segunda-feira, 7 de novembro de 2022

OS PAPAS E O COMUNISMO parte 9

                                                                                                

Barros Alves

            O Cardeal Joseph Ratzinger sempre foi um homem tão discreto quanto inteligente e de uma fidelidade extraordinária à Igreja, manifestando essa virtude por intermédio de suas declarações e ações em defesa da Revelação, da Escritura Sagrada e da Tradição, ou seja, da transcendentalidade da Igreja Católica, Mater et Magistra, de caráter divino e, apesar de formada por seres humanos, não passível de ser comparada com organizações humanas de viés social e político. Ratzinger é também um teólogo extraordinário, um “scholar”, um cientista da fé, que deu sustentação ao corpo doutrinário da Igreja na condição de principal conselheiro do Papa São João Paulo II e presidente da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Igualmente seu antecessor sofreu as atrocidades do nazismo e, no pós-guerra viu sua Pátria, a Alemanha, ser dividida por um muro em Berlim, construído pela violência dos comunistas que dominaram a Alemanha Oriental, somente reunificada na década de 1990 quando a população derrubou a picaretas o muro da vergonha.

            A experiência dolorosa com os nazistas e comunistas fez com que Ratzinger se transformasse em um soldado de Cristo com a espada sempre desembainhada no combate aos regimes totalitários. Na trajetória eclesiástica alcançou o comando da Igreja tendo sido escolhido pontífice sucessor de São João Paulo II, contra a vontade dos partidários da Teologia da Libertação, que lhe pregaram a pecha de conservador e tradicionalista, como se essa adjetivação demérito fosse. Firme na fé apostólica, Bento XVI tentou governar a Igreja tendo como fundamento apenas e tão-somente os princípios evangélicos. Para tanto ousou resgatar as luzes magisteriais da Igreja, quase apagadas pelo que surgiu do “aggiornamento” preparado pelo Concílio Vaticano II, do qual participou, tendo convivido com os protagonistas do grande Encontro ecumênico.

            Os agentes comunistas que atuam dentro e fora da Igreja, que ocupam cargos de poder e mando em organizações pertencentes à Igreja, aparelhando-as para os seus nefastos desígnios, jamais perdoaram a ação saneadora do Cardeal Ratzinger quando ele dirigiu a Congregação para a Defesa da Fé, e chamou às rédeas teólogos desviados como o brasileiro Leonardo Boff e o suíço Hans Küng. Eleito Papa com o nome de Bento XVI, a mídia internacional não deixou de criar narrativas falaciosas, fake news e até calúnias contra o Pontífice que almejava trazer a Igreja de volta aos trilhos da missão evangélica e à liderança universal do mundo, sem concessões modernistas tão ao gosto do aparelhamento litúrgico pós-conciliar, o que configura uma ação militante diária e impertinente da dita “Igreja progressista.” Ora, a maldosa propaganda contra Bento XVI, que inda hoje o acoima até de nazista, em razão de suas posições contra os abusos dos padres e teólogos da herética Teologia da Libertação, essa propaganda jamais levou em consideração, por exemplo, que sob sua liderança foi criado o Pontifício Conselho da Nova Evangelização, base institucional no Vaticano para uma evangelização nos tempos modernos e o aprofundamento do diálogo interreligioso; pela primeira vez na História da Igreja, um muçulmano foi aceito como professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, onde ensina o Corão; sob o pontificado de Bento XVI foram criadas possibilidades de outras comunidades, como a anglicana, viverem sua tradição dentro da Igreja Católica. Esses gestos de abertura e paz, com os quais eu nem concordo, foram adotados como uma mão estendida por Bento XVI. Mão que foi cortada pelos “progressistas” até chegar à deposição do Santo Padre. Hoje Bento XVI vive sua velhice em confinamento no Vaticano, enquanto a Igreja desliza para abismos imperscrutáveis. Mas, temos certeza de que somente os heréticos cairão no despenhadeiro, porque para a verdadeira Igreja continuam vivas as palavras do Cristo: as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela.

            Bento XVI escreveu uma literatura cristã firme, serena, fiel ao Evangelho de Cristo e à Igreja. Jamais descuido da condenação dos regimes totalitários, com ênfase para o pior de todos, o socialismo/comunismo que dividiu e infelicitou sua Pátria meio século. Doutrina que insiste em desviar prelados católicos, levando-os a confundir missão evangélica para a salvação dos pobres e do mundo, com militância revolucionária que incentiva uma falsa “opção preferencial pelos pobres” e só contribui para a divisão e a violência na sociedade, cujo fim último é o poder temporal, quando todo cristão sabe que o reino de Cristo não é deste mundo. São Paulo escreveu que “o mundo jaz no maligno.” E é certo que forças poderosas se unem para fazer o jogo da intriga, da inveja, da mentira e, travestidas de cordeiros, são lobos vorazes. O Reverendo Robert A. Sirico, ao comentar a ação saneadora de Bento XVI, chama a atenção para o fato de que “a ideologia socialista parece ter resistido intacta ao colapso do experimento comunista”, experimento desastroso, que causou fome e miséria em grandes nações como a Rússia e continua a disseminar a desgraça em países da América Latina. Ao lembrar o pensamento satânico de Marx e outros, Sirico complementa: “A história está repleta de intelectuais que imaginaram poder salvar o mundo e como resultado criaram o inferno na terra.”

            A crise de fidelidade às tradições da Igreja, em especial por parte de padres e bispos partidários da TdL, alguns com cargos de alta visibilidade na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB (um sindicato), remete-nos ao pensamento de Ratzinger, contido no livro “A Fé em Crise? –O Cardeal Ratzinger se Interroga”, no qual ele faz aguda crítica às conferências episcopais e chama os bispos a exercerem poder pessoal com a coragem de um verdadeiro apóstolo do Cristianismo. Ele lembra que já na década de 1930 os documentos radicalmente antinazistas eram assinados por bispos corajosos, de forma individual; por seu lado, os documentos oficiais da conferência de bispos alemães eram muito diplomáticos, até delicados com o totalitarismo que ia aos poucos se assenhoreando do poder. Qualquer semelhança com a atitude da CNBB diante da ditadura da toga já implantada no Brasil, claramente a serviço de personalidades anticristãs e anticatólicas, não é mera coincidência.

            Pensamento e ação de Ratzinger não deixam dúvida quanto a sua condenação formal e direta não apenas às experiências reais de governos marxistas, mas sobretudo, enquanto filósofo e teólogo, o Papa Bento XVI faz a crítica da ação sorrateira daqueles que dentro ou fora da Igreja, em todo o mundo, quais reptéis peçonhentos vão inoculando o veneno de suas paixões anticristãs na sociedade. “A religião não pode ser subordinada a uma finalidade prático-política, que acaba se tornando seu próprio ídolo.” Lembrando uma viagem que fez ao Brasil com outros padres e teólogos  na década de 1960, em face da observação da pobreza reinante em nosso país, Ratzinger diz que naquele momento  já havia “uma tentação de transformar o Cristianismo num moralismo, o moralismo numa política, substituir o crer pelo fazer”. Eram os primórdios da Teologia da Libertação, a tentação de “dispensar Cristo, de prescindir de Deus, porque há urgências mais prementes; temos primeiro de mudar as estruturas, as coisas externas, temos primeiro que melhorar a Terra, para depois poder reencontrar o Céu”. É o “pára-quedas de chumbo” proposto para os cristãos e que muitos têm aceitado usá-lo.  Para isto embarcam em canoas furadas que nada têm a ver com as verdadeiras Boas Novas de libertação.   (Cf. “Bento XVI – Quetões de Fé, Ética e Pensamento na Obra de Joseph Ratzinger, de Dag Tessore. Editora Claridade, 2005; “Bento XVI, o Último Testamento, um conversa com Peter Sewald”. Editora Planeta, 2017, entre outros).

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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