terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lobato e o racismo












Quem se escandalizou com a posição do Conselho Nacional de Educação, que tentou censurar uma obra de Monteiro Lobato, só porque uma fala de uma das personagens criadas pelo grande escritor sugere preconceito de cor, poderá ter um chilique se lhe for dado ler excerto de uma das centenas de cartas que escreveu ao amigo Godofredo Rangel, contidfas no livro "A Barca de Gleyre". Lobato, deveras encantado com a leitura de Homero, força uma comparação entre o Brasil e a Grécia. E é aí onde a porca torce o rabo se não for bicó.

Tremei patrulheiros politicamente (ou idiotamente) corretos de plantão:

“Que diferença de mundos! Na Grécia, a beleza; aqui a disformidade. Aquiles lá; Quasímodo aqui.” E adiante: Estive uns dias no Rio. Que contra-Grécia é o Rio! O mulatismo dizem que traz dessoramento do caráter. Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis.Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível rua marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, perpassam todas as degenerescências, todas as formas e más formas humanas – todas, menos a normal. Os negros; da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português da maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde” E mais: “Como consertar essa gente? Como sermos gente no concerto dos povos? Que problemas terríveis o pobre negro da África nos criou aqui na sua inconsciente vingança!... Talvez a salvação venha de São Paulo e outras zonas que intensamente se injetam de sangue europeu. Os americanos salvaram-se da mestiçagem com a barreira do preconceito racial. Temos aqui também essa barreira, mas só em certas classes e em certas zonas. No Rio não existe!”. Lobato, tão aplaudido como nacionalista de quatro costados pela esquerda pouco lida, caso estivesse vivo e ousasse escrever hoje um texto semelhante, certamente seria apedrejado pelos mesmos que hoje o aplaudem.

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