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A TRADIÇÃO BÉLICA DO ISLAM
Barros
Alves
Pessoa presumivelmente bem informada, à vista de críticas que fiz ao Estado
Islâmico, disse-me em tom de repreensão, que o conhecido grupo terrorista não é
um Estado e muito menos islâmico. Quanto a ser o califado fundado pelo iraquiano
Abu Bakr al-Baghdadi um Estado consoante os parâmetros conceituais da Ciência
Política dentro do modelo ocidental, não me deterei no assunto. Quanto ao
qualificativo que denota a filiação religiosa do grupo ouso discorrer sobre
tal.
Por primeiro é fácil constatar a tradição belicosa do Islam, apesar desse
vocábulo ter o mesmo radical semítico das palavras SALAM/SHALOM que significa
PAZ. Porém, pelo viés histórico vale lembrar o escritor Hammudah Abdalati, o
qual registra “que a história islâmica encerra NATURALMENTE episódios de guerra
legal e justificada...” (“O Islã em Foco”, edição da International Islamic
Federation of Students, 1994, pág. 219).
Essa justificativa, nem sempre convincente, se faz em nome da autodefesa.
Com efeito, a palavra JIHAD, que se deve traduzir corretamente por “esforço
no caminho de Deus”, chancela a idéia corânica de que este “esforço” não deve ser
apenas espiritual, mas em face de todas as necessidades da existência, aí
incluída a preservação, a todo custo, do espaço geográfico da fé herdada do
profeta Maomé. Nos primeiros tempos do Islam esse esforço (Jihad) servia para a
expansão da fé. No entanto, os fatos, apesar de toda a retórica pacifista do Islam,
têm demonstrado que a Jihad é uma conseqüência natural da práxis religiosa
legada aos pósteros pelo Profeta Maomé e seus seguidores iniciais pouco pautados
pela paz. Basta ver o conflituoso
processo de sucessão do Profeta, no século VII, pelos autodenominados califas
(representantes) do líder morto.
Daquele tempo a esta parte, o Islam, em suas mais diversificadas facções,
tem adotado uma postura belicosa em face de outros grupos, povos e nações que
dele divergem. Esta é a constatação que fazem muitos dos que se debruçam sobre
a história do mundo muçulmano, entre os quais destaco o professor J.-M Abd El Jalil,
no seguinte comentário: “O Islã constituiu uma comunidade belicista(...),
acreditando-se sempre ameaçada essa comunidade se refugia na luta através da
polêmica e das armas. Por conseguinte, o Islã não será unicamente uma religião:será
também uma organização política e um mundo cultural à parte; e tudo isso ao
mesmo tempo. Esta concepção do Islã deve estar sempre presente ao espírito para
se evitar o equívoco por demais corrente de julgá-lo a partir de um ponto de vista
ocidental, do Cristianismo”. (Apud “Islamismo
– História e Doutrina”, de Jacques Jomier. Ed.Vozes. RJ, 2001, pág. 159).
Este autor francês, profundo conhecedor do mundo árabe-islâmico, lembra
que “a história do Islã comportou guerras suficientes para que apareçam com
clareza os princípios diretivos nesse campo.” O Corão, livro sagrado dos
muçulmanos está cheio de indicações a este respeito e nele recolhemos o exemplo
a seguir: “Combatei na senda de Deus os que vos combatem; mas não sejais
transgressores. Deus não ama os transgressores. MATAI-OS EM TODA PARTE ONDE OS
ENCONTRARDES E EXPULSAI-OS DONDE VOS EXPULSARAM. A subversão é pior do que o
homicídio." (Corão, sura 2, vers. 186-187/190/191). Grifo meu. Os radicais
que professam o islamismo fanaticamente entendem que o mundo ocidental e cristão deseja
destruí-los. Nós somos os transgressores.
Daí é que falece razão ao discurso “politicamente correto” de que o grupo
terrorista Estado Islâmico não professa o Islamismo, como se a fé islâmica
fosse algo monolítico e não contivesse centenas de facções, surgidos a partir
dos grupos originais sunitas e xiitas. Não apenas esse grupo de assassinos,
como também a Al Qaeda, o Hamas, o Hezbollah, o Bokhâri e vários outros, são,
indiscutivelmente, cada um a seu talante, seguidores do Profeta Maomé. E
praticam com convicção inabalável o “esforço no caminho de Deus”, a Jihad,
entre nós definida como guerra santa. Tudo isso em nome de Allah, o Clemente e
o Misericordioso.
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