quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Recife nos tempos de Leandro Gomes de Barros









Arievaldo Viana

Até 1906, o poeta Leandro Gomes de Barros residiu na rua da Colônia em Jaboatão, conforme atestam os seus folhetos desse período. No ano seguinte muda-se com a família para o Recife e passa e residir inicialmente no Beco do Souza, nº 3, o primeiro de muitos endereços que teria na capital pernambucana. Ao que tudo indica, o poeta sempre morou em casas alugadas, daí a constante mudança de endereços. Aos 4 de novembro de 1908 Leandro lança o folheto “O Recife”, (Typ. do Jornal de Recife), onde faz uma descrição minuciosa da cidade que o acolheu. O texto demonstra uma apurada pesquisa de alguém que já estava habituado com o dia-a-dia da capital pernambucano há mais de 20 anos, pois era ali que imprimia suas obras desde o longínquo ano de 1889, ano em que iniciou suas atividades como poeta-editor e folheteiro. Dá notícia das linhas ferroviárias onde revendia seus folhetos e fala das principais linhas de bonde dizendo o percurso das mesmas e a cor da tabuleta de identificação de cada veículo:
“Agora o leitor querendo
Uma viagem asseada,
Tomemos ali um bonde
Da tabuleta encarnada,
Vamos até Madalena
Localidade Falada.

Ou tomemos o que tem
Tabuleta amarelaça,
Que é Fernandes Vieira
Este vai até a Graça
Aí a linha termina
Até agora não passa.

O da tabuleta branca
Vai a Estação Central,
Também tem branca o que vai
Do Brum para o hospital,
A de Afogados é verde
De Caxias e de Herval.

Segundo informa Eustórgio Vanderley, Leandro também revendia os seus folhetos no interior dos trens que saiam da Estação do Largo de Cinco Pontas. Leandro descreve essas linhas numa estrofe magristral:

Temos três trens muito extensos
Que seguem da capital
Um segue para Alagoas,
E outro para Natal
Termina a linha em Pesqueira
Outro que sai da Central.

Neste mesmo folheto, Leandro informa que, por essa época, haviam 15 tipografias no Recife, estabelecimentos vitais para o exercício de sua atividade de poeta-editor e folheteiro, uma vez que utilizou-se do serviço de várias delas:
Tem quinze tipografias
Aqui nesta capital,
Tem o Jornal do Recife,
A imprensa Industrial
Leão do Norte, A Província,
Correio e Pequeno Jornal.

Nessa época o poeta ainda não havia adquirido seu pequeno prelo manual que deu origem À Tipografia Perseverança, que funcionava na Rua do Alecrim 38-E, em Recife. Esse prelo foi vendido a Francisco das Chagas Batista. Segundo a pesquisadora Ruth Brito Lêmos Terra, Leandro queria iniciar os filhos pequenos no ofício de tipógrafo, mas eles "brincavam mais do que trabalhavam".

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