quarta-feira, 3 de junho de 2020

O CORONA ATACA A ÉTICA JORNALÍSTICA


 Barros Alves

Diz-se com propriedade e em razão da comprovação histórica, que em épocas de guerra a principal vítima é a informação. Nestes dias aziagos de corona vírus comprova-se que a peste também contribui para alargar o maucaratismo de muitos que se dizem jornalistas, mas não passam de prepostos de proprietários de redes de comunicação, cujos interesses mesquinhos ficam cada vez mais à mostra. Como consequência, a verdade que deve presidir a informação é golpeada pela ausência da ética. Sob o argumento de que está a preservar a população da pandemia, a mídia brasileira, em especial a grande imprensa e as poderosas redes de televisão, por motivos fundados na ojeriza que têm ao governo democrático eleito para comandar da nação, assassinam a verdade. As notícias são claramente emitidas sob um processo de mitificação, relativização e, destarte, condicionadas aos interesses dos veículos e dos próprios profissionais da comunicação, os quais parecem ter perdido a capacidade de invocar suas consciências e de fazer uma reflexão ética, sem as quais não há jornalismo nem jornalistas, consoante a rigorosa expressão da professora Luciene Tófoli.
Determinadas redes de comunicação televisiva, enquanto omitem ações positivas do governo e de setores da sociedade simpatizantes deste, exasperam-se em transferir o cemitério para dentro de nossos lares. Morte, morte, morte... Há como que um prazer mórbido ao anunciar as mortes por infectados de corona vírus, sem uma análise comparativa entre população menor, condições sócio-econômicas bem melhores de outros países que registram número de mortes bem maiores do que os nossos. A morbidez insistente na divulgação da notícia aponta para uma frontal agressão ética desse tipo de jornalismo ao Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, o qual no artigo 11 define que “o jornalista não pode divulgar informações (inciso II) de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes.” A morte para essas emissoras virou objeto diário de sensacionalismo e audiência gerada pela expectativa tenebrosa de Tanatos bater à nossa porta. Rosa Nívea Pedroso, expoente no estudo desse tema, denuncia essa linguagem sensacionalista como “a valorização da emoção em detrimento da informação”, observando entre muitos outros males que a emissão importuna e maçante desse tipo de notícia privilegia a “discursividade repetitiva, fechada ou centrada em si mesma, ambígua, motivada, autoritária, despolitizadora, fragmentária, unidirecional, vertical, ambivalente, dissimulada, indefinida, substitutiva, deslizante, avaliativa...” Estranho, por ser deveras paradoxal, é ver o interesse das mídias mantidas por poderosas redes de comunicação que disseminam o pânico e o medo na população, a título de preservá-la da peste, interessadíssimas em calar a boca do povo nas redes sociais.  











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