quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O PAPA FRANCISCO E A REVOLUÇÃO DA CRUZ



Barros Alves
Da Academia Brasileira de Hagiologia

Em pronunciamentos proferidos aos jovens quando visitou o Brasil, em julho de 2013, o Papa Francisco fez entusiásticas declarações, concitando-os a que fossem revolucionários. De logo, segmentos agnósticos da sociedade e partidários da Teologia da Libertação alvoroçaram-se e encheram as mídias com apressadas declarações e análises que remetiam a fala papal a interpretações em nada condizentes com o pensamento do Sumo Pontífice e da Igreja Católica, Mater et Magistra dos cristãos. Com efeito, nada na doutrina da Igreja Católica aconselha a quem quer que seja elaborar uma hermenêutica de viés político-ideológico e social das declarações do Santo Padre, porque ele próprio afrirmou em várias oportunidades que a revolução que prega é a revolução da fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus. Na homilia em que acolheu os jovens na Praia de Copacabana (25.7.2013), o Papa Francisco provocou os milhões de jovens presentes: “Amigos queridos, a fé é revolucionária e eu lhe pergunto hoje: está disposto, está disposta a entrar  nesta onda da revolução da fé? Só entrando, sua vida jovem terá sentido e, assim, será fecunda.” O Santo Padre identifica como se dá esta revolução pela fé: “A fé nos inunda com seu amor, que nos dá segurança, força e esperança. Aparentemente parece que não muda nada, porém, no mqais profundo de nós mesmos, muda tudo.” Isto é diametralmente oposto aos que pregam uma revolução sócio-político-ideológica, que recorre às armas, inclusive, para alcançar poder. Pior: muitas vezes se abriga sob o amorável e largo coração da Igreja para desenvolver seus imensos e tenebrosos projetos demoníacos. Porque, como bem lembra Tertuliano, escritor sacro que viveu no segundo século da Era Cristã, “Nunca houve entre os cristãos um revoltado, um conspirador ou um assassino.”
Sem qualquer desvio de finalidade ou de natureza ideológica, o Papa Francisco pregou a revolução do amor, da fé, a verdadeira revolução que nasce na cruz onde foi imolado Aquele que é Deus encarnado e que ressuscitou para a redenção da humanidade combalida. Vale, por pertinente, ressaltar aqui a sábia lição histórico-teológica de Henri Daniel-Rops, em sua monumental História da Igreja (vol. I, pág. 134), quando ressalta o nascimento do Cristianismo em razão da Revolução da Cruz, seguida ao longo da história por todos os cristãos, especialmente pelo Papado: “Revolução da Cruz. É desnecessário dizer que esta expressão poderia prestar-se a equívocos se não lhe fixássemos os verdadeiros limites. O cristianismo não é em si uma ‘força revolucionária’, no sentido político-social que hoje se dá ao termo. Não é nem uma doutrina social nem uma doutrina política. Não é tampouco uma moral segundo os termos da filosofia antiga, isto é, a sua moral não é um fim em si, mas uma consequência, na vida mortal, de princípios que transcendem esta mesma vida. O cristianismo  é nada mais e nada menos do que a REVELAÇÃO DA VERDADE ETERNA E TOTAL por meio dos ensinamentos, do exemplo, da morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus feito homem. Mas, ao mesmo tempo, simplesmente porque Jesus é O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA, faz desabar ao seu contato tudo aquilo que no mundo da época é erro, fingimento e matéria morta. Tal é o significado decisivo da Revolução da Cruz.”
Todos os discursos e ações que não se coadunam com o sentido pleno do Evangelho para a vida cai por terra diante dessa Revolução da Cruz, que é a Revolução do Amor e da Fé em Jesus Cristo. Não a fé em qualquer pessoa, ideia ou coisa, mas fé e seguimento ao Filho de Deus, em cuja mensagem se assentam os ensinamentos da doutrina cristã. É ainda Daniel-Rops que ensina: “A doutrina cristã é, pois, uma doutrina revolucionária no sentido mais evidente do termo(...), uma doutrina completamente voltada para a ação(...) A Revolução da Cruz é a única que, tanto nas suas intenções como nos seus métodos, apela sempre para aquilo que há de mais contrário às tendências do homem e que nunca utiliza para os seus fins as cumplicidades secretas do instinto e do coração. Amar os inimigos, perdoar as ofensas, humilhar-se, renunciar a si próprio – que outro exemplo se conhece de um mundo que se tenha renovado em nome de tais princípios? Em que outro caso se sabe de uma vitória política alcançada apenas com as armas da verdade e da justiça? O mistério é tão profundo como o do Messias que ‘vence o mundo’ ao dispor-se a morrer na cruz.”
São, pois, sagradas e profundas porque imensamente cristãs, as razões que entusiasmaram o Santo Padre quando disse aos jovens: “SEJAM REVOLUCIONÁRIOS!”. Ele quis dizer: façam urgentemente a Revolução da Cruz! O Papa falou como o apóstolo Paulo o fez sob inspiração do Espírito Santo, a estimular os primeiros cristãos de Roma: “...não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Carta aos Romanos, 12.2). Você, meu caro jovem, está disposto a encarar esta transformação e a abraçar esta revolução?

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