segunda-feira, 7 de novembro de 2022

OS PAPAS E O COMUNISMO parte 8

                                                                                             

Barros Alves

 

            Neste espaço me foi dado apresentar um sem número de declarações e documentos papais, nos quais os pontífices católicos verberam o comunismo, acoimando a doutrina marxista como materialista e anticristã, portanto nefanda, nefasta, miserável, desagregadora da família e da sociedade, entre outras adjetivações dadas pelos Papas. Desde o pontificado de Pio IX até os dias atuais a Igreja permanece retilínea no conceito que faz do socialismo/comunismo. Entre os Papas que mais escreveram sobre essa “doutrina intrinsecamente má”, inscreve-se o Papa Pio XI, tendo Pio XII sido peremptório mais que todos ao fazer editar Decreto da Congregação para a Doutrina da Fé em que se define como pecado passível de excomunhão “Latae Sententiae” (automática) todo o católico que se filiar ou apoiar qualquer ação de partido comunista.

            Todavia, foi São João Paulo II quem, ao tempo de seu longo pontificado de 26 anos, mais contribuiu para a queda do chamado socialismo real, desempenhando um papel decisivo para destruir o comunismo soviético e desfazer os tentáculos da grande Peste que infelicitava todos os países do Leste europeu, inclusive a Polônia, terra natal do então Cardeal Karol Wojtyla. Quando seminarista, Wojtyla sofrera na pele as perseguições e volências do governo comunista, títere de Moscou, que fechava seminários e igrejas, matava padres, cometia as maiores atrocidades com o fito de extirpar a religiosidade do povo polonês. Ele próprio estudou em um seminário clandestino. Dessa experiência em face do terrorismo comunista em sua Pátria, é que nasceu no jovem padre forjado na luta contra o cerceamento das liberdades, o desejo de lutar contra o demoníaco regime político vermelho. E, sobretudo, a firmeza e a intrepidez com que desenvolveu essa luta durante toda a sua vida. Deus, sumamente providente, presenteou-o com o cargo de mais importante na hierarquia eclesiástica da Igreja Católica, provendo-o de meios que o levaram como um anjo da fé, ao sucesso da empreitada de Deus contra o diabo.

            São João Paulo II foi homem de ação na luta contra o comunismo. Na seara eclesial quanto na política, não mediu esforços para unir forças em favor da libertação dos povos dominados pelos ditadores comunistas, em especial a sua querida Polônia. Todos os biógrafos de João Paulo II e historiadores modernos são unânimes em reconhecer que sem a presença do polonês Karol Wojtyla na Cátedra de São Pedro, dificilmente teria o comunismo se desmilingüido como ocorreu em quase todo o mundo, um verdadeiro milagre. Ele dizia que “as coisas más devem ser sobrepujadas pela bondade.” Entre as coisas más do mundo ele incluía o comunismo: “Os métodos comunistas são contrários à Igreja. O comunismo impõe concepções materialistas às pessoas e tortura a Nação.” Disposto a enfrentar os ditadores comunistas, o “Papa do País Distante” repetia aos seus interlocutores que os comunistas “não tinham o menor respeito pela verdade” e lembrava que na então URSS, por exemplo, cabeça do comunismo internacional, “qualquer pessoa que admitisse abertamente ser crente, não podia lecionar, fazer carreira nas Forças Armadas ou ocupar um cargo no Partido Comunista.”

            Logo que assumiu o comando da Igreja Católica, São João Paulo II viu que um de seus piores inimigos estava dentro de casa: a famigerada Teologia da Libertação, cuja ação deletéria e herética se realizava em especial nos países da América Latina. Estava incrustada nas Conferências episcopais e, sobretudo, no Conselho Episcopal Latino Americano, organismo que congregava todas as Conferências nacionais. O presidente do Conselho na época era o Cardeal brasileiro Aloísio Lorscheider, arcebispo metropolitano de Fortaleza, Ceará. Para se contrapor à militância comunista de Lorscheider apresentava-se o Cardeal mexicano Alfonso López Trujillo, então secretário-geral do CELAM, radicalmente contrário à TdL.  Trujillo insistiu para que João Paulo II visitasse o México. Convite aceito. Primeira viagem das inúmeras que realizou na sua peregrinação de Chefe da Igreja. Hora de colocar os pingos nos is nessa história de igreja revolucionária. Logo em vôo, o Papa falou à Imprensa: “Temos que começar a estudar o socialismo e as versões dele. Por exemplo, o socialismo ateu que é incompatível com os princípios cristãos, com a visão cristã do mundo, com os direitos do homem, com a moralidade, não seria uma solução aceitável.”

            No México, em preleção aos bispos, o sorridente Papa fechou a carranca e condenou com veemência quaisquer revisões dos Evangelhos: “Precisamos manter vigilância sobre a pureza da doutrina. Eles (teólogos da Libertação) se esforçam por mostrar Jesus como politicamente engajado, como alguém que lutou contra a dominação romana e os poderosos, na realidade como alguém envolvido na luta de classes. Essa noção de um Jesus político, um revolucionário, o subversivo de Nazaré, não se harmoniza com os ensinamentos da Igreja.” E prosseguiu o João Paulo II sem hesitação diante de centenas de bispos, a maioria partidários da TdL: “A Igreja não tem necessidade de recorrer a sistemas e ideologias a fim de amar, defender e fazer sua parte para a libertação do homem. A Igreja encontra em sua própria mensagem a inspiração para trabalhar pela fraternidade, justiça e paz contra todas as formas de dominação, escravidão, discriminação, contra a violência, os ataques à liberdade religiosa e os atos de agressão contra o homem e a vida humana.” E sem rodeios, de forma cortante: “A Teologia da Libertação não é uma verdadeira teologia. Ela deturpa o verdadeiro sentido do Evangelho. Conduz os que se deram a Deus para longe do papel verdadeiro que a Igreja lhes atribuiu. Quando começam a utilizar meios políticos, deixam de ser teólogos.”

Esse homem “extraordinário, culto e corajoso”, no conceito da diplomata Jeanne Kirkpatrick, embaixadora dos EUA junto à ONU, era “uma espécie de figura destemida, que tinha demonstrado tais qualidades e estava de fato engajado contra o controle soviético da Europa. Com efeito, o Papa João Paulo II, hoje elevado à glória dos altares, iluminado pela divina Providência, arrostou todos os obstáculos e contribuiu decisivamente para a queda do comunismo no mundo. Ele não foi apenas um homem que teorizou contra a Maldade marxista, como na Encíclica “Laborem Exercens”, toda dedicada à questão do trabalho e na qual o Papa reivindica limites claros e precisos em defesa da propriedade privada como condição “sine qua non” para uma democracia. “Laborem Exercens” constitui um “manifesto do trabalhador inspirado no cristianismo em vez de no marxismo.” Mas, João Paulo II foi, de maneira grandiosa, um homem de ação, incansável no combate aos comunistas, cujo caráter essencialmente destruidor das sociedades livres, ele bem conhecia. Havia sofrido na pele as desgraças implantadas em um país comunista.

Diante de tudo o que sabemos da ação desse santo contra todo o tipo de socialismo/comunismo, não há erro ao afirmar que os católicos que escolhem o caminho da aceitação a governos de viés marxista, estão em desobediência à Igreja e a Deus. Dizer que há marxismo cristão, socialismo cristão e outros arremedos vocabulares, não cabe sequer nas conceituações da Ciência Política, quanto mais na Teologia cristã católica. Igreja Católica e marxismo não se imiscuem, não se unem jamais; ao contrário, se excluem naturalmente, por que os caminhos de uma são a Verdade e a vida; o outro trilha as sendas da mentira, da violência e do erro.

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