
Os radicais defensores do "politicamente correto" são, paradoxalmente, pessoas grávidas de preconceito. Não querem, por exemplo, que se cante mais cantigas de ninar como aquela "atirei o pau no gato", cuja melodia fez tantos de nós dormir placidamente em criança.
Se não cuidarmos a tempo, eis que a imbecilidade de muitos desses pseudopuristas vai tentar proibir obras-primas da nossa literatura, e também a criatividade da nossa sabedoria popular. Aliás, já estão a caminho de conseguir esse malfadado intento inquisitorial ao acusar de racismo aqueles que ousam contar em público piadas em que há personagens negras, homossexuais etc. Daqui a alguns dias - repito - se não nos insurgirmos contra estas estultícias, irão pedir a incineração de livros e outras publicações consideradas por eles como politicamente incorretas.
Então, gente extraordinária, cuja verve satírica tem algo de genial, como é o caso de Gregório de Matos Guerra, o "Boca do Inferno", irá ter suas produções poéticas inscritas no índex desses ignorantes, o que, isto sim, constitui atitude politicamente intolerante.
Antes que isto aconteça, aqui vai uma mostra da poesia do grande sátiro baiano seiscentista. Ao falar de sua terra, ele não poupava a hipocrisia reinante nos costumes da então Cidade da Bahia, hoje a capital Salvador. De um de seus poemas recolho os versos que seguem:
Quais são seus doces objetos? - pretos.
Tem outros bens mais maciços? - mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos? - mulatos.
Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo o povo asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário