quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

A POESIA ILUMINADA DE MÁRCIO CATUNDA

 

            Barros Alves

           Diz-se que o Ceará tem o maior número de poetas por metro quadrado do planeta. Poetas ou arremedo de poetas? Na verdade, poetas que têm engenho, arte e substância própria da linguagem poética temos poucos. Só uma quantidade mínima nos oferece a palavra pejada de sensibilidade e apelo emocional, que nos conduz ao ânimo da leitura por nos impor uma intimidade com o espírito criativo que vai além de versificação sensaborona.  Entre os bons poetas da minha geração inscreve-se Márcio Catunda, cuja produção não requer encômios porque, mercê da qualidade, de si mesma dá bom testemunho a quantos têm oportunidade de lê-la. Poeta que sabe agraciar com gestos afetivos o efêmero e o eterno, o que escreve é um ato de contemplação a todos os mundos, visíveis e invisíveis. Ali a imanência do mistério ganha harmonia e significação para o leitor que busca o êxtase dos silêncios, lugar onde a embriaguez pela palavra-arte faz mais sentido.

Em todos os seus livros de poesia Márcio Catunda salmodia com a placidez dos monges e com o fervor de juvenis encantos, num misto de confissão sacral e profana, que estabelece uma harmonia entre vivência aparentemente díspares. As coisas, as mulheres, os mares e navegares, as distâncias e as pertinências entre os seres humanos, as angústias e pesares, as alegrias e sonhos imensos, as melodias, os cantos e lamentos no tropel dos dias sobre esse mundo vário e incompreensível, ganham performance e obrigação de ser compreendido no frêmito da dança criativa e nas muitas tonalidades da expressão poética de Márcio Catunda. Aprecio essa “vagabundagem lírica” (“Vagabundagem Lírica” é título de poema que está em “Dias Insólitos”, 2018) do poeta de raízes litorâneas, marítimas, viajeiras, acarauenses. Porque, ele bem o diz, “o vagabundo lírico/ inventa o ofício de sentir a beleza” e mesmo vivendo os descaminhos do caótico cotidiano, “é inebriado de experiências metafísicas.”

Márcio Catunda que inscreve seu nome no cancioneiro cearense e brasileiro com esplendor de sol, alia à condição de privilegiado das musas, a capacidade de escrever uma prosa assentada na segurança de quem domina o vernáculo com correção, para expressar seu pensamento sobre pessoas e fatos do cenário literário em vários tempos e lugares, daquém e dalém, conhecidos e desconhecidos, lembrados e esquecidos, como diria o poeta Otacílio Colares. Diplomata de carreira, poliglota e viajor em razão do ofício, Catunda conheceu várias culturas e visitou lugares em que viveram grandes nomes da literatura universal, sobretudo na França. Eis a inspiração para que escrevesse uma coletânea de ensaios da melhor lavra, a qual intitulou “Paris e seus Poetas Visionários”, obra que nada fica a dever a nomes como Emil Ludwig, com os famosos ensaios histórico-biográficos; nem a Henry Thomas e Dana Lee Thomas, com “Vidas de Grandes Poetas”, nem a Raimundo de Menezes, com as biografias de “Tragédias que não Foram Escritas”; nem a José Paulo Paes, com os escorços biográficos de “Os Poetas”. Poeta e prosador de inegáveis méritos, digno de nossa admiração e louvor, Márcio Catunda é sobretudo o homem discreto, largo coração, alma generosa. E, para gáudio dos cearenses, é nosso conterrâneo. Que, aliás, está entre nós para lançar mais um livro, “Nuvens e Sobras”, evento que ocorrerá no Ideal clube de Fortaleza, às 19 horas da próxima quinta-feira, 18/01. É a Confraria do Vento que convida e, como disse o Mestre, “o vento sopra onde quer.”

   

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