segunda-feira, 14 de setembro de 2020

MUNDO VELHO SEM PORTEIRA

 Tudo pronto para o fim do mundo: versos irônicos e tradição poética

 Barros Alves

 O mundo anda mesmo desmantelado. Se determinados modos de vida e costumes em todos os segmentos desta sociedade dita pós-moderna deixam muitos de nós escandalizados, imagine-se o que diriam nomes como Oswald Spengler, que escreveu no limiar do século passado o clássico “A Decadência do Ocidente”; ou mais para cá, nos anos 1980, com Allan Bloom, “scholar” da Universidade de Chicago, identificando a crise na sociedade a partir da crise na universidade, na obra “O Declínio da Cultura Ocidental.” Spengler constata as tragédias humanas, a formação e decadência do mundo ocidental, mas não lamenta. Bloom constata e lamenta a nossa desgraça e faz contundente crítica da contradição entre o que tradicionalmente prega a esquerda e o que pratica. Prática que inevitavelmente contribui para o declínio da família, “a qual servia de intermediária entre o indivíduo e a sociedade.”

Nesse contexto de discursos coletivistas com práticas individualistas de segregação e rapinagem, mergulha também, infelizmente, com todos os malefícios advindos da postura de “aggiornamento” e abertura para acolher o mundo sem modificá-lo, uma das instituições mais respeitáveis, por sua ação históirica e pelo sentido sagrado que carrega, a Igreja. O escritor A. Balbach, olhando para os relatos bíblicos sobre os descaminhos da sociedade que retrata, faz a devida analogia: “Atualmente testemunhamos uma situação semelhante à daquele tempo(...) As igrejas cristãs em geral caíram espiritualmente. A verdadeira religião, o Cristianismo, que consiste na piedade prática, na fé vivificada pela estrita obediência aos preceitos da Palavra de Deus, trocam esses ensinamentos por um sistema de formalidades mortas.”

São Pio X, cuja grandeza como homem e como pastor não cabe restrição, pôs o dedo na ferida: “Fautores do erro já não devem ser procurados entre inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se, destarte, tanto mais nocivos quanto menos percebidos.” Quando leio a Carta Encíclica “Pascendi Dominici Gregis” (1907) desse glorioso Pontífice e vejo os descaminhos da Igreja sob o pontificado do argentino Bergoglio, vejo o quanto andamos silentes porque, talvez, espiritualmente desarmados. São Pio XI, alerta para os inimigos da Igreja, que a partir do seu seio, ¨tramam perniciosos conselhos, e por isso é por assim dizer, nas próprias veias e entranhas dela que se acha o perigo tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles conhecem (...) e, sendo ousados como o que mais o são, não há consequências de que se amedrontem e que não aceitem com obstinação e sem escrúpulos. Acrescente-se-lhes ainda, coisa aptíssima para enganar o ânimo alheio, uma operosidade incansável, uma assídua e vigorosa aplicação a todo o ramo de estudos e, o mais das vezes, a fama de uma vida austera.”

Temos diante de nossos olhos exemplos a demonstrarem  que estão a ser cumpridas as profecias de São Pio X e as previsões de Spengler e Bloom. Aos cristãos resta o enfrentamento com destemor contra as forças demoníacas que muitas vezes apresentam-se-nos como “anjo de luz.” E compreender o momento igualmente ao apóstolo Paulo no seu tempo, quando aconselhou: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12.2).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário