quarta-feira, 14 de abril de 2010

Para se desendoidecer

"Hem? Hem? O que mais penso testo e explico: todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara de loucura.. No geral! Isso é que é a salvação da alma... Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio...Uma só, para mim, é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde Matias é crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me suspende..."

O belo texto acima, uma reflexão de práxis teológica, pertence ao falar de Riobaldo, a grande personagem de Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas", obra-prima da literatura universal.

Eu ando quieto nos pagos católicos, depois que me embrenhei em vários caminhos da transcendência. Mas, já me vesti de Riobaldo em termos de religião. Não é inconstância. É sede de Deus. Como diz os irmãos do Islã, só Deus é grande. Às vezes queremos alcançá-Lo, abarcá-Lo. Em vão! Senti-Lo apenas - e só isto já é muito - é o que mais podemos.

Um comentário:

  1. Sr. Barros Alves,
    Não tenha dúvidas quanto a minha admiração no que se refere a sua intensa sede de DEUS. Tomara que isso se estenda aos seus amados filhos que são a sua continuidade: carne da sua carne, sangue do seu sangue. Oxalá também eles sejam assim!
    Um forte abraço!!

    ResponderExcluir