Barros Alves
Da Academia
Brasileira de Hagiologia
Em pronunciamentos proferidos aos jovens quando visitou o Brasil, em julho
de 2013, o Papa Francisco fez entusiásticas declarações, concitando-os a que
fossem revolucionários. De logo, segmentos agnósticos da sociedade e
partidários da Teologia da Libertação alvoroçaram-se e encheram as mídias com
apressadas declarações e análises que remetiam a fala papal a interpretações em
nada condizentes com o pensamento do Sumo Pontífice e da Igreja Católica, Mater et Magistra dos cristãos. Com
efeito, nada na doutrina da Igreja Católica aconselha a quem quer que seja
elaborar uma hermenêutica de viés político-ideológico e social das declarações
do Santo Padre, porque ele próprio afrirmou em várias oportunidades que a revolução
que prega é a revolução da fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus. Na homilia em
que acolheu os jovens na Praia de Copacabana (25.7.2013), o Papa Francisco provocou
os milhões de jovens presentes: “Amigos queridos, a fé é revolucionária e eu
lhe pergunto hoje: está disposto, está disposta a entrar nesta onda da revolução da fé? Só entrando,
sua vida jovem terá sentido e, assim, será fecunda.” O Santo Padre identifica como
se dá esta revolução pela fé: “A fé nos inunda com seu amor, que nos dá
segurança, força e esperança. Aparentemente parece que não muda nada, porém, no
mqais profundo de nós mesmos, muda tudo.” Isto é diametralmente oposto aos que
pregam uma revolução sócio-político-ideológica, que recorre às armas,
inclusive, para alcançar poder. Pior: muitas vezes se abriga sob o amorável e
largo coração da Igreja para desenvolver seus imensos e tenebrosos projetos
demoníacos. Porque, como bem lembra Tertuliano, escritor sacro que viveu no
segundo século da Era Cristã, “Nunca houve entre os cristãos um revoltado, um
conspirador ou um assassino.”
Sem qualquer desvio de finalidade ou de natureza ideológica, o Papa
Francisco pregou a revolução do amor, da fé, a verdadeira revolução que nasce
na cruz onde foi imolado Aquele que é Deus encarnado e que ressuscitou para a
redenção da humanidade combalida. Vale, por pertinente, ressaltar aqui a sábia lição
histórico-teológica de Henri Daniel-Rops, em sua monumental História da Igreja
(vol. I, pág. 134), quando ressalta o nascimento do Cristianismo em razão da
Revolução da Cruz, seguida ao longo da história por todos os cristãos,
especialmente pelo Papado: “Revolução da Cruz. É desnecessário dizer que esta
expressão poderia prestar-se a equívocos se não lhe fixássemos os verdadeiros
limites. O cristianismo não é em si uma ‘força revolucionária’, no sentido
político-social que hoje se dá ao termo. Não é nem uma doutrina social nem uma
doutrina política. Não é tampouco uma moral segundo os termos da filosofia
antiga, isto é, a sua moral não é um fim em si, mas uma consequência, na vida
mortal, de princípios que transcendem esta mesma vida. O cristianismo é nada mais e nada menos do que a REVELAÇÃO DA
VERDADE ETERNA E TOTAL por meio dos ensinamentos, do exemplo, da morte e
ressurreição de Jesus Cristo, Deus feito homem. Mas, ao mesmo tempo,
simplesmente porque Jesus é O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA, faz desabar ao seu
contato tudo aquilo que no mundo da época é erro, fingimento e matéria morta.
Tal é o significado decisivo da Revolução da Cruz.”
Todos os discursos e ações que não se coadunam com o sentido pleno do
Evangelho para a vida cai por terra diante dessa Revolução da Cruz, que é a
Revolução do Amor e da Fé em Jesus Cristo. Não a fé em qualquer pessoa, ideia
ou coisa, mas fé e seguimento ao Filho de Deus, em cuja mensagem se assentam os
ensinamentos da doutrina cristã. É ainda Daniel-Rops que ensina: “A doutrina
cristã é, pois, uma doutrina revolucionária no sentido mais evidente do termo(...),
uma doutrina completamente voltada para a ação(...) A Revolução da Cruz é a
única que, tanto nas suas intenções como nos seus métodos, apela sempre para
aquilo que há de mais contrário às tendências do homem e que nunca utiliza para
os seus fins as cumplicidades secretas do instinto e do coração. Amar os
inimigos, perdoar as ofensas, humilhar-se, renunciar a si próprio – que outro
exemplo se conhece de um mundo que se tenha renovado em nome de tais
princípios? Em que outro caso se sabe de uma vitória política alcançada apenas
com as armas da verdade e da justiça? O mistério é tão profundo como o do
Messias que ‘vence o mundo’ ao dispor-se a morrer na cruz.”
São, pois, sagradas e profundas porque imensamente cristãs, as razões que
entusiasmaram o Santo Padre quando disse aos jovens: “SEJAM REVOLUCIONÁRIOS!”.
Ele quis dizer: façam urgentemente a Revolução da Cruz! O Papa falou como o
apóstolo Paulo o fez sob inspiração do Espírito Santo, a estimular os primeiros
cristãos de Roma: “...não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Carta
aos Romanos, 12.2). Você, meu caro jovem, está disposto a encarar esta
transformação e a abraçar esta revolução?
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