Barros Alves
Farias Brito, como dito em artigo
anterior, esmerou-se como crítico mordaz no jornal que fez publicar em 1916,
pouco antes de sua morte, em fevereiro 1917. Em “O Panfleto” destilou sua ira
contra literatos, jornalistas e políticos. Se para o filósofo panfletário os
homens de letras que iluminavam a Academia na capital da República no limiar do
século passado, não passavam de uma corja de nulidades, não melhor é a imagem
que fazia dos jornalistas seus contemporâneos da cena carioca. Sua admoestação
vale por um conceito: “Que ninguém se engane: estes senhores jornalistas são de
uma grande soberba.” Acoima-os de grosseiros e prepotentes. Porém,
paradoxalmente, de servis e chantagistas, posto que “se gritam com tanto furor,
o seu objetivo não é senão este: impor-se, pelo medo, aos governos fracos,
extorquir dinheiro ou galgar posições.” A leitura dessa parte do texto britiano
remete, de logo, às reportagens massacrantes contra governos, veiculadas por
grandes órgãos de Imprensa ou telejornais de grande audiência como os da Rede
Globo, que concedem atualidade ímpar à diatribe contida n’“O Panfleto”. Farias
Brito parece estar vendo o Brasil de hoje: “A verdade é esta, desoladora e
triste; e ninguém que seja sincero poderá contestá-la. O certo é que a verba
para a compra de jornais é já, ao que me informam os entendidos nas coisas da
política, uma verba forçada e necessária no orçamento reservado dos governos.”
Acusa a Imprensa da recém-instalada República de cometer verdadeiras monstruosidades,
de querer ser senhora das consciências, de ser protagonista de processos
ditados pela violência, “repugnantes, quando não desalmados e brutais”, no
intento de a tudo vencer “pelo sistema da injúria e da calúnia organizada,
(...) a tal ponto que não fica, em certos casos, muito longe da condição do
bandido quando diz: a bolsa ou a vida.” Furioso, o filósofo que fez publicar a verrina
sob o pseudônimo de Marcos José, refere-se às exceções, diz não pretender fazer
do panfletarismo uma atividade permanente e que a revolta do seu espírito é um
acidente de percurso. Do tiroteio não escapou nem Rui Barbosa, incensado pela
Imprensa. Ele o chama de “pernicioso sofista” dominado por uma vaidade quase
mórbida. Enfim, a imagem que Farias Brito faz de Rui Barbosa é ser o
jurisconsulto um homem de vasto saber, mas de pouca profundidade. E concorda
com Fausto Cardoso, que ao se manifestar sobre o saber de Rui disse: “é um
oceano muito vasto, mas este oceano eu o atravessarei com água pela canela.”
Enfim, FB acha que a grandeza de Rui é mais uma ficção criada pela imprensa.
Acabo dando razão ao filósofo.
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