sábado, 29 de julho de 2017

GERALDO AMÂNCIO, POETA DE PESO E MEDIDA



Barros Alves

            O cantador que improvisa versos ao som da viola rareia nestes tempos hodiernos em que a mediocridade de infernal barulheira é impingida ao povo como música, invade as mídias e encanta uma geração cuja sensibilidade estética está a confundir música com excremento. Poesia já nem se fala!!! Neste cenário pouco alvissareiro surge aqui e acolá um poeta popular que se atreve a pontear a viola e sair feito Quixote a arrostar a tempestuosa ignorância de uma maioria desacostumada de apreciar o belo. O cantador de viola é o gênio da raça. Já pelo dom de cantar improvisadamente, verso feito na bucha, conforme o dito e o pedido do ouvinte que lhe dá o mote; já pela capacidade de deslindar com espírito crítico ou laudatório o que vai pela sociedade. Tempos atrás tinham pouco ou quase nenhum estudo sistematizado. Atualmente, muitos já dedilham a viola com conhecimento abrangente sobre os acontecimentos nos quatro cantos do mundo, cantando uma poesia elaborada. Ontem como hoje, continuam geniais. Mas, confesso que os letrados não superam os analfabetos como o extraordinário Pinto do Monteiro, para citar apenas um exemplo. Entre nós ainda canta com a exaltação de um semideus da Poesia, um dos últimos grandes nomes da Cantoria. Geraldo Amâncio, cantador de reconhecidos méritos de menestrel popular, inscreve seu nome entre os insuperáveis rapsodos do povo, porque Deus lhe concedeu o dom de cantar as grandezas e misérias, alegrias e dores da nossa gente por intermédio de uma poesia improvisada da melhor qualidade estética, literariamente impecável, que lhe jorra da alma aos borbotões e chega aos nossos corações com o misterioso poder de emocionar. Em livro com feição autobiográfica que fez publicar recentemente, Geraldo Amâncio considera-se um “Andarilho do Canto e da Palavra”. Este, aliás, o título da obra. O livro, certamente por modéstia do autor, diz pouco da pujança poética desse andarilho que carrega em seu matulão uma imensidade de poesia que a todos encanta e enleva por onde passa.   

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