Barros Alves
O cantador que improvisa versos ao som da viola rareia nestes
tempos hodiernos em que a mediocridade de infernal barulheira é impingida ao
povo como música, invade as mídias e encanta uma geração cuja sensibilidade
estética está a confundir música com excremento. Poesia já nem se fala!!! Neste
cenário pouco alvissareiro surge aqui e acolá um poeta popular que se atreve a
pontear a viola e sair feito Quixote a arrostar a tempestuosa ignorância de uma
maioria desacostumada de apreciar o belo. O cantador de viola é o gênio da
raça. Já pelo dom de cantar improvisadamente, verso feito na bucha, conforme o
dito e o pedido do ouvinte que lhe dá o mote; já pela capacidade de deslindar
com espírito crítico ou laudatório o que vai pela sociedade. Tempos atrás
tinham pouco ou quase nenhum estudo sistematizado. Atualmente, muitos já
dedilham a viola com conhecimento abrangente sobre os acontecimentos nos quatro
cantos do mundo, cantando uma poesia elaborada. Ontem como hoje, continuam
geniais. Mas, confesso que os letrados não superam os analfabetos como o
extraordinário Pinto do Monteiro, para citar apenas um exemplo. Entre nós ainda
canta com a exaltação de um semideus da Poesia, um dos últimos grandes nomes da
Cantoria. Geraldo Amâncio, cantador de reconhecidos méritos de menestrel
popular, inscreve seu nome entre os insuperáveis rapsodos do povo, porque Deus
lhe concedeu o dom de cantar as grandezas e misérias, alegrias e dores da nossa
gente por intermédio de uma poesia improvisada da melhor qualidade estética,
literariamente impecável, que lhe jorra da alma aos borbotões e chega aos
nossos corações com o misterioso poder de emocionar. Em livro com feição
autobiográfica que fez publicar recentemente, Geraldo Amâncio considera-se um
“Andarilho do Canto e da Palavra”. Este, aliás, o título da obra. O livro,
certamente por modéstia do autor, diz pouco da pujança poética desse andarilho
que carrega em seu matulão uma imensidade de poesia que a todos encanta e
enleva por onde passa.
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