NA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BIBLIÓFILOS

  

 

Barros Alves

 

Em agradável encontro de amantes dos livros (5/12/2023), sob o pálio da Associação Brasileira de Bibliófilos-ABBi, fui recebido na confraria presidida pelo escritor José Augusto Bezerra, para ali assentar-me como um deles. Adentrei pela mão da secretária, escritora Regina Fiúza, gentil dama que sabe do amor borgeano que tenho pelos livros, tanto quanto aqueles que ali pontificam desde a fundação da entidade, há 38 anos. Dei-me conta de estar entre amigos, os quais se destacam como verdadeiros guardiões de rico patrimônio bibliográfico, esteja ele em bibliotecas privadas ou públicas. Até porque a maioria de nós pertence a sodalícios culturais com missão de preservar a cultura, e sendo a escrita, sobretudo em forma de livro, instrumento primordial para a sustentação dos nossos mais caros valores culturais, nada mais natural que nos desvelemos no prazeroso mister de cuidar desses repositórios de saber. E o fazemos por mania, por vício, com gosto e com fé.

Os livros conversam conosco. Sorriem alegres, choram entristecidos; clamam, protestam, acalentam, acariciam nossos sonhos e aguçam nossa imaginação. Às vezes sinceros, são profetas que alertam; outras, tergiversam, desconversam, ludibriam. Livros inventam mil histórias e cantam mil canções. Fazem a paz e declaram a guerra. Alguns tem ares santos, outros são notórios pecadores. Anunciam alvoreceres e crepúsculos. Ou noites tenebrosas, tempestades. Mas, importante é que nunca nos abandonam. São sempre dignos de nossa amizade. Por isso em um livrinho de poemas que escrevi em 1988 expressei o meu sentimento a respeito deles em dois poemetos que ora transcrevo:

 

Livros

 

Quando a noite atravessa em meu caminho,

silenciosa, às vezes triste,

sempre terna,

lapido na memória os instrumentos

feitos de palavras

que redimem...

 

Livros II

 

Eles murmuram sobre mim

e se lamentam,

beijam-me, às vezes sorriem,

outras choram.

Renascem como as alvas madrugadas,

pluralizam-se como mil auroras...

 

É claro que entre bibliófilos a conversa gira em torno de livros. Por ocasião da minha posse na ABBi não foi diferente. Em clima de confraternização natalina, fomos todos mimados com exemplares de obras assinadas por autores cearenses, alguns presentes ao evento. Entre os livros que recebi destaco a Revista SCRIPTORIUM, décimo número, correspondente ao ano de 2023. É nela que os bibliófilos da ABBi expressam o pensamento a respeito da seara que cultivam. SCRIPTORIUM é editada pelo ex-governador Lúcio Alcântara, intelectual de nomeada e reconhecidamente qualificado para tarefas deste jaez. Dr. Não apenas enquanto editor Lúcio realiza extraordinário trabalho. Mas, tem sido estimulador e patrocinador de edição de obras raras no mercado, desde os tempos em que exerceu o cargo de prefeito de Fortaleza, quando em parceria com a Academia Cearense de Letras resgatou os jornais O PÃO, da Padaria Espiritual, enfeixando-os em livro. No Senado realizou trabalho editorial grandioso.

Nesta edição de SCRIPTORIUM o leitor vai ler textos assinados por bibliófilos que com serem exímios na arte de escrever, assomam também como bons leitores e conhecedores dos meandros dos livros. Desfilam nas páginas da revista os seguintes nomes: Regina Pamplona Fiúza, que discorre sobre a Padaria Espiritual em “O Espírito permanece 130 anos depois”; Adriano Augusto Gomes Filho, “O impressor andarilho e a sua prensa poética: um esboço biográfico de Manuel Segalá”; André Bastos Gurgel, “O Latim está morto?”; Seridião Correia Montenegro, “Escrita, Origens e Evolução”; Alexei Bueno, “Cinco Poemas para Bibliófilos”; Ângelo Osmiro Barreto, “A Bibliografia do Cangaço de 1876 a 1940”; Ingrid Schwamborn, “Como traduzir Iracema nos dias de hoje”; Filomeno Moraes, “Luzes sobre o senador Alencar, o constituinte material”; Tales M. de Sá Cavalcante, “Crônica, o belo gênero breve”; Alberto Farias, “Eu e os meus livros”. Virgílio Maia comparece com três poemas e ilustrados pela sua musa, Côca Torquato.