Barros Alves
Diz-se com propriedade e em razão da comprovação
histórica, que em épocas de guerra a principal vítima é a informação. Nestes
dias aziagos de corona vírus comprova-se que a peste também contribui para alargar
o maucaratismo de muitos que se dizem jornalistas, mas não passam de prepostos
de proprietários de redes de comunicação, cujos interesses mesquinhos ficam
cada vez mais à mostra. Como consequência, a verdade que deve presidir a informação
é golpeada pela ausência da ética. Sob o argumento de que está a preservar a
população da pandemia, a mídia brasileira, em especial a grande imprensa e as
poderosas redes de televisão, por motivos fundados na ojeriza que têm ao
governo democrático eleito para comandar da nação, assassinam a verdade. As
notícias são claramente emitidas sob um processo de mitificação, relativização
e, destarte, condicionadas aos interesses dos veículos e dos próprios
profissionais da comunicação, os quais parecem ter perdido a capacidade de
invocar suas consciências e de fazer uma reflexão ética, sem as quais não há
jornalismo nem jornalistas, consoante a rigorosa expressão da professora
Luciene Tófoli.
Determinadas redes de comunicação televisiva, enquanto
omitem ações positivas do governo e de setores da sociedade simpatizantes
deste, exasperam-se em transferir o cemitério para dentro de nossos lares.
Morte, morte, morte... Há como que um prazer mórbido ao anunciar as mortes por
infectados de corona vírus, sem uma análise comparativa entre população menor,
condições sócio-econômicas bem melhores de outros países que registram número
de mortes bem maiores do que os nossos. A morbidez insistente na divulgação da
notícia aponta para uma frontal agressão ética desse tipo de jornalismo ao Código
de Ética dos Jornalistas Brasileiros, o qual no artigo 11 define que “o
jornalista não pode divulgar informações (inciso II) de caráter mórbido,
sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de
crimes e acidentes.” A morte para essas emissoras virou objeto diário de
sensacionalismo e audiência gerada pela expectativa tenebrosa de Tanatos bater
à nossa porta. Rosa Nívea Pedroso, expoente no estudo desse tema, denuncia essa
linguagem sensacionalista como “a valorização da emoção em detrimento da
informação”, observando entre muitos outros males que a emissão importuna e
maçante desse tipo de notícia privilegia a “discursividade repetitiva, fechada
ou centrada em si mesma, ambígua, motivada, autoritária, despolitizadora,
fragmentária, unidirecional, vertical, ambivalente, dissimulada, indefinida,
substitutiva, deslizante, avaliativa...” Estranho, por ser deveras paradoxal, é
ver o interesse das mídias mantidas por poderosas redes de comunicação que
disseminam o pânico e o medo na população, a título de preservá-la da peste, interessadíssimas
em calar a boca do povo nas redes sociais.
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