quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Discurso de agradecimento




Ao receber o Título de Cidadão Honorário do Município de Cedro, em solenidade da Câmara de Vereadores, que ocorreu no Auditório do Instituto Federal de Educação, em Cedro, pronunciei o discurso que transcrevo abaixo:

Depois de quase um decênio de ausência, retorno a Cedro em momento particularmente gratificante para mim, quando, sob o pálio desta Casa Legislativa, santuário da democracia representativa do Poder Local, tenho a honra de receber esta distinta homenagem que dignifica qualquer pessoa que ama a terra que o acolheu desde tenra idade.
Para mim esta honraria constitui motivo de orgulho que enseja gratidão plena. Não aquele orgulho próprio dos jactanciosos onde a pretensão da honra eleva-se acima do merecimento. Ao contrário, nutre-me nesta hora aquele orgulho ditado pela certeza de que pouco me fiz merecedor de tão grata homenagem e se ora me é concedida, é justo em razão da bondade dos ilustres vereadores, em extensão meus companheiros de labuta política cotidiana, artesãos do servir.
Com efeito, a Arte Política nada mais é do que o exercício diário do serviço à coletividade, que os senhores e senhoras que integram esta Casa e ilustram a história do povo cedrense, conhecem em profundidade e a exercem com maestria. E quem por desvios de conduta ou de personalidade não age dentro dos parâmetros ético-filosóficos da Ciência Política certamente não está a exercitar a Política enquanto governo da Pólis, da cidade, como nos legou o ensinamento grego, qual seja o de que a Política deve constituir, sobretudo e necessariamente, a busca de mecanismos e procedimentos institucionais que visem tão-somente o bem-estar da sociedade.
Assiste, pois, inteira razão ao maior de todos os nossos políticos em todos os tempos, Rui Barbosa. Em discurso pronunciado no Senado Federal, em 1910, o inexcedível tribuno discorreu com precisão cirúrgica sobre a Alta e a baixa Política. Assim ele se expressou:
“A Política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a Política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A Política é a higiene dos países moralmente sadios; a politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.”
A tradição política de Cedro é respeitável e insere-se nos parâmetros da Alta Política. Disto temos exemplos notórios em que ao longo de nossa história pontificaram nomes que exerceram seu mister político com descortino, com diplomacia e, sobretudo, com a disposição para o diálogo, para o consenso, para a união e convergência de ações que buscam o bem comum, os elevados interesses da coletividade.
Na história política de Cedro não houve, não há e jamais devemos permitir que haja lugar para os individualismos estéreis ou as arrogâncias que dividem. E se houver paixões, natural sentimento que aflora nos momentos de embates políticos, que sejam efêmeros, passageiros como as nuvens dos nossos céus nas noites de verão.
Entre homens de boa vontade, passadas as refregas eleitorais, assentada a poeira dos palanques, acalmados os mares revoltos das disputas, retornam todos à placidez do diálogo perene e produtivo, sempre tendo como objetivo essencial o bem maior da coletividade. Isto é o que caracteriza o exercício desta Arte maravilhosa que também é Ciência, a Política.
As observações que faço, não as faço em tom professoral, porque sou apenas um eterno estudante. É que em face das obrigações profissionais como Assessor Parlamentar na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará eu me esforço para praticar a Alta Política no dia-a-dia da minha atividade, mesmo reconhecendo os inúmeros óbices que temos para arrostar ao longo da caminhada. Tendo exercido o cargo de vereador, também sou conhecedor de que todos e cada um dos que se assentam nesta Casa Legislativa, bem como em todas casas legislativas deste país, esforçam-se à saciedade para atender a contento os reclamos e demandas da sociedade.
Este exercício cotidiano é que me fez ser radicalmente defensor da adoção do sistema parlamentarista de governo no Brasil, porque entendo ser o sistema presidencialista um dos males que nos foi imposto pela República copiada dos moldes norte-americanos, onde o poder executivo em todas as instâncias tem a força das monarquias absolutistas. Basta lembrarmos que todas as nações modernas do mundo são parlamentaristas; os EUA são a única nação que se tornou potência e que adota o sistema presidencialista de governo, o que se caracteriza como uma exceção e não como regra.
Por final, uma palavra de gratidão.
A Deus, por me haver trazido dos adustos sertões da Mombaça e ter feito de Cedro meu aconchego e abrigo; partidário do pensamento pascaliano e jansenista, creio firmemente nos desígnios fatalistas e insondáveis do Criador;
A todos quantos ao longo de minha infância e juventude deram-me apoio decisivo para que pudesse sedimentar em bases sólidas a formação do caráter, arrimado em esteios morais, espirituais e intelectuais da melhor estirpe;
Ao povo cedrense que sempre teve para comigo o sorriso largo, o abraço afetuoso, o gesto amigo e fraterno;
Meu agradecimento especial à ilustre Vereadora Ana Nilma, autora da proposição que me concedeu esta honraria, em nome de quem apresento minha sincera gratidão a todos os seus pares nesta Casa.
Enfim, honrado e gratificado, reafirmo neste instante solene a disposição de cerrar fileiras com todos os senhores e senhoras, representantes fidedignos do povo cedrense, nesta luta ingente, mas reconfortante, em busca de desenvolvimento e grandeza para esta terra que tanto amo.
Muito obrigado.

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