sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Nossos preconceitos

Barros Alves

 Nos dias hodiernos há um estúpido patrulhamento ideológico travestido de humanismo, contra o preconceito. Claro, que um pré-conceito, ou seja, um conceito ou juízo de valor assentado “à priori” a respeito de qualquer assunto é algo evidentemente temerário. Todavia, temeridade maior configura a dogmatização de ideias e ideais. Quero dizer que não se pode dogmatizar algo como preconceito sem uma abalizada motivação que assegure legitimidade à argumentação anti-preconceito. Porque todos, em maior ou menor grau, temos os nossos preconceitos. Aliás, a demonização de determinados preconceitos pode levar ao esquecimento importantes processos culturais registrados na nossa história, os quais se não forem extirpados em nada modificarão a conduta normal das pessoas. Exemplo simplório: deixar de ensinar a música do cancioneiro infantil “Atirei o pau no gato”, sob a alegação de que vai tornar crianças violentas com os animais constitui, no mínimo, uma ingenuidade.
Felizmente, neste meu pensar não milito solitariamente. Johann Gottfried von Herder, filósofo alemão do século XVIII, escreveu “Uma outra filosofia da história”, obra basilar para se entender processos culturais. Segundo von Herder , “O preconceito é bom no seu tempo, porque deixa feliz. Traz os povos de volta ao seu centro, prende-os com mais solidez à sua base, torna-os mais florescentes segundo seu próprio caráter, mais ardorosos e, por conseguinte, também, mais felizes em suas tendências.” De igual modo, o Maurice Barrés, jornalista e político francês dizia que os preconceitos de um povo o mantêm alerta e altivo. E, convenhamos, a pior coisa para indivíduos e nações é a frouxidão de propósitos, o desvanecimento de convicções. Os que dizem que não têm preconceitos são mentirosos ou hipócritas, senão frouxos de caráter.
Por oportuno, conto-lhes uma breve história real. Estava eu, pobre mortal ignorante, educadamente ouvindo a parlapatice de um sabichão marxista que ainda sonha com a revolução cubana no Brasil. Ouvi dele severa reprimenda em razão de minhas posições anticomunistas e “desumanas”, segundo ele, em face do posicionamento que adoto contrário ao homossexualismo e à união homoafetiva. A conversa descambou para os desmandos políticos do Brasil, diante dos quais o dito cujo, que é jornalista, faz vista grossa. Em determinado momento, o meu interlocutor, que se diz desvestido de preconceito, diante da afirmação de que o senador tucano Álvaro Dias (PSDB-PR) cumpre com competência seu papel de oposicionista, de imediato declarou: “Aquele é uma bichona!!!”. Precisa dizer mais alguma coisa? (Publicado originalmente no jornal O ESTADO, edição de 15 de junho de 2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário