Barros Alves
Fundada
em princípios adotados pelos positivistas que a proclamaram, a República
brasileira vem impingindo ao povo determinados preceitos que não se coadunam
com a índole extremamente religiosa da imensa maioria da nossa população.
Arrimados na ilusão comtiana, sucedânea idealista do iluminismo que gerou o
“monstro de escuridão e rutilância” que foi a Revolução Francesa, os
republicanos brasileiros vêm impingindo à sociedade o falacioso discurso de que
o Estado é laico e a religião não deve se imiscuir nos negócios de governo e de
Estado. Até certo ponto tal afirmação é verdadeira. Só até certo ponto. Mas
falha, a começar pelo fato de o governo ser exercido por brasileiros e não por
marcianos. O Brasil é um país com jeito de igreja, tal a imensa religiosidade
do nosso povo. A sociedade brasileira é religiosa, mística, piedosa. Somos
majoritariamente cristãos (católicos e evangélicos) e similares na fé, tais
como Adventistas, Testemunhas de Jeová, Mórmons, Espíritas, entre outras
crenças que formam o corpo da religiosidade do povo.
Faz-se
necessário lembrar que ao tempo das discussões na Assembleia Constituinte de
1988, da qual se originou a Carta Constitucional em vigor, um grupo de
parlamentares liderado pelo então deputado José Genuíno, do PT, intentou
retirar o nome de Deus do preâmbulo da Constituição, não logrando êxito.
Posteriormente, durante a revisão constitucional de 1993, o mesmo iconoclasta
voltou à carga, mas foi novamente derrotado, num claro indicativo de que a
maioria dos constituintes, representantes legítimos do povo brasileiro,
rechaçou com firmeza a malévola intenção nascida do crânio herético de um ateu
marxista, preferindo permanecer fiel ao princípio religioso, cristão, que
sedimentou nossa formação sócio-cultural ao longo de 500 anos. Assim, já na
introdução da Carta Maior, na porta de entrada, ou seja, no Preâmbulo, já está
inscrito o dístico de que o nome Deus, o Senhor dos Exércitos foi invocado para
a confecção daquela Lex Magna, em respeito ao sentimento e à prática religiosa
de nossos patrícios.
Se do ponto de vista da espiritualidade do
brasileiro, o registro do nome de Deus no Preâmbulo da Constituição aponta para
os caminhos que o ordenamento jurídico deve seguir, qual seja o do inarredável respeito
à liberdade de crença; por outro lado, não mais assiste razão a juristas que
vêem o Preâmbulo como “simples fórmula retórica, desligada do corpo da
Constituição e sem qualquer eficácia jurídica.” Depois da Constituição de 1988,
os doutrinadores brasileiros tendem a cada vez mais dar a merecida importância
ao Preâmbulo da Constituição, reconhecendo seu caráter de preceito jurídico e,
portanto, a exigência jurídica de respeitá-lo e de tê-lo em conta na interpretação
dos artigos da Constituição e no controle da constitucionalidade das leis e dos
atos jurídicos, conforme a procedente observação do professor Dalmo Dallari, um
jurista de renome internacional, que se assenta entre aqueles que se colocam à
esquerda do espectro político-ideológico.
Tão certo estou de que a religião está no
fundamento das nações, assim como me assiste a certeza de que “Deus deu ao
homem uma natureza que foi organizada para uma vida sobrenatural”, consoante a
observação de Thomas Merton, para quem simplesmente “seguirmos nossas
naturezas, nossas filosofias, nossa órbita de ética, terminaremos no inferno.” Bem-aventurada
é a nação cujo Deus é o Senhor! (Salmo 33.12) Todas as nações do mundo têm um sustentáculo
psicossocial num imaginário assentado na religião. Alguns exemplos entre muitos:
Israel, nação cuja história se confunde com a história da humanidade, crê
piamente ser o povo escolhido por Deus. Em campo oposto está o mundo
islamo-arábico, cujas nações acreditam-se um presente de Deus para fecundar o
deserto. Deus fala árabe porque foi por intermédio dessa língua que o Anjo
Gabriel ditou o Alcorão Sagrado ao profeta Maomé. O árabe é a língua do
paraíso. Nos Estados Unidos da América ensina-se a doutrina do “Destino
Manifesto”, querendo isto dizer que a grande nação do Norte surgiu para dominar
o mundo segundo a vontade de Deus. O povo francês nacionaliza a expressão “Oh,
meu Deus!” ao exclamar “Oh, mon Dieu de France!” E, por final, meu caro leitor,
jamais esqueça que Deus é brasileiro.
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