Sou
leigo católico. Não faz parte de meus deveres de batizado seguir a
orientação da CNBB para uma reforma política no Brasil. Reforma política
é tema político e quem entra na pauta vai, necessariamente, para o
contraditório. Ao se comprometer tanto com o assunto, a CNBB se envolve
em algo que não lhe diz respeito e onde, mesmo entre juristas e
cientistas políticos, as opiniões divergem. Como leigo, sou membro do
Corpo Místico de Cristo (que é a própria Igreja, cuja unidade defendo e
integro), mas quando a Conferência envereda no campo político, é ela que
desliza para o espaço das opiniões e para os conflitos inerentes a essa
atividade, desligando-se do que deve ser unitário. Nem fica bem invocar
a unidade para eximir-se do contraditório, ou para fazer um tipo de
crítica que tenta desqualificar a crítica.
Um
grupo de 112 entidades uniu-se em torno de um projeto de reforma
política para o país. Seguindo a velha cartilha da mobilização,
iniciaram coleta de assinaturas, em busca do mínimo constitucionalmente
exigido para os projetos de iniciativa popular – 1,5 milhão de adesões. O
projeto foi amplamente divulgado em outubro de 2014 pelo movimento
Eleições Limpas (www.eleicoeslimpas.com.br)
e hoje é acionado por uma certa Coalizão pela Reforma Política
Democrática e Eleições Limpas (procure no Google por esse nome e clique
em “Quem somos”).
Examine
a lista e depois me responda: qual o partido ou tendência ideológica
que lhe vem à mente quando lê MST, CUT, Via Campesina, CONTAG, UNE,
FENAJ? Em meio a uma batelada de ONGs que vivem às nossas custas, com
acesso franqueado a verbas públicas, também integram a tal Coalizão: o
MMC (Movimento das Mulheres Camponesas, aquelas que destruíram os
laboratórios da Aracruz em 2006 e atacaram recentemente, em
Itapetininga, um laboratório da Suzano Papel e Celulose), a UBM
(entidade de mulheres pró-aborto), a RFS (Rede Feminista de Saúde,
pró-aborto), a REBRIP (rede de ONGs e movimentos sociais com propostas
“alternativas”), a Liga Brasileira de Lésbicas, o Movimento Evangélico
Progressista, a Articulação Mulheres Brasileiras (pró-aborto e contra os
direitos dos nascituros). Que interesses em comum podem ter com a CNBB?
Qualquer
pessoa minimamente informada percebe que “tem PT nesse negócio”. E tem.
A proposta é um espelho das questões centrais do projeto petista de
reforma política: voto em lista (acrescentando um segundo turno com voto
nominal); financiamento exclusivamente público, ou seja, custeado pelos
pagadores de impostos; um reforço aos instrumentos de democracia direta
(bebendo água no Decreto Nº 8243, aquele dos sovietes). Agora, uma
diferença. Enquanto a proposta petista falava em igual número de
candidaturas masculinas e femininas aos cargos legislativos, a proposta
da CNBB é mais moderninha e fala em igualdade de “gênero”. Pode? Pode. É
a CNBB. Enfim, a concepção do projeto é tão petista que o site do PT,
em 26 de fevereiro, comemorou o manifesto da CNBB, conforme pode ser
lido em (http://www.pt.org.br/cnbb-e- oab-lancam-manifesto-em-apoio- a-reforma-politica/).
Os
católicos já foram solicitados pela CNBB, em 2002, a assinar por um
calote da dívida externa (chamado de “auditoria”) que absolutamente não
era necessário; convidados a assinar por um plebiscito e uma nova
constituinte que a ninguém interessou; convencidos de que a salvação
moral da política viria da lei da ficha limpa (uma lei boa, aliás) que
precedeu a maior ladroagem da história. Agora estão escaldados, e as
assinaturas pela Reforma Política patinam, distantes do 1,5 milhão de
adesões. Por isso, surgiu um formulário suprimindo do cabeçalho os nomes
das entidades que revelam a vinculação da iniciativa aos já
desacreditados interesses petistas. Desculpem-me, mas isso não se faz.
Parece coisa de, digamos assim, petistas.
(*) Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor
de Crônicas contra o totalitarismo; "Cuba, a tragédia da utopia" e "Pombas e
Gaviões"; integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense
de Letras.
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