Barros Alves
A poesia está a caminho do cemitério
nesses aziagos tempos de altas tecnologias a conduzir o homem para
insensibilidade tal que o assemelham à máquina?
As novas invenções da ciência impelem os leitores para outros mundos
fora do universo poético? Estas perguntas se unem a outras historicamente
existentes tais como se a poesia é inútil ou se a arte poética não passa de um
diletantismo estéril, praticado por personalidades com espírito boêmio que têm
ojeriza ao utilitarismo dos pragmáticos. Mas, todas essas perguntas formuladas
insistentemente ao longo do tempo, como questionamentos que retornam e se
alteiam principalmente em tempos de crise, de modo paradoxal são respondidas
pela vida eterna da Poesia, a qual, também insistentemente arma-se de um
misterioso poder para arrostar as mazelas do mundo e, militando na
imprescindível seara das palavras bem ditas/benditas – com o perdão do
trocadilho – alteia-se para dizer de sua utilidade plena no cosmos.
Roman Jakobson compreendeu perfeitamente
a grandeza da Poesia e sua importância magistral em face do mundo, da vivência
de todos, da multidão, e de cada um. Ele observa nas QUESTÕES POÉTICAS que “A
obra poética, no conjunto dos valores sociais, não predomina, não triunfa sobre
os outros, mas não deixa de ser o organizador fundamental da ideologia,
constantemente orientada para esse objetivo. É a poesia que nos protege contra
a automatização, contra a ferrugem que ameaça nossa formulação do amor e do
ódio, da revolta e da reconciliação, da fé e da negação. É somente quando uma
época acaba de morrer, e quando se dissolveu a estreita interdependência entre
seus diverso componentes, é somente então que,
do famoso cemitério da história, se levantam, acima de toda espécie de
velharias arqueológicas, os momentos poéticos.”
Perfeito! A sensação que tive ao ler
poemas e trovas enfeixados sob o título “Depois do amor... a poesia”, de
IdeusmarFaheina, foi exatamente a de estar vivenciando um momento poético cuja
transcendência está, como soe de fato ocorrer com as coisas que estão para além
do tempo cronológico, grávida de magia, das ilusões do invisível e da grandeza
simbólica que só a poesia faz refulgir na alma do leitor ávido ressurgências
ditadas pelo amor e de sentimentalidades em face do cotidiano quase sempre nada
poético. Faheina como que ultrapassa o impasse desse seco cotidiano em face da
poesia e cheio de sentimentos nobres fixa lembranças, resgata recordações,
traça perfis em versos que transfiguram realidades e afidalgam o tema do poema.
Num tempo em que o soneto se recompõe do
esquecimento em que foi posto, o autor assinala a grandeza desse gênero poético
de difícil lapidação escrevendo dezenas deles com esmero de texto e sonoridade,
certamente inspirados em instantes de deslumbramento cheios de luminosidade sensorial
e emotiva. Eis uma poesia que não deixa ir buscar no amor sua maior ventura, a
despertar o sonho fazendo do onírico a celebração da vida, lugar único para a
festa da felicidade.Confirma a expressão de Alceu Amoroso Lima, o Tristão de
Athayde, de que “a poesia é um sexto sentido. E um sentido todo peculiar que dá
aos que o possuem um visão pessoal das coisas, uma compreensão inverificável no
mundo. Sentido, aliás, de designação toda arbitrária, pois há nele o poder de
todos os outros, sendo a poesia uma forma especial de sensação, só o sentimento
lhe dá alma e a inteligência forma. Há nela, portanto, uma síntese de sentidos
e de faculdades que criam no indivíduo uma personalidade nova e particular.
Há de fato na poesia de Faheina essa
transfiguração admirável das coisas, essa recriação de um novo mundo que
desafia a realidade, formulado por intermédio do poder da quimera, de uma
espécie de sexto sentido divino intrínseco nos poetas. O mundo dos poetas é um
mundo maravilhoso, pois como dizia outro poeta, Homero Prates, “da harmonia
secreta das coisas ele extrai a mágica centelha.”Faheina conseguiu com talento
e inspiração extrair muitas centelhas de amor e poesia que colocou neste livro
que ora vem à lume para prazer de quantos o lerem.
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