domingo, 8 de outubro de 2017

O DESPUDOR NA PSEUDO-ARTE



Barros Alves

Sou contra a censura prévia de qualquer atividade cultural e artística. Isto, todavia, não significa aceitar o abuso do direito à diversidade. Este, paradoxalmente, é o mesmo discurso daqueles que se assentam em suas ideias e ideais para desrespeitar os valores defendidos pelo outro. Em uma população majoritariamente cristã (católicos, evangélicos e denominações afins), a que se somam islâmicos, testemunhas de Jeová, espíritas etc., uma minoria intenta ditar de forma autoritária e desrespeitosa os seus valores, moralmente condenáveis ao longo de nossa formação sociocultural.
De logo, faço minhas as palavras do extraordinário escritor Leon Tolstói: “Tenho poucas esperanças de que os argumentos que eu estou apresentando sobre a perversão da arte e do gosto em nossa sociedade venham a ser aceitos ou mesmo seriamente discutidos”. E vejam os leitores que a observação do mestre russo foi escrita em 1898, portanto, há mais de cem anos, o que significa dizer que pervertidos sempre os temos entre nós. Todavia, não partilho do desespero do genial romancista quando exclamou certa feita diante dos descalabros de sua época: “É impossível viver deste modo. Impossível, impossível, impossível!” (cf. O QUE É ARTE, Ed. Nova Fronteira, 2ª edição, 2016, págs. 147 e 7, para as citações, respectivamente). Bem ao contrário, urge que nos insurjamos contra a ousadia dos ignorantes, dos pervertidos, dos depravados, dos moralmente corruptos, que intentam impingir à sociedade o império da indecência e do despudor.
Uma polêmica ocupou a mídia nos últimos dias. A exposição “Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”. Tão somente uma polêmica, repito. E apresso-me em me arrimar no que escreveu o poeta Affonso Romano de Sant’Anna em livro sobre arte. Segundo ele, “levantar polêmica não é necessariamente um atributo estético.” (Cf. DESCONSTRUIR DUCHAMP-ARTE NA HORA DA REVISÃO. Ed. Vieira & Lent, 2003, pág. 60). A tal exposição instalada em Porto Alegre, com ter sido uma manifestação de evidente mau gosto artístico, que não encanta, não enleva os sentimentos mais caros do ser humano, muito menos eleva o espírito, constituiu, com efeito, tão-somente uma provocação descabida e grosseira àqueles que pensam diferentemente do modo de ver o mundo dos idealizadores desse evento que confunde arte com excremento.
Ora, a arte como uma atividade humana que expressa esteticamente percepções, emoções e ideias do artista, com vistas a estimular e certamente influenciar o outro, o espectador, claro está que no caso em tela, a “arte” apresentada não passou de expressão desvestida de beleza, isto é da virtude do belo, daquilo que desperta o sentimento do êxtase, da admiração ou prazer pelo bom e pelo justo, posto que como dizia Santo Tomás de Aquino, se é belo é bom e é justo. Imundície visual não tem como ser belo, a não ser para mentes desajustadas. Para além dos relativismos deste mundo pós-verdade, esses iconoclastas de personalidades doentias devem respeitar as maiorias se é que pretendem o devido respeito às minorias.
            A exposição em tela, patrocinada pelo Santander com dinheiro público, via Lei Rouanet, não foi censurada previamente. Ela foi desautorizada pela vontade popular que se manifestou de forma firme e exerceu um princípio básico da democracia, a liberdade de expressão e o direito de protestar. Ou esses pseudo-artistas moralmente desqualificados pensam que só quem tem esse direito são as minorias? Quando em conflito duas ideias ou normas positivas, claro está que o bom senso aconselha a permanência da expressão da vontade da maioria. O Santander compreendeu o seu equívoco e ouviu a voz dos seus clientes e da imensa maioria dos brasileiros.
Por oportuno, lembro o logro que tem sido algumas “obras de arte”, referido em anedota contada na citada obra de Romano de Sant’Anna. Na parede de uma galeria estava exposto um quadro totalmente branco. Embaixo o título da obra: “Travessia do Mar Vermelho pelos judeus”. Alguém perguntou: “Cadê os judeus?” O autor da obra respondeu: “Já passaram.” “E os egípcios?”, insistiu o espectador. “Ainda não chegaram”. A piada dá bem uma ideia da ausência de “simancol” em determinados artistas. Esta situação deprimente levou a comentários de desesperança de um dos nossos mais importantes artistas, Nilo Firmeza, o conhecido Estrigas: “Eles, os novos artistas, querem conseguir tudo com muita rapidez. Dentro dessa rapidez, se esquecem de estudar, de trabalhar, de fazer autocrítica. Hoje em dia eles podem se manter em projeção só às custas da publicidade. Assim vão os artistas de artes plásticas. Esquecem de trabalhar a criatividade e a qualidade, para poder chegar a ter valor.” E arremata o sempre lembrado Estrigas: “Estamos vivendo um momento de decadência. Você não sabe mais o que é arte, então inventa isso. É uma maneira muito cômoda de se embromar.” (Cf. Felipe Araújo, Coluna Sextante, jornal O POVO, edição de 21/01/2006)


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