quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Santo Padre e os valores da vida












O Papa Bento XVI exortou os prelados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - Regional Nordeste V a defenderem os valores da vida. Os bispos foram a Roma para a costumeira visita «AD LIMINA APOSTOLORUM». A fala do Santo Padre descredencia qualquer católico de adotar atitudes que favoreçam, por exemplo, a eleição de pessoas que são a favor da descriminalização do aborto, das drogas etc.

Eis o discurso de Sua Santidade:

Amados Irmãos no Episcopado,

«Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (2 Cor1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste 5. Lendo os vossos relatórios, pude dar-me conta dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo.

Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação; hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.

Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29). O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. Gaudium et spes, 76).

Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, conseqüência ou circunstância. Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida «não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem,82).

Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é «necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o "Compêndio da Doutrina Social da Igreja"» (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3). Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. Gaudium et spes 75).

Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. «Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambigüidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana» (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17 de setembro de 2010).

Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve «encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política» (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.

Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história. Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baía da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira, que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo ao enriquecimento da cultura, ao crescimento econômico e ao espírito de solidariedade e liberdade.

Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha Benção Apostólica.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Partidarização de estatais e dirigismo

Excelente editorial do Jornal O GLOBO

A ida para o segundo turno da candidata oficial, Dilma Rousseff, quando a sua campanha já havia preparado a festa da vitória em Brasília, tornou mais agressivo — ou “assertivo” — o embate nesta fase final das eleições.

Como em 2006, por certo devido à inspiração do principal cabo eleitoral de Dilma, o presidente Lula, coloca-se no centro da mesa o assunto das privatizações empreendidas na Era FH, numa tentativa de apresentar o candidato tucano, José Serra, como vendilhão do “patrimônio do povo brasileiro”.

E, tanto quanto em 2006, o nome da Petrobras anda de boca em boca. Até mais do que em 2006, pois ainda se está durante a aprovação legislativa da conversão do modelo de exploração do pré-sal de um sistema de concessão — exitoso, tanto que permitiu a descoberta da nova fronteira de produção — para o modelo de partilha, mais ao gosto da ideologia estatizante que ampliou espaços no segundo governo Lula.

Mas não estamos em 2006, e, depois de quatro anos de ampliado o aparelhamento da máquina pública, de denúncias de corrupção em estatais, a velha tática ressurge ainda mais caricata.

Deve ter sido grande a frustração do patrono de Dilma ao não ter conseguido, do alto de cerca de 80% de popularidade, transferir os votos necessários para a ex-ministra liquidar as eleições no primeiro turno. Faltou pouco, mas faltou.

A gana do lulopetismo para vencer o pleito a qualquer custo ampliou-se. E assim facetas já expostas da Era Lulopetista ficam mais explícitas.

Não são fatos isolados que o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, militante petista de carteirinha, transforme a maior empresa da América Latina em comitê eleitoral de Dilma, enquanto o presidente da Vale, Roger Agnelli, decida falar de maneira aberta o que se sabe há tempos: “Tem muita gente procurando cadeira (a dele).

E normalmente é a turma do PT.” Tem-se, sem subterfúgios, aspectos marcantes do lulopetismo, principalmente na segunda gestão de Lula: a partidarização de estatais e o dirigismo na economia, que sequer respeita a privatizada Vale.

Como a ex-estatal tem, no conjunto de acionistas de peso, fundos de pensão de companhias públicas (Previ/Banco do Brasil e Petros/Petrobras), são desfechadas pressões fortes para que Agnelli coloque dinheiro da empresa — logo, de todos os acionistas — em certos projetos que atendem apenas a interesses de aliados políticos do lulopetismo.

Esses fundos são o braço financeiro bilionário de corporações sindicais, com enorme influência no mundo dos negócios, e, por tabela, nas finanças da política partidária. São arma eficiente no modelo de capitalismo de estado sonhado por viúvas de Geisel que transitam por Brasília.

O uso da Petrobras é conveniente não apenas pelo peso da empresa, mas pelo que representa no imaginário da sociedade. Balela imaginar que venha a ser privatizada algum dia.

O candidato José Serra tem razão quando diz que a Petrobras e tantas outras precisarão ser reestatizadas, pois foram privatizadas por interesses de grupos políticos e corporações variadas.

Um processo pelo qual os Correios, outrora estatal símbolo de eficiência, foram destroçados por esquemas como o montado dentro da companhia por Erenice Guerra e apaniguados de políticos.

Gasta-se um tempo precioso de debates já em si amarrados para discutir um não problema. Serve apenas para dar ideia de como estes grupos lutam para não deixar de usufruir do “patrimônio do povo brasileiro”.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sem medo do passado

Fernando Henrique Cardoso

O presidente Lula passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. Para ganhar sua guerra imaginária distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos. Por trás dessas bravatas estão o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse: "O Estado sou eu." Lula dirá: "O Brasil sou eu!" Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.

Lamento que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?

A estratégia do petismo-lulista é simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC (muita honra para um pobre marquês...). Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo? Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo o que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo.

Na campanha haverá um mote - o governo do PSDB foi "neoliberal" - e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa. Mas os dados, ora, os dados... O que conta é repetir a versão conveniente. Há três semanas Lula disse que recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento. Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da Lei de Responsabilidade Fiscal, da recuperação do BNDES, da modernização da Petrobrás, que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal. Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões, e junto com a Caixa Econômica, libertados da politicagem e recuperados para a execução de políticas de Estado. Esqueceu-se dos investimentos do Programa Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras essenciais ao País. Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal, de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de privatizada, de que essas empresas continuam em mãos brasileiras, gerando empregos e desenvolvimento no País.

Esqueceu-se de que o País pagou um custo alto por anos de "bravata" do PT e dele próprio. Esqueceu-se de sua responsabilidade e de seu partido pelo temor que tomou conta dos mercados em 2002, quando fomos obrigados a pedir socorro ao FMI - com aval de Lula, diga-se - para que houvesse um colchão de reservas no início do governo seguinte. Esqueceu-se de que foi esse temor que atiçou a inflação e levou seu governo a elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003, para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo o que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores.

Os exemplos são inúmeros para desmontar o espantalho petista sobre o suposto "neoliberalismo" peessedebista. Alguns vêm do próprio campo petista. Vejam o que disse o atual presidente do partido, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobrás, citado por Adriano Pires no Brasil Econômico de 13/1: "Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a situação anterior (monopólio), voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobrás produzia 600 mil barris por dia e tinha 6 milhões de barris de reservas. Dez anos depois produz 1,8 milhão por dia, tem reservas de 13 bilhões. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela."

O outro alvo da distorção petista se refere à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002 houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.

Por fim, os programas de transferência direta de renda (hoje Bolsa-Família), vendidos como uma exclusividade deste governo. Na verdade, eles começaram num município (Campinas) e no Distrito Federal, estenderam-se para Estados (Goiás) e ganharam abrangência nacional em meu governo. O Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outros 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família, englobando numa só bolsa os programas anteriores.

É mentira, portanto, dizer que o PSDB "não olhou para o social". Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS saiu do papel para a realidade; o programa da aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes de Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o programa Toda Criança na Escola trouxe para o ensino fundamental quase 100% das crianças de 7 a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996 eram apenas 300 mil).

Eleições não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças. Mas se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer.

(http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100207/not_imp507564,0.php)

Dilma, a cara. De pau!!!

Dilma Roussef é, definitivamente, muito cara de pau. Depois de uma vida dedicada à pregação e à prática marxista leninista, num abrir e fechar d'olhos, de modo escancaradamente oportunista, transformou-se em devota de N. S. Aparecida.

O fato merece apenas uma indagação. Por que a Dona Dilma, que se diz devota de Aparecida desde criancinha, somente depois dos 60 anos é que vai pela primeira vez a uma romaria ao santuário da santa. E às vésperas de uma eleição que não lhe sorri como queriam os lulo-comuno-petistas.

Ademais disto, quem conhece a história ideológica dos que cercam Dilma, sabe muito bem de quem eles são devotos...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Violação da objeção fazem médicos reagir

Daniel Martins, do site do Instituto Plinio Correa de Oliveira

Se o conselho Europeu não atender as reivindicações dos médicos, e estes forem agredidos na sua liberdade de consciência, qual será o próximo passo?

Conforme noticiou a Agência ACI no dia 26 de setembro ultimo, Federações internacionais de renome escreveram carta aberta ao Conselho Europeu contra a violação do direito dos médicos à objeção de consciência face ao aborto.

Os presidentes da Federação Mundial de associações de médicos Católicos, a Federação Internacional de Farmacêuticos Católicos e o Comitê Católico de Enfermeiros dizem que a proposta na prática impede que os médicos se recusem a fazer o aborto, devido a suas convicções religiosas. O projeto será levado à secção plenária em Estrasburgo nos dias 4 e 8 de outobro.

“É inaceitável, ademais, que o pessoal da área de saúde não disposto a não alterar sua defesa do direito à vida sejam discriminados no trabalho, e que sua disposição à objeção de consciência possa converter- se em algo que os impeça exercer sua profissão”.

O que alias já acontece, pois segundo eles, já é muito difícil para um médico católico especializar-se em ginecologia. Segundo eles, isso atenta não só contra o direito dos médicos cristãos, mas também daquelas pacientes que gostariam de ser atendidas por médicos ante-abortistas.

Se o conselho Europeu não atender as reivindicações dos médicos, e estes forem agredidos na sua liberdade de consciência, qual será o próximo passo? Estaremos rumando para a perseguição religiosa?

Apoio do episcopado cubano à manutenção do regime castrista (II)


Dissidentes cubanos denunciam colaboração da Hierarquia católica do país e de líderes populistas latino-americanos com a ditadura e pedem ao Ocidente mais rigor contra o regime marxista

Luis Dufaur, da Revista Catolicismo

Carta a Bento XVI
Em uma omissão dramática, o episcopado cubano não condena o comunismo. Foto, Raúl Castro e o Cardeal Bertone, secretário de Estado de S.S. Bento XVI. Será que essa omissão vai além mar?!

Dramática omissão do episcopado cubano na condenação do comunismo. Foto, o secretário de Estado de S.S. Bento XVI, Cardeal Bertone, e Raúl Castro. Essa omissão vai além mar!?

A dramaticidade das denúncias atingiu um ápice quando os dissidentes enviaram carta a Bento XVI denunciando a cooperação do episcopado cubano com a cruel ditadura castrista.

Assinada por 165 deles (a maioria reside ainda em Cuba) e entregue à Nunciatura Apostólica em Havana, a carta afirma respeitosamente: “Não estamos de acordo com a atitude da hierarquia eclesiástica cubana em sua intervenção quanto aos presos políticos, ela é lamentável e de fato vergonhosa”.

Informa ao Santo Padre que “a situação de repressão, hostilização e detenções arbitrárias recrudesceu”, e como exemplo aponta que o regime proibiu “Reina Luisa Tamayo Dánger, mãe do assassinado Orlando Zapata” de assistir à missa; e que “a hierarquia eclesiástica dessa província foi visitá-la para pedir que fizesse precisamente o que o governo desejava”.

Prossegue a carta: “Respeitamos a solicitude da Igreja para que cesse o ‘bloqueio’, mas, por que ela não pede também publicamente que cesse o embargo que a ditadura aplica pela tirania a todo o povo cubano? Ele permanece há mais de 50 anos, e inclui as liberdades que a Igreja poderia desfrutar”.

As vítimas do comunismo concluem com um premente apelo ao Pontífice: “Poderíamos fazer nesta epístola uma longa lista de pedidos, mas só um é o mais importante: que cesse o apoio político que concedem os representantes de Deus ante os católicos cubanos àqueles que agiram durante meio século como comissários de Satanás na Terra”.(6)

Esquerda católica cúmplice

O Conselho Arquidiocesano de Leigos de Havana respondeu logo a esse apelo, num suplemento digital da revista

Até quando Senhor, permanecerá esse "diálogo"? Veja está denúncia feita pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no livro "Acordo com o regime comunista - Para a Igreja, esperança ou autodemolição?" Clique na foto e veja o livro.

“Espacio Laical”.(7) Trata-se de uma revista toda voltada para o “diálogo” com o regime comunista. O bloqueio marxista da Internet e da imprensa escrita em Cuba parece não atingi-la, e ela reagiu de modo nada dialogante contra os signatários da carta ao Papa.

O órgão arquidiocesano qualificou a carta de “grosseira simplificação da realidade cubana”, e acusou-a de obedecer à “política do ódio” que separa “bons e maus”, e de ter sido redigida fora de Cuba para servir de “combustível para deslegitimar o atual processo” de cooperação entre o regime marxista e o episcopado.

Tal posição não poderia atender melhor às conveniências da ditadura. Esta precisava de uma condenação aos dissidentes oriunda de ambientes católicos, e para isso prestou-se submissamente o órgão arquidiocesano de Havana.

Contudo, é inegável que a algazarra midiática sobre a cooperação Igreja-Estado em Cuba recebeu uma ducha de água fria. O cardeal Ortega saiu do noticiário e Fidel Castro passou a tratar de outros assuntos colaterais a essa polêmica crucial.

Até o momento da conclusão deste artigo, não se tinha notícia de uma resposta da Santa Sé aos aflitos signatários da carta.

Uma nova utopia?

A importância simbólica de Cuba supera suas dimensões geográficas. Na fantasia das esquerdas brasileiras e latino-americanas em geral, Cuba faz as vezes de posto avançado de uma utopia para a qual rumam as inclinações socialistas do PT e as tendências profundas da esquerda católica, como as representadas pela Teologia da Libertação.

Uma degringolada, ou mesmo uma transformação controlada do comunismo cubano com a introdução de alguns elementos capitalistas, deixará sem “pólo ideológico” tais esquerdas. Isso seria um golpe duríssimo para elas, que enfrentam sérias resistências no continente e já amargaram significativos reveses nos últimos anos.

Basta mencionar o frustrado golpe de Zelaya em Honduras, as sucessivas derrotas das FARC, as vitórias eleitorais da direita na Colômbia e a derrota do socialismo no Chile. Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa estão cada vez mais silenciosos. No sentido oposto, o Peru progride e se inclina para a direita, liberando a economia dos empecilhos representados por leis socialistas.

O que podemos esperar dessa coalisão?!

Neste delicado contexto, um editorial de “O Globo”, com o título Acelera-se o relógio da ruína cubana, acena com a possibilidade de que “décadas acumuladas de repressão podem explodir de uma hora a outra, levando a um banho de sangue, se as forças de segurança continuarem fiéis aos irmãos Castro”.(8)

O jornal observa o óbvio: caso isso aconteça, terá chegado a hora dos EUA. E a opinião pública norte-americana – acrescentamos nós – não só se inclina para a direita, mas vê crescer internamente uma poderosa extrema direita sob o rótulo Tea Party.

O que restará então para as esquerdas? Muito curiosamente, esta pergunta me veio à mente enquanto folheava o caderno “Gazeta Russa”, que surpreendentemente o jornal “O Estado de S. Paulo” começou a publicar – uma publicação que visa familiarizar o leitor brasileiro com os rumos adotados pela ex-URSS, agora governada com mão de ferro por uma cúpula formada na escola da sinistra KGB dos tempos do marxismo-leninismo…

6.http://blogsdecuba.impela.net/2010/08/carta-abierta-al-papa-benedicto-xvi-3/.

7. http://www.espaciolaical.org/contens/esp/sd_110.pdf.

8. “O Globo”, Rio, 15-9-10.

Apoio do episcopado cubano à manutenção do regime castrista (I)


Dissidentes cubanos denunciam colaboração da Hierarquia católica do país e de líderes populistas latino-americanos com a ditadura e pedem ao Ocidente mais rigor contra o regime marxista

Luis Dufaur, da Revista Catolicismo

Raúl Castro cumprimentando o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, e D. Dionísio García, arcebispo de Santiago de Cuba

“Ratos e baratas, água a cada três dias, comida podre, autoflagelação e excrementos pelo chão” – esse foi o ambiente que os ex-presos políticos de Cuba, agora exilados na Espanha, enfrentaram durante sete anos nos presídios da ilha. “Éramos totalmente saudáveis, mas saímos de lá cheios de problemas”, declarou Júlio César Rodríguez.(1)

O estado das prisões é um indicador da miséria que o socialismo impôs.

A economia “solidária” e “participativa” já nem sustenta o sistema de racionamento de alimentos e produtos de higiene. Os comedores (restaurantes) públicos deixaram de fornecer 3,5 milhões de parcos almoços por dia para funcionários do Partido Comunista.

A Reforma Agrária há muito privou a ilha de alimentos suficientes.As colheitas de açúcar e tabaco — outrora grandes matérias-primas de exportação — caíram a níveis inferiores aos de várias décadas atrás.

Cuba sobrevivia com a receita do turismo europeu e americano, porém a crise econômica afastou os turistas. HugoChávez completava o raquítico orçamento com petróleo, mas a socializada Venezuela também não consegue alimentar seus cidadãos, e depende dos envios que o presidente Lula prometeu para que o ditador venezuelano consiga manter-se no poder.

O Brasil fornecia milhões de dólares em investimentos de infra-estrutura, mas os especialistas brasileiros em Reforma Agrária não ensinaram nada que os cubanos não conhecessem à perfeição: não trabalhar, não colher, não produzir e não comer…

Fidel Castro saiu de sua reclusão hospitalar para dizer a “The Atlantic”, revista da esquerda americana: “O modelo cubano já não funciona nem para nós”.(2) A surpresa foi grande, e o “líder máximo” esboçou um desmentido nada convincente.

Pouco depois Raul Castro anunciou a demissão de 500.000 funcionários públicos no decurso de seis meses, mas não esclareceu como poderão manter-se depois disso os ex-funcionários públicos, quando se sabe que é praticamente inexistente a iniciativa privada que poderia admiti-los.

A ajuda dos EUA e da União Européia é questão de vida ou morte para o regime. Mas este não quer renunciar à utopia comunista. Como fazer então?

Denúncia dos exilados

Uma velha fórmula foi tentada: Havana exilou presos políticos em troca do fim de embargos econômicos, além do envio de produtos de sobrevivência — coisa absolutamente decisiva.

Quem seria o avalista da permuta de presos por alimentos? O cardeal Jaime Ortega Alamino, arcebispo de Havana e presidente da Conferência Episcopal Cubana, preenchia as condições indispensáveis para isso: o regime confia nele, e sua figura de alto representante da Igreja Católica tornava a operação deglutível pela opinião pública ocidental. Foi assim que o cardeal Ortega esteve no centro das combinações.

Chegada dos exilados cubanos à Espanha

Porém, aconteceu algo inesperado: os exilados denunciaram o comércio humano de que se sentiam objeto; declararam publicamente que o fim do bloqueio só serviria para perpetuar a ditadura comunista; imploraram aos EUA e à UE para não levantá-lo e, pelo contrário, serem bem mais exigentes com a ditadura castrista.(3) “Peço à União Européia que não abandone a posição comum. [...] Não pode ser abandonada, porque Cuba não deu sinais de mudança”, afirmou o dissidente Normando Hernández ante o Parlamento Europeu.(4)

As corajosas vítimas do comunismo denunciaram também a cumplicidade de líderes populistas latino-americanos com o esquema de repressão e morte que impera na ilha. Em particular, o dissidente Omar Rodríguez verberou a conduta do presidente Lula: “Quando ocorreu a tragédia com Orlando Zapata [dissidente morto em greve de fome pouco antes de Lula chegar a Cuba], o presidente brasileiro apertava as mãos de Fidel e Raul Castro. Ele não intercedeu, não fez nada para salvar a vida de Orlando Zapata. Isso significa que ele se aliou ao crime, e não à justiça”.(5)

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Notas:

1. “Folha de S. Paulo”, 16-7-10.

2. http://www.theatlantic.com/international/archive/2010/09/fidel-cuban-model-doesnt-even-work-for-us-anymore/62602/.

3. “El Mundo”, Madri, 13-9-10.

4. Id., ibid.

5. http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/em-coletiva-dissidentes-dizem-que-havia-ratos-em-suas-celas-e-voltam-a-criticar-lula.

Lula e a liberdade de Imprensa

A acusação do presidente da República de que a Imprensa "se comporta como um partido político" é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre "se comportar como um partido político" e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.

Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.

Efetivamente, não bastasse o embuste do "nunca antes", agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.

Não precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes, alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem se orgulhar, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa - iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique - de promover o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana. Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto.

Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia - a começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o "cara". Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: "Se ele pode ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?" Este é o mal a evitar.

Texto publicado na seção "Notas e Informações" da edição de 26/09/2010 do Jornal O Estado de São Paulo.