quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Desfazendo enganos - III

Arievaldo Viana

Desfeito o engano, passarei agora a responder o seu questionário.

1- Em que a Literatura de Cordel poderá contribuir na formação das nossas crianças?

R – Na década de 70 do século recém findo, o jornalista e editor Ivan Maurício (Editora Coqueiro, de Recife) perguntou ao grande educador Paulo Freire qual o melhor instrumento para alfabetizar crianças, jovens e adultos. A resposta de Freire teria sido a seguinte, segundo Ivan Maurício: “O melhor meio de alfabetizar é a literatura de cordel, porque a rima e o ritmo cadenciado dos folhetos ajudam a memorizar as idéias e transmitir conhecimento. Antes dele, o escritor Gustavo Barroso, em sua obra “Ao som da viola”, de 1929, afirma que “na Grécia antiga, o ensino das crianças começava pela poesia, por ser o meio mais fácil de guardar de memória. Dessa maneira, as crianças aprendiam história, geografia e a sua própria língua através dos poemas dos seus rapsodos.” Eu, particularmente, tive a graça de ser alfabetizado a partir da leitura de folhetos, com o valioso auxílio de minha avó paterna. Milhares de crianças nordestinas tiveram situação similar em sua infância. Diante disso, acredito que o cordel continua sendo uma poderosa ferramenta de auxílio à Educação.

2-Quanto à introdução do cordel nas escolas de outras regiões, como recurso pedagógico, não seria um risco para o aprendizado das crianças?

R – Eu não entendo porque isso poderia representar um risco. Há mais de dez anos venho mantendo uma verdadeira cruzada, levando o folheto de cordel para diversas escolas em vários estados brasileiros. A receptividade é ótima. As crianças se sentem estimuladas a conhecer cada vez mais essa curiosa forma literária e adquirem, com isso, o gosto da leitura. Já cheguei em estados, como o Tocantins, por exemplo, onde não havia a tradição do cordel, mas 90% das crianças conheciam o personagem João Grilo, do Auto da Compadecida. João Grilo, como todos sabem, é um dos personagens mais famosos do cordel. Os outros folhetos que serviram de suporte à obra de Ariano foram “O cavalo que defecava dinheiro” e “O testamento do cachorro”. A arte de contar estórias de forma rimada, com versos metrificados e oração cadenciada, encanta as pessoas de qualquer parte do planeta. Não é uma particularidade da região Nordeste do Brasil. Para você ter uma idéia mais clara do que falo, a primeira vez que li o “Conde de Monte Cristo” e “Romeu e Julieta” foram em versões rimadas feitas pelo cordelista João Martins de Athayde. “Iracema”, de José de Alencar, eu também conheci através de uma canção de Cezanildo Lima, um cantador de Canindé-CE. Depois li o folheto de Alfredo Pessoa de Lima, cuja linguagem é belíssima. Só muito tempo depois é que conheci a obra de José Alencar na sua versão original.

3- Esta introdução não deveria passar antes por uma revisão e uma adaptação para que as crianças não tenham dificuldades no entendimento do texto e problemas na aprendizagem?

R – Eu não recomendo a poesia de Patativa do Assaré nem de qualquer outro poeta matuto para alunos em processo de alfabetização. Quem leu meu livro “Acorda Cordel” sabe disso. Tenho o cuidado de levar para sala de aula obras adequadas à realidade escolar. Meu cordel “A ambição de Macbeth e a maldade feminina”, adaptação de uma obra de Shakespeare, publicado pela Editora Cortez e adotado pelo MEC, no PNBE 2009, já está adaptado às novas regras ortográficas da Língua Portuguesa. Naturalmente, que um poeta da dimensão de Patativa precisa ser conhecido nos meios escolares, mas isso ficaria para alunos do Ensino Médio, ou mesmo do Ensino Superior, pois sua obra, apesar dos “erros de gramática”, contém uma forte dose de sociologia e filosofia, que a torna universal.

4- Como você vê uma aula de cordel em uma escola de São Paulo por exemplo? A professora teria que preparar uma aula de leitura e uma de tradução?

R – Eu deixaria essa resposta para Marco Haurélio, Varneci, Moreira de Acopiara e outros poetas que residem e trabalham em São Paulo. Minha área de atuação é sobretudo o Nordeste, berço da Literatura de Cordel, embora tenha tido experiências bem sucedidas em escolas do Tocantins, Rio de Janeiro, Brasília e Minas Gerais. É claro que o público precisa ser preparado, principalmente o professor ou arte-educador que se dispõe a trabalhar com o cordel. Para tanto, elaboramos um ‘kit” composto de um livro, um CD e uma caixa de folhetos que explica passo a passo as origens, as regras e o valor da poesia popular como instrumento auxiliar na educação. O que me aborrece é o preconceito de alguns acadêmicos e também a desinformação de outros, aliada à uma forte dose de má vontade, que sempre pegam o que há de pior nesse tipo de literatura para servir de embasamento para suas teorias contra o uso do cordel nas escolas.

É por isso que recomendo sempre a leitura dos grandes clássicos: Pavão Misterioso, Proezas de João Grilo, Donzela Teodora, Soldado Jogador, Martírios de Genoveva... textos que têm suas raízes nas “Mil e uma noites”, no “Decamerão”, no “Livro de Carlos Magno e os 12 pares de França” etc. Mas o uso do cordel em classe não pode ficar restrito a esses autores do passado. Temos grandes expoentes na atualidade, criando novas histórias ou fazendo adaptações de grandes clássicos da Literatura Universal, que são perfeitamente encaixáveis em qualquer grade curricular.

5- Ao invés de livros específicos, não bastaria editar os cordéis, as poesias dentro dos livros de língua portuguesa / literatura utilizados pelas escolas, com os respectivos créditos?

R = O chamado “Cordelivro” deu mais dignidade ao autor de cordel, tão explorado ao longo dos séculos, tanto pelos autores da chamada literatura erudita, quanto por roteiristas de cinema e até mesmo por astros da chamada MPB, que se utilizam de seus textos e não pagam um centavo de direito de autoral. Ainda hoje os cordelistas são vítimas desses espertalhões, que julgam a cultura popular coisa de “domínio público”. Por isso a publicação dos textos num suporte que possa competir de igual para igual com outros textos é fundamental.

CORDEL NO FORMATO DE LIVRO

1- Essa mudança não seria uma fuga das tradições seculares do cordel ou é uma evolução natural?

R – De maneira alguma. Quando Leandro Gomes de Barros começou a editar seus folhetos de maneira sistemática utilizou o que havia de mais moderno em sua época, em matéria de impressão. Valeu-se, por exemplo, das oficinas tipográficas do Jornal do Commercio, em Recife, ou da tipografia da Livraria Francesa. João Martins de Athayde, seu sucessor, procurou utilizar maquinário mais moderno, passou a utilizar clichês em zincogravura com fotos de artistas de cinema e reprodução de cartões postais. A partir da década de 1950, a editora Prelúdio, antecessora da Editora Luzeiro, de São Paulo, passou a utilizar a policromia na capa dos folhetos, que passaram a ter um formato diferenciado do cordel nordestino. Não podemos ver o cordel como uma cultura engessada, uma peça folclórica. O cordel, como qualquer outra forma de arte viva, precisa se reciclar, recriar novas formas de apresentação. O que não pode deixar de ser observado são as regras poéticas. Nesse sentido, sou radical. Cordel, como dizia Manuel Diegues Jr., é poesia popular narrativa impressa. Veja bem, para ser poesia, o cordel deve obedecer regras pertinentes a seu gênero. Um soneto só é um soneto se tiver dois quartetos e dois tercetos rimados. Seja ele de Olavo Bilac, Cruz e Sousa, Alberto de Oliveira ou Glauco Mattoso. Aliás, convém ressaltar que Glauco é um dos maiores sonetistas da língua portuguesa! O cordel tem que seguir a escola dos mestres, dos fundadores dessa escola literária. Portanto, tem que ser poesia popular narrativa, com métrica, rima e oração. A forma gráfica com que se apresenta, esta sim, precisa evoluir. Porque não? Temos a consciência de que, para despertar o interesse das novas gerações, habituadas com livros coloridos, televisão, cinema, internet etc, é preciso ter uma apresentação gráfica mais agradável. É por isso que tenho buscado constantemente o suporte de ilustradores como Jô Oliveira, um nordestino da Ilha de Itamaracá-PE, que utiliza uma simbiose da xilogravura com os bonecos de Mestre Vitalino e consegue resultados magníficos em suas ilustrações. Estamos no caminho certo, a fórmula já é um sucesso.

2- Esta mudança brutal não seria preconceito pela coisa simples?

R = Em primeiro lugar, a mudança não é brutal. Procuramos respeitar os elementos básicos do cordel, inclusive na ilustração. Não desprezamos a forma tradicional. As duas formas convivem de forma pacífica e harmoniosa na mesma banca de folhetos, seja nas feiras ou nas livrarias. O público é quem vai optar por esta ou por aquela forma gráfica. Tem gente que gosta das duas formas, sem problemas. Recentemente participei de uma oficina sobre xilogravura, linoleogravura e gravura em metal, no Centro de Cultura Dragão do Mar, coordenada pelo artista plástico Eduardo Eloy. Folheamos livros do século XVI, na seção de livros raros da Biblioteca Menezes Pimentel, em Fortaleza, para conhecermos a evolução da gravura e da impressão através dos tempos, até chegarmos ao linotipo e ao off-set. Existem gravuras feitas na pedra (litogravuras) que superam certas impressões dos dias atuais. Um artista que se preza deve conhecer a fundo a história de sua arte e as maneiras como ela se portou ao longo dos tempos e de que maneira pode evoluir. Mas, evoluir com coerência, buscando se adequar às exigências de sua época sem perder a essência, o referencial. Na maioria das escolas, o folheto tradicional, com capa em xilogravura, é tão bem aceito quanto o cordelivro. O problema é que, quando acontecem as chamadas compras governamentais (por parte do MEC, Estados ou prefeituras), eles preferem um material mais sofisticado, com ISBN, biografia do autor, papel de melhor qualidade etc. Não vamos lutar contra isso. Um cordelivro certamente terá vida mais longa numa biblioteca (ou cordelteca). Centenas de alunos irão manuseá-lo e ele permanecerá em bom estado, diferente do folheto, impresso em papel jornal, que é um objeto frágil e se descaracteriza com o manuseio excessivo.

3- Trata-se apenas de evolução natural ou envolve questões financeiras?

R = Olha, o folheto no seu formato tradicional é mais fácil de ser usurpado. Os autores são lesados com mais facilidade. O cara mal intencionado pega um livreto desses, acha que o autor é analfabeto, desinformado e se apropria do seu texto ou da sua essência, transpõe para outras linguagens (cinema, teatro, música) e fica tudo por isso mesmo. Um cordel editado em forma de cordelivro impõe respeito. Ninguém vai ter coragem de passar a mão numa obra que tem ISBN, copyright, o escambau. O autor sai ganhando com isso e os editores também. Mas não é uma questão meramente mercadológica. É uma necessidade de sair do gueto, da marginalidade e ser firmar como um grande ramo da nossa literatura. O cordel é isso tudo. O começo de tudo, a gênesis da cultura brasileira e universal.

4 - Estão pensando na divulgação desta cultura, no incentivo à leitura, em conquistarem novos mercados, novos públicos ou apenas ampliarem as vendas?

R = No meu caso específico eu lhe diria que existem meios de ganhar dinheiro muito mais fácil e mais rápido do que andar com uma mala de folhetos na cabeça, de escola em escola. Trabalho em outras áreas, como a publicidade e a ilustração de livros e tenho ganho muito mais dinheiro com isso. A questão não é mercadológica. Quem abraça o cordel e se dedica a divulgá-lo tem um compromisso com essa arte, com a sua importância como ferramenta auxiliar na educação. No início do século XX, o Nordeste tinha a maior população de analfabetos deste país, no entanto foi o período em que o Nordestino mais leu. Sabem porque digo isso... Nesse tempo, as maiores editoras de cordel estavam no seu apogeu. Uma edição do “Cachorro dos Mortos” ou do “Pavão Misterioso” saia, no mínimo, com 50, ou 100 mil exemplares. E o povo consumia, sem nenhuma interferência governamental. Havia famílias de 20, 30 pessoas, que tinha apenas uma pessoa alfabetizada. Apenas um sabia ler e fazia essa leitura em voz alta. Mas naquela família, todos eram consumidores de folhetos, todos compravam, porque a leitura era coletiva. Divertia e instruía. Sou membro de uma dessas famílias e sou leitor de folhetos desde os sete anos de idade. Minha relação com o cordel é uma paixão, uma realização pessoal e não um meio de ganhar dinheiro.

5 - O que dizem e o que pensam os cordelistas tradicionais? Eles são favoráveis a estas mudanças?

R – Eu me considero um cordelista tradicional. Eu leio folhetos desde os sete anos de idade, eu aprendi com os mestres Leandro Gomes de Barros, Manoel Camilo dos Santos, José Camelo de Melo e José Pacheco. Eu não admito que o camarada faça um verso desmetrificado, utilize uma rima errada proposital ou inconscientemente ou crie um roteiro sem pé nem cabeça, sem uma seqüência lógica e diga que é cordel. Nesse sentido, tenho até arranjado alguns desafetos, porque sou sincero na hora de criticar. O que tenho de dizer, digo abertamente, doa a quem doer. Estou concluindo uma biografia de Leandro Gomes de Barros, o maior expoente da Literatura de Cordel e tenho grandes laços de amizade com Mestre Azulão, Costa Leite, Antônio Américo de Medeiros, Antônio Alves da Silva e outros “dinossauros” ainda vivos dessa literatura. Nenhum deles me censura por digitar um cordel no computador e imprimir em off-set, com capa colorida. Quem faz críticas nesse sentido são pesquisadores desinformados, pessoas que se limitam a teses acadêmicas de escritório, sem fazer uma pesquisa de campo coerente e profunda. São as mesmas pessoas que elegem Patativa do Assaré como o “maior cordelista” de todos os tempos, ou seja, pessoas que não sabem, sequer, diferenciar um CORDEL LEGÍTIMO de um POEMA MATUTO.

ADAPTAÇÃO DE CLÁSSICOS DA LITERATURA

1- Como acontecem essas adaptações? É uma idéia das editoras ou dos cordelistas?

R – Um dos primeiros folhetos que se tem notícia no Brasil é “Batalha de Oliveiros com Ferrabrás”, de Leandro Gomes de Barros, adaptado a partir do livro de Carlos Magno. Do mesmo ciclo, encontramos “Donzela Teodora”, “A vida de Pedro Cem”, “Martírios de Genoveva” etc. etc. Obras lidas e relidas na Península Ibérica que ganharam versões aqui no Brasil. Câmara Cascudo tratou muito bem desse assunto em sua obra “Cinco livros do povo”. Chagas Batista, contemporâneo de Leandro, fez uma versão da Escrava Isaura. Sua filha, Maria das Neves, mãe do grande folclorista Altymar Pimentel, fez uma adaptação do “Corcunda de Notre-Dame”. Athayde, como já disse, adaptou obras da literatura universal (Romeu e Julieta, Conde de Monte Cristo) e até mesmo do cinema (O estudante que vendeu a alma ao diabo). Todas essas adaptações que acabei de citar foram feitas no final do século XIX e início do século XX. Estou adaptando, por exemplo, um dos “Contos de Cantuária”, que originalmente eram em versos, depois foram transportados para prosa e agora voltam para o “cordel”. Eu não admito imposições na minha maneira de criar. Se faço adaptações de antigos contos populares ou de obras da literatura universal (ou clássicos da literatura brasileira) é porque me identifico com as mesmas e vejo nelas traços de uma boa narrativa. Sabem porque Paulo Coelho é um fenômeno de vendas? Porque sabe contar estórias que encantam as pessoas. Coisas que provêm de velhos arquétipos, de antigas fontes, mas que são sempre recontadas de maneira diferentes. É o tempero do adaptador que faz a diferença... Essa é a fórmula. Se eu me proponho a recontar uma história em cordel, vou buscar elementos que agradem a meu público, sem fugir da essência da narrativa original. Às vezes transponho um antigo tema lá das Arábias para o Nordeste do Brasil sem perder a essência da narrativa. Desta mesma maneira trabalharam os mestres do passado e trabalham poetas como Marco Haurélio, Rouxinol, Klévisson Viana, Evaristo Geraldo, só para citar alguns..

2- Como se dá o direito autoral? O detentor dos direitos recebem pela adaptação?

R – Sou muito cuidadoso com essa questão do Direito Autoral. Essas obras antigas, de Shakespeare, de Giovanni Bocáccio, de Chaucer, de José de Alencar e Machado de Assis já são de domínio público. Não é o caso, por exemplo de Manoel Camilo dos Santos, autor de “Viagem a São Saruê”, que morreu um dia desses. Leandro Gomes de Barros fez “Uma viagem ao céu”, que é considerada por pesquisadores, como o saudoso Ribamar Lopes, a verdadeira matriz de São Saruê. O segredo da coisa é que Camilo soube contar a mesma narrativa de maneira diferente. Colocou outros elementos, outros personagens e contou uma história com carcaterísticas similares. São segredos que um poeta aprende lendo e praticando. Eu leio Leandro Gomes de Barros e José Camelo de Melo com o mesmo prazer e reverência com que leio Gregório de Mattos Guerra e Castro Alves. Nunca fiz distinção entre os chamados “eruditos” e os “populares”.

3- Essas adaptações não distorcem essas obras já consagradas?

R – Em alguns casos sim. Depende de que faz a adaptação. Isso pode acontecer também com o cinema, a televisão, o teatro... Cada autor coloca sua visão. Se não for talentoso, com certeza vai produzir distorções.

4- Não seria uma forma de “pegar carona” em algo que já é sucesso, ganhar fama e dinheiro em cima de uma idéia de um outro autor?

R = Se fôssemos ver a coisa por esse ângulo, eu diria que Ednardo e Dias Gomes pegaram carona no Pavão Misterioso para produzir a música e a novela Saramandaia. O cordel já era um fenômeno de vendas. Diria também que Ariano pegou carona no sucesso de Leandro Gomes de Barros e João Ferreira de Lima para produzir o “Auto da Compadecida”. Não se trata disso, em absoluto. As belas histórias existem e possuem velhas matrizes, antigos arquétipos que vem do tempo da tataravó da Carochinha. Talento possui um Hans Christian Andersen, um Gonçalo Fernandes Trancoso ou os famosos Irmãos Grimm, que têm talento para reconta-las, a sua maneira. Nisto, os cordelistas são mestres. Sabem contar e recontar histórias como ninguém.

5- Esses cordelistas estão atravessando uma crise de falta de criatividade, as idéias estão se esgotando? Não conseguem criar obras próprias?

R – Tenho mais de cem folhetos publicados no formato tradicional e cinco cordelivros, três dos quais adotados pelo MEC. A maioria dessas histórias são originais, como é o caso de “Namoro de um menestrel com uma lagartixa”, “Visita de Satanás a um baile funk”, “Namoro de uma velha pela internet”, ‘A caveira do ET encontrada em Quixadá”, “Jerônimo e Paulina ou o prêmio da bravura, etc. etc. Criatividade não me falta. Nem a mim, nem aos poetas contemporâneos citados nessa entrevista. Se fosse necessário (e não precisássemos de outras atividades para sobreviver) seríamos capazes de criar uma história nova a cada semana. A questão das adaptações é tão antiga quanto a própria história da literatura de cordel. Assim como o cordel utiliza velhas matrizes, a literatura “erudita” se apropria de temas do cordel. O fato de Jorge Amado ser considerado um autor maior e Rouxinol do Rinaré ser considerado um autor popular reside na forma como as elites enxergam as coisas. Leio a obra de ambos sem distinção. Querem saber de uma coisa, bem sincera... Gosto mais da poesia e do humor de Leandro Gomes de Barros e das canções de Oliveira de Panellas do que da poesia de um Paulo Leminski ou da música de um Caetano Veloso. Isso é uma questão de gosto, não se discute.

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