de nosso pranteado poeta Barros Pinho:
“Carrego madrugada
no canto dos olhos.
Nos meus ombros depositaram noites
Que não querem ser dia.
Nos cabelos
Guardo a ilusão
Ou o sonho
Dos que sonharam.
Nas mãos
trago pedaços de sol
só pra distribuir.
Na alma
A ausência cansada de bater
Nos diques da vida.”
Emérito Poeta
ResponderExcluirobrigada por esta homenagem ao meu saudoso primo e amigo.
Meu poeta preferido partiu, sem nenhum aviso, galopando o azul do infinito que ele tanto cantou em verso e prova, deixando-nos uma saudade imensa, e a certeza de sua vitória nas planuras celestes. Acredito que neste momento ele esteja compondo versos ou "Contando estrelas com o dedo apontado no Céu."
Abraços.