sexta-feira, 27 de agosto de 2010

II Cariri Cangaço

Na semana que passou estive participando do II Seminário denominado Cariri Cangaço, uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço-SBEC, sob curadoria do pesquisador Manoel Severo, firma-se como um dos mais significativos eventos de debates sobre o fenômeno do cangaço no Nordeste brasileiro e temas afins, entre os quais destacam-se a religiosidade popular e os movimentos de rebeldia do povo.

Subordinado ao tema “Coronéis, beatos e cangaceiros”, o Cariri Cangaço/2010 ensejou a realização de importantes discussões sobre as nuances históricas e culturais que permeiam esses assuntos. Aproximadamente uma centena de pesquisadores, escritores, poetas, jornalistas, professores e cineastas ávidos de informações participaram dos debates realizados nas cidades anfitriãs do Encontro, quais sejam Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha e Aurora.

Além das conferências e palestras proferidas por qualificados especialistas na temática abordada, a comitiva de participantes meteu-se caatinga a dentro, a visitar inóspitos lugares onde Lampião e seu bando protagonizaram suas estripulias; ou onde a religiosidade popular assomou como background de revoltas populares, como é o caso do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, lugar escondido na aridez de socavões de serrotes onde o Beato Zé Lourenço plantou sua semente de utopia e tragicidade.

Todos se deleitaram na audição ou no debate com figuras como o historiador Bosco André, de Missão Velha, um estudioso da sociologia dos coronéis da região; Napoleão Tavares, escritor de nomeada, que se debruça há muito sobre os estudos do cangaceirismo; Lemuel Rodrigues, sociólogo, presidente da SBEC, cuja tese sobre movimentos messiânicos do Nordeste procura demonstrar a irrelevância da identificação desses movimentos com os fundamentos do pensamento marxista revolucionário; Múcio Procópio, estudioso perspicaz do Beato Conselheiro e da saga de Canudos; Antônio Amaury, Honório Medeiros, Alfredo Bonessi, Antônio Vilela, Paulo Gastão, Ivanildo Silveira, Osmiro Barreto, Kydelmir Dantas, Alcino Costa, João de Sousa Lima, Magérbio Lucena, Juliana Ischiara, e tantos outros nomes de não menos importância pontificaram com seus conhecimentos nesse Cariri Cangaço/2010, esquadrinhando gestos, garimpando histórias, relatando fatos que fizeram a epopéia cangaceira no Brasil do final do século XIX e primeira metade do século XX, período da história do Nordeste brasileiro em que assomou a figura do sertanejo Virgulino Ferreira da Silva, cognominado Lampião, que se tornou mundialmente conhecido como o Rei dos Cangaceiros.

O Cariri Cangaço/2010 configurou uma empreitada digna de constar nos anais da história da cultura nordestina, especialmente do Ceará, cujo sucesso se deve, sobretudo, à sensibilidade aliada ao espírito empreendedor do casal Manoel Severo e Danielle Esmeraldo, o qual não mediu esforços para a concretização do evento. É certo que não se pode olvidar o concurso dos demais participantes, em especial dos confrades e confreiras da SBEC, mas, por dever de justiça, já pelo estímulo permanente, já pela ação concreta na feitura do evento, Manoel Severo e Danielle Esmeraldo merecem os louros de mais essa vitória na seara da nossa cultura.

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