A poesia em estilo popular que segue, cuja autoria pertence ao Poeta Francisco Rangel de Sousa, retrata de modo disperso momentos da vida no local chamado São João e adjacências, nos confins da Mombaça, onde nasci. O último verso diz respeito exatamente a mim.
Falando de coisa antiga
O assunto é muito vasto,
Do São João pra Santa Bárbara
Muito tempo já foi gasto,
Mas, conversando com o povo
Sempre surge um fato novo
Em riba do mesmo rasto.
Lembro da cabra Crioula
E do jumento Cacau,
Do pé de rosa papoula
Que nós tinha no quintal,
São coisas que se acabaram
Mas as lembranças ficaram
Pra quem reside atual.
Lembro da cuia marimba
E da cantareira de pau,
Da ladeira da cacimba
E da lata de botar sal
Lembro a Tereza Leonarda,
Meu pai com sua espingarda
Mais o finado Gonçal.
A oiticica do Honório
E o poço do Chico Paes,
Do véio Mané Tidoro
Dele eu me lembro demais,
Chico Cazuzinha bebo,
A Sílvia pedindo sebo
E Ercílio medindo gás.
Tinha pé de cajarana
De galho verde e linheiro,
Foi vovô mais vovó Joana
Que plantou lá no terreiro,
Hoje vive derreado
Porque já está cansado
De viver tanto janeiro.
Tinha a casa de vovô
Onde morou mais vovó,
Chamada casa de taipa
Feita de barro e cipó
Era onde vovô guardava
Arroz, feijão, milho e fava
Na pucumã do paió.
Padim Dedé se casou-se,
No tempo das porcelonas
Finada Antônia acabou-se
Ti Chico foi pro Amazonas,
Lá ele viveu no mato,
Voltou tirando retrato,
Zezim cobrindo poltronas.
No ano de 36
João Casemiro chegou,
Teve atrito com os Chicos
Por causa de um bebedô,
Aí rasgaram a peteca...
Cazuza e Chico Cazeca
Eram amigos de vovô
Dona Chiquinha de Quadros
Que no São João residia
É quem rezava novena
Com vovó e minhas tia,
E da Lagoa do Retiro
Vinha Mané Casemiro
E o véi Vicente Jeria.
A imburana de espim
Tava no pé do serrote
No tempo de Sarafim
De Franskim Gome e Timote.
O véio Anizo era fraco,
Lembro a Naninha Macaco
E a mãe do Pedro Capote.
Vovô fumava um canão,
Vovó fumava cigarro,
Ele tinha a tradição
De falar alto e dar esparro.
Escola não existia
Tia Tereza sofria
Pra educar Chico Barro.
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