quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Apoio do episcopado cubano à manutenção do regime castrista (II)


Dissidentes cubanos denunciam colaboração da Hierarquia católica do país e de líderes populistas latino-americanos com a ditadura e pedem ao Ocidente mais rigor contra o regime marxista

Luis Dufaur, da Revista Catolicismo

Carta a Bento XVI
Em uma omissão dramática, o episcopado cubano não condena o comunismo. Foto, Raúl Castro e o Cardeal Bertone, secretário de Estado de S.S. Bento XVI. Será que essa omissão vai além mar?!

Dramática omissão do episcopado cubano na condenação do comunismo. Foto, o secretário de Estado de S.S. Bento XVI, Cardeal Bertone, e Raúl Castro. Essa omissão vai além mar!?

A dramaticidade das denúncias atingiu um ápice quando os dissidentes enviaram carta a Bento XVI denunciando a cooperação do episcopado cubano com a cruel ditadura castrista.

Assinada por 165 deles (a maioria reside ainda em Cuba) e entregue à Nunciatura Apostólica em Havana, a carta afirma respeitosamente: “Não estamos de acordo com a atitude da hierarquia eclesiástica cubana em sua intervenção quanto aos presos políticos, ela é lamentável e de fato vergonhosa”.

Informa ao Santo Padre que “a situação de repressão, hostilização e detenções arbitrárias recrudesceu”, e como exemplo aponta que o regime proibiu “Reina Luisa Tamayo Dánger, mãe do assassinado Orlando Zapata” de assistir à missa; e que “a hierarquia eclesiástica dessa província foi visitá-la para pedir que fizesse precisamente o que o governo desejava”.

Prossegue a carta: “Respeitamos a solicitude da Igreja para que cesse o ‘bloqueio’, mas, por que ela não pede também publicamente que cesse o embargo que a ditadura aplica pela tirania a todo o povo cubano? Ele permanece há mais de 50 anos, e inclui as liberdades que a Igreja poderia desfrutar”.

As vítimas do comunismo concluem com um premente apelo ao Pontífice: “Poderíamos fazer nesta epístola uma longa lista de pedidos, mas só um é o mais importante: que cesse o apoio político que concedem os representantes de Deus ante os católicos cubanos àqueles que agiram durante meio século como comissários de Satanás na Terra”.(6)

Esquerda católica cúmplice

O Conselho Arquidiocesano de Leigos de Havana respondeu logo a esse apelo, num suplemento digital da revista

Até quando Senhor, permanecerá esse "diálogo"? Veja está denúncia feita pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no livro "Acordo com o regime comunista - Para a Igreja, esperança ou autodemolição?" Clique na foto e veja o livro.

“Espacio Laical”.(7) Trata-se de uma revista toda voltada para o “diálogo” com o regime comunista. O bloqueio marxista da Internet e da imprensa escrita em Cuba parece não atingi-la, e ela reagiu de modo nada dialogante contra os signatários da carta ao Papa.

O órgão arquidiocesano qualificou a carta de “grosseira simplificação da realidade cubana”, e acusou-a de obedecer à “política do ódio” que separa “bons e maus”, e de ter sido redigida fora de Cuba para servir de “combustível para deslegitimar o atual processo” de cooperação entre o regime marxista e o episcopado.

Tal posição não poderia atender melhor às conveniências da ditadura. Esta precisava de uma condenação aos dissidentes oriunda de ambientes católicos, e para isso prestou-se submissamente o órgão arquidiocesano de Havana.

Contudo, é inegável que a algazarra midiática sobre a cooperação Igreja-Estado em Cuba recebeu uma ducha de água fria. O cardeal Ortega saiu do noticiário e Fidel Castro passou a tratar de outros assuntos colaterais a essa polêmica crucial.

Até o momento da conclusão deste artigo, não se tinha notícia de uma resposta da Santa Sé aos aflitos signatários da carta.

Uma nova utopia?

A importância simbólica de Cuba supera suas dimensões geográficas. Na fantasia das esquerdas brasileiras e latino-americanas em geral, Cuba faz as vezes de posto avançado de uma utopia para a qual rumam as inclinações socialistas do PT e as tendências profundas da esquerda católica, como as representadas pela Teologia da Libertação.

Uma degringolada, ou mesmo uma transformação controlada do comunismo cubano com a introdução de alguns elementos capitalistas, deixará sem “pólo ideológico” tais esquerdas. Isso seria um golpe duríssimo para elas, que enfrentam sérias resistências no continente e já amargaram significativos reveses nos últimos anos.

Basta mencionar o frustrado golpe de Zelaya em Honduras, as sucessivas derrotas das FARC, as vitórias eleitorais da direita na Colômbia e a derrota do socialismo no Chile. Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa estão cada vez mais silenciosos. No sentido oposto, o Peru progride e se inclina para a direita, liberando a economia dos empecilhos representados por leis socialistas.

O que podemos esperar dessa coalisão?!

Neste delicado contexto, um editorial de “O Globo”, com o título Acelera-se o relógio da ruína cubana, acena com a possibilidade de que “décadas acumuladas de repressão podem explodir de uma hora a outra, levando a um banho de sangue, se as forças de segurança continuarem fiéis aos irmãos Castro”.(8)

O jornal observa o óbvio: caso isso aconteça, terá chegado a hora dos EUA. E a opinião pública norte-americana – acrescentamos nós – não só se inclina para a direita, mas vê crescer internamente uma poderosa extrema direita sob o rótulo Tea Party.

O que restará então para as esquerdas? Muito curiosamente, esta pergunta me veio à mente enquanto folheava o caderno “Gazeta Russa”, que surpreendentemente o jornal “O Estado de S. Paulo” começou a publicar – uma publicação que visa familiarizar o leitor brasileiro com os rumos adotados pela ex-URSS, agora governada com mão de ferro por uma cúpula formada na escola da sinistra KGB dos tempos do marxismo-leninismo…

6.http://blogsdecuba.impela.net/2010/08/carta-abierta-al-papa-benedicto-xvi-3/.

7. http://www.espaciolaical.org/contens/esp/sd_110.pdf.

8. “O Globo”, Rio, 15-9-10.

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