domingo, 12 de outubro de 2025

"UFC 70 Anos - Um Livro e Pouca Ética" – Por Cândido Albuquerque

                                                                                  

 

Li, com um misto de tristeza e indignação, o livro “UFC 70 Anos – Biografia de uma Universidade”, escrito por Lira Neto. Nenhuma surpresa. O livro dedica um capítulo de ofensas a mim, embora ele jamais tenha me ouvido. Talvez tenha sido mais fácil assim: escrever apenas as narrativas que os seus contratantes (caneta de aluguel?) queriam ver publicadas.

O conteúdo, injurioso e inverídico, que o autoproclamado biógrafo faz constar sobre mim e sobre fatos de minha gestão à frente da Universidade Federal do Ceará demonstra pouco respeito pela verdade em um livro de memória histórica.

Em nenhum momento o autor me procurou para ouvir a minha versão, violando, assim, o princípio elementar de qualquer trabalho biográfico sério: a busca da verdade. Optou, ao que tudo indica, por reproduzir narrativas distorcidas e convenientes aos interesses de quem o contratou, transformando o livro em um instrumento de ataque pessoal e desinformação.

O texto dedica a mim um capítulo inteiro de injúrias, adjetivações e falsas acusações. Cito, a título de exemplo, três inverdades - ao mesmo tempo - graves e tolas:

1. Afirma o autor que, ao assumir a Reitoria, eu teria passado a despachar na Casa José de Alencar e no Instituto de Ciências do Mar (Labomar). Tal afirmação é absolutamente falsa. Trata-se de um delírio! Em quatro anos de gestão como Reitor da UFC, estive no Labomar poucas vezes, não mais do que três, jamais tendo utilizado o local como gabinete. Despachei na Casa José de Alencar por apenas 12 dias.

2. Alega o autor que o professor Gilmar de Carvalho teria se recusado a receber das minhas mãos o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela UFC. Também é mentira. O Estatuto da Universidade Federal do Ceará não autoriza a concessão desse título a professores aposentados. O título correto seria o de “Professor Emérito”, o que esclareci à época, propondo a correção da outorga e a designação de data. Expliquei que o título de Doutor Honoris Causa é destinado ao reconhecimento de pessoas da sociedade com trajetória relevante para a Universidade e para a comunidade. O referido professor, insatisfeito e revoltado com a necessária adequação, optou por manifestar publicamente sua discordância, afirmando que não receberia o título das minhas mãos. E não receberia mesmo, já que eu não o concederia. A alegação de que teria “renunciado ao título” é igualmente falsa, pois o título em questão sequer existia legalmente. Ele não poderia renunciar ao que nunca teve, já que o título simplesmente não existia estatutariamente.

3. O autor afirma, ainda, que eu teria exposto o histórico escolar de um estudante que não aceitei como representante do movimento estudantil nos conselhos da universidade. Essa acusação é igualmente desprovida de veracidade. Desde 2017 o Diretório Central dos Estudantes (DCE) não realizava eleições regulares, e um pequeno grupo se autoproclamava representante. O aluno em questão, cujo nome não revelarei por respeito à privacidade, encontrava-se há 28 anos como aluno da UFC, tendo passado por cinco cursos diferentes sem concluir sequer 20% de qualquer deles, situação que justificava, na verdade, seu desligamento, em respeito ao erário e à moralidade administrativa. Em seguida, propus, em reunião com o Ministério Público Federal, a realização de uma eleição livre e justa, iniciativa que o grupo recusou. Assim, permaneceram, naturalmente, sem representação nos colegiados, circunstância ignorada pelo “trapézio literário” do Lira Neto.

Esses três exemplos bastam para demonstrar a falta de imparcialidade, rigor ético e jornalístico do pseudo-biógrafo, que preferiu a conveniência à verdade, como fazem mesmo os escritores fabricados pela esquerda caviar, comprometendo a credibilidade de uma obra que deveria celebrar a trajetória da universidade, e não servir de palco para ofensas pessoais.

Lamento profundamente que um projeto editorial em homenagem à UFC, custeado com recursos públicos, tenha sido utilizado para difundir mentiras e ataques gratuitos, em detrimento da história institucional e da ética profissional. O autor jamais teve a hombridade de buscar esclarecimentos, limitando-se a reproduzir versões tendenciosas e ofensivas. Deixou de informar, por exemplo, que quando assumi a Reitoria a UFC tinha 65 anos e apenas uma patente, e quatro anos depois contava com 47 patentes. Omitiu a maior ação de inclusão digital da UFC, realizada em 2021 e 2022, quando todos - todos - os alunos passaram a ter acesso ao mundo virtual. Conclui várias obras paralisadas desde 2007, herdadas do finado Reuni. O objetivo do livro, percebe-se, é apenas me atacar!

Da atual administração, a qual, em 02 anos, nada fez, além de transformar a UFC na lixeira do Governo do Ceará, para onde foram destinadas obras abandonadas, estado no qual continuam, pouco ou nada podia ser dito, além de narrativas militantes.

Reafirmo, por fim, que as informações publicadas são falsas e reservo-me o direito de adotar as medidas cabíveis (vale à pena?) para resguardar a verdade dos fatos, em respeito à comunidade universitária e à sociedade cearense.

No mais, continuarei firme em minhas convicções e não me deixarei abalar por ataques rasteiros de figuras afeitas a conveniências financeiras e hábitos noturnos.


 *Cândido Albuquerque é advogado, professor e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará-UFC 

 

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