Na minha opinião, o grande mérito do poeta Rogaciano Leite foi ter um pé no popular outro erudito. O ouvido na cantoria e o coração no soneto, forma poética que abraçou de forma magistral, chegando mesmo ao extremo de fazer sonetos de improviso em suas palestras e conferências. Coisa de bom repentista que progrediu nas letras, como o mestre Dimas Batista, que também tinha essa facilidade espantosa com a métrica e com rima. Herdeiro de Castro Alves, Rogaciano nunca negou o seu amor pelo cordel e a cantoria, buscando sempre aproximar-se dos verdadeiros poetas do povo. Um de seus amigos pessoais foi o genial Cego Aderaldo, com quem realizou diversas cantorias. Os apologistas de cantoria contam duas cenas bem interessantes a esse respeito. Na primeira delas, Rogaciano censura o mestre por haver criado mais de 20 filhos alheios e nunca ter casado (o cego precisava de guias e para tanto recrutava crianças abandonadas, os primeiros meninos de rua do Ceará). Após ouvir a provocação de Rogaciano, Aderaldo saiu-se com esta:
De casar tive o desejo
Essa vontade eu não nego
Mas com minha experiência
Batata quente eu não pego
Passam chifre em quem tem vista
Que dirá em quem é cego!
A segunda... Rogaciano disse, numa estrofe, que Aderaldo era um velho muito besta. O cego vingou-se dessa maneira:
Andei procurando um besta
Porém um besta capaz
E procurando esse besta
Encontrei esse rapaz
Mas não serve pra ser besta
Porque é besta demais!
Essa era a forte ligação de Rogaciano com a poesia popular, sua grande paixão.
E a criatividade, por onde anda? - Por Carlos Eduardo Esmeraldo
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Tenho o costume de entrar no carro e ligar imediatamente o rádio. E o que
ouço? Músicas antigas dos decênios de 1950, 1960, 1970 e até 1980
regravadas por...
Há 9 anos
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