Marcos Nobre
A estratégia parecia boa.
Lula usou sua enorme popularidade para antecipar a disputa presidencial em mais de dois anos e impor uma candidata e uma estratégia em que a eleição seria um plebiscito sobre seu governo.
Não deu certo. Essa estratégia só teria chance de funcionar em um confronto direto e único. E esse cenário já não existe: Ciro veio para ficar. Ainda assim, Lula continua insistindo na mesma estratégia.
Quer agora selar o quanto antes o apoio do PMDB. E tenta neutralizar Ciro.
No final, Lula pagou e vai continuar a pagar um preço extorsivo pelo apoio do PMDB. Conseguirá essa aliança. E a candidatura Dilma será abandonada pelo PMDB assim que começar a patinar.
A lógica tradicional do sistema político se impôs. Conforme o calendário de Brasília, só um ano antes da eleição o quadro sucessório começa a ficar um pouco mais claro. A fidelidade partidária virou piada: nem precisou do disfarce de uma reforma política. Como poças depois da chuva, aparecem as legendas-estacionamento, com políticos esperando o desfecho para aderir à candidatura vencedora.
Enquanto o PT conseguiu apenas filiações simbólicas -como as do empresário Ivo Rosset e do ministro Celso Amorim-, o PSB atuou como se já estivesse fazendo coalizões de governo. Ignorou os desdobramentos da Operação Castelo de Areia da PF, que envolveu seu mais novo filiado, Paulo Skaf.
Não tomou conhecimento das críticas generalizadas à atuação do ex-secretário da Educação Gabriel Chalita.
Esse contraste fica ainda mais dramático quando se vê que Lula perde a cada dia o poder de influenciar as sucessões estaduais. Com a consolidação da candidatura de Ciro, os palanques estaduais vão se pulverizar. A lógica do cada um por si vai acabar se impondo.
Até seis meses atrás, Dilma teve chances de conseguir que Ciro fosse candidato a vice em sua chapa.
Hoje, pode no máximo pretender ser vice de Ciro. Porque Ciro reconheceu o óbvio: que o candidato da oposição é favorito. E Ciro é o autêntico anti-Serra. Tem muito mais legitimidade que Dilma para fazer o confronto no campo do governo FHC, que é para onde pretende levar Serra.
Ninguém tem a mais remota ideia de onde estava Dilma durante o governo FHC. Ciro esteve na posição chave de ministro da Fazenda no final do governo Itamar. E foi crítico do governo FHC durante oito anos. Dado seu estilo, sua defesa do governo Lula no confronto com o governo FHC terá ares de confronto histórico. E, no final, não vai restar a Lula outra opção que não a de aderir à candidatura de seu ex-ministro. (Folha de São Paulo, de hoje)
nobre.a2@uol.com.br
E a criatividade, por onde anda? - Por Carlos Eduardo Esmeraldo
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Tenho o costume de entrar no carro e ligar imediatamente o rádio. E o que
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Há 9 anos
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