quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Literatura de Cordel na Escola

A propósito de comentário sobre a introdução da Literatura de Cordel na escola, projeto idealizado pelo Poeta Arievaldo Viana, em que o Sr. João Pereira, Diretor da Revista Direcional Educador,apresenta uma distorcida do que seja, de fato, Literatura de Cordel, Arievaldo escreveu as observações que seguem e que são por demais pertinentes:

"A nossa poesia popular difundida, sobretudo, através dos chamados folhetos de feira, também chamada de Literatura de Cordel, é herdeira direta do trovadorismo medieval. Foram os trovadores portugueses, a partir da publicação de suas gestas e poemas, que deram forma às bases da nossa Língua Portuguesa. Eu costumo dizer que o TROVADORISMO seria o tronco de uma árvore gigantesca, de onde surgiram vários ramos distintos: Cantoria, Literatura de Cordel, Embolada, Coco de praia, coco de embolada, aboio, calango, cururu, trova gaúcha, poesia matuta e até o rap, lá na pontinha dos galhos, com o mais novo broto dessa árvore gigantesca.

Por favor, não confunda LITERATURA DE CORDEL com POESIA MATUTA. São ramos bem diferentes, com particularidades bem distintas. A chamada poesia matuta é uma invenção de Catulo da Paixão Cearense, que ganhou alguns adeptos e tem como expoentes as figuras do próprio Catulo, Zé da Luz, José Laurentino, Luiz Campos e Patativa do Assaré. Muitas vezes, tais poetas forçam a barra nas suas criações, para conseguir uma rima. Caso dessa estrofe de Patativa:

Eu nasci no Ceará
A terra de Juvená,
Sim, de Juvená Galeno
Um poeta, aquele gêno
O maior dos trovadô...
(...)
Ainda tô do mermo jeito
Que Juvená me deixo.


Veja bem, um poeta cordelista, o verdadeiro poeta de bancada, jamais rimaria CEARÁ com JUVENAL, GALENO com GÊNIO ou TROVADOR com DEIXOU. Observe as obras de Leandro Gomes de Barros, de José Camelo de Melo ou de José Pacheco, só para citar alguns. O verdadeiro poeta de cordel só escreve uma palavra de forma errada, quando desconhece a maneira correta de escrevê-la.

É por isso que eu digo, na abertura do meu livro “ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA”


Para quem ama o cordel
porém só vê poesia
nessa linguagem matuta
“pru quê”, “pru mode”, “pru via”,
tendo o sertão como tema
pode esquecer meu poema
bater noutra freguesia.


Como poeta utilizo
Métrica, rima e oração
Pois o cordel sendo usado
Para a alfabetização
Não pode ensinar errado
Nem pode ser embalado
Nas plumas da erudição.

Patativa do Assaré é um caso sui generis. Apesar de ter produzido 90% de sua obra na linguagem matuta, também fazia Literatura de Cordel obedecendo as regras gramaticais, com texto fiel às normas do vernáculo. E também fazia sonetos, sem qualquer deformação da nossa linguagem. Portanto vamos acabar de uma vez por todas com essa história de que cordel é escrito em linguagem errada, porque isso é uma grande mentira. Desde os tempos de LEANDRO GOMES DE BARROS, o maior expoente do gênero, considerado um dos fundadores dessa escola literária no Brasil, os chamados poetas de bancada ou cordelistas buscam aperfeiçoar a linguagem dentro da norma culta. Veja por exemplo o caso de João Martins de Athayde, José Camelo de Melo, Manoel Camilo dos Santos, Manoel Monteiro, Gonçalo Ferreira da Silva e, mais recentemente, os poetas da nova geração onde se destacam Marco Haurélio, Varneci Nascimento, Klévisson Viana, Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana, Moreira de Acopiara e Antônio Francisco.

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