Barros
Alves
Morre Mandela. Chora a África, choram todas
as nações. O velho líder negro quase centenário deixa um vazio no cenário
político de sua pátria e do mundo. Soube ser um nome que está inscrito
indelevelmente na História da humanidade. Oriundo de nobreza tribal, foi o
primeiro entre os seus a galgar à universidade. Investiu-se da necessária
liderança que buscava a liberdade do povo negro em face da dominação branca,
numa África do Sul que adotou a exclusão racial (apartheid) como política de
Estado. Concomitantmente, trabalhava pela união das muitas etnias autóctones,
algumas submissas à agressão branca.
Nos inícios do Congresso Nacional
Africano, o movimento liderado por Mandela para enfrentar o apartheid, só a
força se apresentava como instrumento para alcançar vitória sobre a tirania
escravagista em que vivia 80% dos sul-africanos, ou seja, a população negra,
selecionada como no nazismo, vivia em guetos. Criou o braço armado do CNA. Foi
a gota d’água para a reação institucional que o trancafiou por 27 anos numa
masmorra, a pão e água, onde só podia ver a esposa uma vez por ano, durante
meia hora e por trás de um vidro.
Esquecido por um tempo, o processo de
distensão política entre o Leste europeu comunista e os Estados capitalistas,
especialmente os EUA, a África do Sul do estúpido apartheid e o nome de Mandela
voltaram ao cenário internacional na década de 1980. Era o caminho para a
liberdade, em 1990. Consagrado, Mandela elege-se presidente em 1994 e sedimenta
uma trajetória de luta que o alteia ao pedestal de Pai da Pátria. O Prêmio
Nobel da Paz, que dividiu com Frederick Declerk, o governante branco que o
libertou, veio exatamente por haver tido a sabedoria e a generosidade dos
grandes líderes quando chegam ao pódio como vencedores. Um homem cujo
dicionário não existe apalavra rancor, que conseguiu unir e pacificar uma nação
antes em permanente estado de guerra. Eis o legado de Mandela: construiu uma
África de muitas cores, porque bem ou mal todos, brancos e negros construíram a
nação. Ao contrário de alguns que vivem a suscitar a cisão com uma história
insustentável de que “nuca antes neste país...”
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