Barros Alves
Patativa do Assaré, rapsodo do povo, foi incensado
e também explorado pela esquerda, que o espoliou e se apropriou da produção
poética do velho bardo para propagandear a ideologia vermelha, como se o poeta fosse
um comunista militante. É certo que Patativa denunciou com naturalidade e
talento as mazelas que infelicitam o povo nordestino. Todavia, mercê de sua
ingenuidade política, tornou-se uma presa fácil dos “intelectuais” de esquerda
e virou inocente útil de manhosos marxistas nem tão vermelhos, posto que atualmente
estão mais para róseos, pois bem rosados de empanturrarem-se com as burras do
poder. O que os comunas normalmente escondem é que o Homero sertanejo desancou
o comunismo ao tempo em que a experiência socialista na falecida URSS parecia
apontar para o paraíso aqui na terra. Tudo engodo e ludíbrio. As “Glosas Sobre
o Comunismo”, que escreveu na década de 1940, constituem verdade insofismável que só não permanece
intacta porque o comunismo soviético escafedeu-se.
Ao versejar tendo como fio condutor vários motes, o
poeta desenvolve seu tema em 20 estrofes bem metrificadas, das quais recolho as
que seguem: “Será muito natural/
Nossa pátria entrar em guerra/ Se chegar em nossa terra/ O comunismo fatal,/ Do
sertão à capital/ Nosso povo varonil/ Há de pegar no fuzil/ Em defesa da nação,/
Que esta cruel sujeição/ Não queremos no Brasil.”/// “O Deão como ilegal/ Esta
tal política apóia,/ Mas é cavalo de
Tróia/ O comunismo fatal./ Deus nos livre deste mal/ Debaixo do céu de anil/ O
Deão com seu ardil/ Espalhou grande reclame/ Mas este sistema infame/ Não queremos
no Brasil.” E mais à frente verseja: “Tudo que é baixo, ruim,/ Corruptor,
depravado,/ É querido e apoiado/ Na doutrina de Lenin./ O pundonor levou fim/ Morreu
a santa verdade/ Prenderam a liberdade/ No xadrez da escravidão,/ Porque no seu
coração/ Só reina imoralidade.” E finaliza o folheto de cordel com um acróstico
(as primeiras letras de cada verso formam o nome do autor): “Por ter alguma
noção/ A ninguém peço perdão/ Tenho sobrada razão/ Aqui narrei a verdade/ Tudo
em quantos versos fiz/ Ildefonso Albano diz:/ Viva, pois, nosso país, A terra
da liberdade!”
Também o
escritor Ariano Suassuna, figura emblemática da intelectualidade nordestina, foi fisgado pela propaganda
empreendida pelos comunas. Suassuna nunca foi comunista. Era tão-somente um
democrata que por amizade com Miguel Arraes, líder dos socialistas, foi
homenageado com a presidência de honra do Partido Socialista Brasileiro-PSB.
Suassuna deixou claro sua posição político ideológica em artigo que escreveu em
10 de novembro de 1971, quando era membro do Conselho Nacional de Cultura, em
pleno regime militar. Tal escrito foi republicado na Revista PERMANÊNCIA, por
ocasião do 75º aniversário do filósofo católico Gustavo Corção (cf. http://permanencia.org.br/ drupal/node/69).
Ali, Suassuna escreveu sem meias palavras: “Em política eu sou monarquista (...)
Não sou marxista, nem acho que possamos colaborar com os marxistas, porque os
próprios marxistas são sectários, duros, impiedosos, e só fazem se aproveitar
dos moços, dos ingênuos e idealistas, para depois traí-los e esmagá-los.” O que
se há de lamentar é que necessidade ou vaidade tenham feito que ambos, Patativa
e Suassuna, tenham se deixado levar pelo assédio dos comunas.
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