segunda-feira, 25 de julho de 2011

Cordel canta a centenária Juazeiro do Meu Padim Ciço

Barros Alves

Nestes dias de festa aniversária fui ter com o povo de Juazeiro do Norte, mais apropriadamente chamada pelos romeiros da Mãe de Deus, Juazeiro do Meu Padim Ciço. A par de rever bons amigos caririenses, como os escritores Renato Casimiro e Daniel Walker, tive o prazer de conhecer outras personalidades das lides literárias caririenses como Raimundo Araújo, cronista de escol que recolheu em livro parte do imenso anedotário da região; e Ivan Magalhães, poeta de verso primoroso que conta em sonetos de rigor bilaquiano a história do Padre Cícero, numa inédita aventura literária e biográfica.

Na noite do dia 19 de julho, com a presença das mais importantes autoridades municipais, a partir do Prefeito Manuel Santana, em solenidade de impecável organização supervisionada pelo escritor José Carlos Santos, também Secretário de Turismo e Desenvolvimento, foram lançadas no auditório do Memorial Padre Cícero, 15 obras que versam sobre a história sócio-econômico-cultural e religiosa da Terra do Meu Padim e sobre o próprio santo do povo nordestino. Algumas reedições de obras esgotadas, outras inéditas; a maior parte de ensaios acadêmicos. A solenidade constituiu um dos momentos grandiosos das festividades comemorativas do centenário de Juazeiro do Padre Cícero, posto que a mais lídima representação do mundo intelectual do Cariri e de Estados nordestinos ali encontrava-se presente.

E como não poderia deixar de ser, presentes estavam pelas suas produções os poetas populares, que em data tão magnificente, colocaram seu estro a serviço da louvação à abençoada Terra do Padre Cícero. A começar pelo decano Abraão Batista, que escreveu “Ao Centenário de Juazeiro”, onde em versos cheios de ufanismo canta a trajetória da cidade realçando a origem mística da urbe:

Juazeiro é um milagre
que por Deus foi apontado
e o Padre Cícero Romão
por Ele foi enviado
fundando nossa cidade
a partir do povoado.

A lembrança da beata protagonista dos “fatos extraordinários” de 1889, os quais ainda hoje dão o que falar ao vulgo, ao clero e à Academia, está presente nos versos do poeta, segundo o qual a religiosa foi grandemente injustiçada pela hierarquia da Igreja Católica:

Maria de Araújo
de onde estás venha ver
a tua cidade santa
no seu grande florescer
“seus cem anos de idade”
também venha conhecer.

José Edmilson Correia, o Zé Mutuca, é outro poeta cordelista que verseja sobre o centenário da metrópole da fé, centro de romarias do Nordeste e cidade mais próspera do Cariri cearense. No folheto “Juazeiro Ontem e Hoje” ele historia:

A cidade de Juazeiro
Fundada por Padim Ciço,
Mais antes do seu início
Vei Padre Pedro Ribeiro,
Descendente do Monteiro,
Leandro o seu avô
Que foi ele quem doou
Terras a Nossa Senhora,
O começo da história
E Juazeiro iniciou.

(...)

A fé e a devoção
Meu Padim Ciço ensinava
E sempre recomendava
Que se fizesse oração,
Quando fazia o sermão
Dava essa disciplina:
- Escute a quem vos ensina,
Não sejam adversário,
Toda casa é um santuário,
Cada casa uma oficina.

(...)

Em Juazeiro do Norte,
Na terra do Meu Padim
Tem coisa boa e tem ruim,
Depende muito é da sorte.
Na luta do dia a dia
Um trabalha outro vadia,
Isso é a pura verdade
Que numa sociedade
Ser tudo igual não podia.

“O Romeiro e sua fé – rumo ao Juazeiro”, conta a “primeira viagem ao Juazeiro, primeira romaria” de Manoel Romeiro, o autor com cujos versos encerro estes despretensiosos comentários. Mesmo sendo a centésima vez que vou ao Juazeiro, é na condição de romeiro que foi ter aos pés do Meu Padim Ciço, no Horto e na Igreja das Dores, que repito o poeta:

Viajei pra Juazeiro
Com fé no meu coração
Fui conhecer a cidade
Do Padre Cícero Romão,
Uma cidade de luz
Onde se adora Jesus
E se faz muita oração.

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